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Entrevista: Cerveja artesanal latina resgata a riqueza cultural do continente

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Presidente da Copa Cervezas de América, um dos 10 maiores concursos do mundo, Daniel Trivelli vê mercado latino com otimismo

A escolha não é simples. O folclore de Violeta Parra, a expressividade de Mercedes Sosa ou a bossa de Tom Jobim? Ou, quem sabe, o cosmopolitismo de Jorge Luis Borges, a contemporaneidade de Roberto Bolaño, o regionalismo de Guimarães Rosa, o engajamento de Eduardo Galeano ou a magia de Juan Rulfo e Gabriel García Márquez? E, ainda, por que não, o Santos de Pelé, o Atlético Nacional de Higuita ou o Boca Juniors de Riquelme?

São tantos elementos constitutivos da monumental cultura latino-americana que estabelecer um elemento unificador – ou mesmo definir preferências aleatórias – figura como total heresia. Uma coisa, porém, é certa: em meio à tamanha riqueza, o termo “ou” necessariamente precisa ser substituído pelo “e”. Pois é nessa dinâmica de união, de somatória, que também vem se construindo a cerveja artesanal na América Latina.

Um mercado, aliás, que está em festa. Mais importante competição cervejeira da América Latina, a Copa Cervezas de América começou nesta semana em Santiago, no Chile, com a promessa de desenvolver ainda mais a cerveja artesanal no continente.

O concurso ocorrerá paralelamente à Semana Cervejeira de Santiago, terá seus campeões revelados no sábado e recebeu a inscrição de 1600 rótulos de mais de 350 cervejarias de 18 países. E, para entender melhor não só a competição, mas também o mercado latino de artesanais, o Guia da Cerveja realizou uma entrevista com Daniel Trivelli, presidente da Copa Cervezas de América.

Daniel se demonstra bastante entusiasmado com o momento do setor. Apontando que o mercado cresce a taxas interessantes, especialmente no Brasil, na Argentina, no Chile e no México, o presidente do concurso destaca a riqueza cultural e o potencial da artesanal latina.

“Existem muitas cervejarias que resgatam ou refletem essa tradição cultural, gastronômica e simbólica dos países da América Latina. No entanto, mais que ressaltar exemplos, acredito que o importante é mencionar a importância desse resgate da riqueza cultural que temos nos países latino-americanos.”

Vale destacar, também, nesta entrevista exclusiva, a avaliação sobre os elementos que unificam esse mercado – a aproximação com as cervejas norte-americanas ao mesmo tempo em que se busca o desenvolvimento de estilos ligados à cultura local – e sobre a importância do concurso para o desenvolvimento do setor.

Confira, a seguir, a entrevista completa com Daniel Trivelli, presidente da Copa Cervezas de América.

Como você avalia hoje o mercado de cervejas artesanais na América Latina?
É um mercado efervescente, muito ativo, com taxas de crescimento muito interessantes. Poderia dizer que na América Latina quatro países têm uma grande relevância no mercado da cerveja artesanal, cada um com seu próprio mérito (Brasil, Argentina, Chile e México). (…) Em resumo, o mercado da cerveja artesanal na América Latina está partindo a todo o vapor e ainda tem muito espaço para crescer. Já manifesta que tem fortalezas importantes que garantem não tratar-se de algo passageiro, mas de um movimento artesanal que chegou para ficar e mudar as estruturas e fundamentos do mercado da cerveja.

Quais os pontos fortes desse mercado? E onde ele ainda precisa ser melhor desenvolvido?
Eu diria que existem dois países que se destacam: Argentina e Brasil. Do meu ponto de vista, em que posso observar os diferentes mercados e como eles se comportam, eu diria que Brasil e Argentina são diferentes, mas possuem um mercado saudável. Quando me refiro à saudável, quero dizer que possuem sustentação importante para um desenvolvimento sustentável e forte para os próximos anos.

De maneira geral, quais os principais países atuantes nesse mercado? E quais, resumidamente, as principais características de cada um deles?
Como disse na pergunta anterior, Brasil e Argentina, no meu ponto de vista, são os que mais se destacam no cenário atual. O mercado brasileiro tem um tamanho importante na configuração da cerveja artesanal no mundo. Embora a penetração da cerveja artesanal ainda seja de 1%, quando olho para os fundamentos desse mercado, entendo que tem uma base de consumo muito sólida. Há um movimento muito forte por educação cervejeira e formação de sommeliers. Na Argentina existe um movimento grande de cervejeiros caseiros que atuam como um motor de aumento, de crescimento e de desenvolvimento da demanda muito forte. O cervejeiro caseiro, que também está presente no Brasil, tem um papel importante na disseminação da cultura cervejeira artesanal.

É possível dizer que há uma certa unidade, algum tipo de característica em comum, entre as cervejas latinas? E quais seriam eventualmente essas características?
Posso dizer que hoje em dia há dois elementos que caracterizam a cerveja artesanal na América Latina. Um deles tem a ver com a influência dos Estados Unidos, onde primam as cervejas lupuladas e fortes. Essa característica inovativa impulsionou e marcou a revolução cervejeira artesanal dos EUA. O outro elemento tem aparecido mais recentemente – e o Brasil tem se mostrado como um líder nesse respeito – que é a aparição de estilos locais. Eles refletem propriedades e características de ingredientes nacionais. No caso brasileiro, a Catharina Sour, um estilo oriundo da Berliner Weisse, com maior graduação alcoólica e com adição de frutas tropicais. Também, a utilização de lúpulos autóctones e frutas locais, como está acontecendo no sul da Argentina e no sul do Chile. Enfim, a busca de cada indústria local por utilizar ingredientes nativos para encontrar um caminho próprio. Diria que essa busca por um caminho próprio, por encontrar um estilo que mostre o que é a indústria artesanal em cada país, é uma característica que cruza cada um dos nossos mercados.

Pensando na história da América Latina, que traz uma rica bagagem cultural envolvendo literatura, música, cinema, futebol, entre tantos outros componentes, o que a cerveja artesanal espelha/resgata dessa tradição?
Existem muitas cervejarias que resgatam ou refletem essa tradição cultural, gastronômica e simbólica dos países da América Latina. No entanto, mais que ressaltar exemplos, acredito que o importante é mencionar a importância desse resgate da riqueza cultural que temos nos países latino-americanos. É uma oportunidade e ao mesmo tempo um desafio importante para indústria.

Qual a importância da Copa Cervezas de América para o desenvolvimento da cerveja artesanal latina?
A Copa Cervezas de América está totalmente conectada com o desenvolvimento da cerveja artesanal na América Latina. Nós temos uma grande preocupação em entregar um feedback de qualidade para todos os cervejeiros que participam conosco. Por isso, há três anos desenvolvemos um software que permite o registro das avaliações de forma digital, garantindo um feedback ágil, legível e transparente. O nosso time de juízes qualificados não só avalia as características de cada amostra como também envia para o cervejeiro sugestões de melhoria.

Copa terá mais de 60 juízes

Além disso, nosso concurso, que está entre os 10 mais importantes do mundo, oferece visibilidade para as melhores cervejarias do continente e contribui para aproximar os consumidores desse universo, por meio da divulgação dos estilos e da certificação das cervejas premiadas. Também apoiamos o desenvolvimento da indústria do ponto de vista da educação cervejeira e do consumo consciente e responsável. Gosto muito de uma frase que ouvi no Brasil que fala “beba menos, beba melhor” e representa exatamente isso.

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