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Ser grande para inovar: Uma entrevista com o fundador da Goose Island

John Hall Goose Island São Paulo Block Party
John Hall esteve em São Paulo para a Block Party promovida pela Goose Island e aproveitou para conhecer cervejas locais

Com 76 anos e disposição de sobra, John Hall, o fundador da icônica cervejaria Goose Island, de Chicago, desembarcou em São Paulo na última sexta-feira. Seu objetivo principal era participar no domingo da primeira edição da Block Party SP, festa de rua já tradicional promovida pela marca nos Estados Unidos. Mas, horas depois de chegar à capital, ele estava na ativa, conhecendo a brewhouse da marca em São Paulo, uma das nove espalhadas pelo mundo e batendo papo com cervejeiros locais e imprensa.

Hall fundou a Goose Island em 1988, momento em que a cerveja artesanal ainda engatinhava. De lá para cá, cresceu se consolidando como uma tradição de Chicago e uma das maiores expoentes do movimento craft norte-americano. Em 2011, a cervejaria foi adquirida bela AB-Inbev, que possibilitou a expansão internacional.

Seus dias por São Paulo foram de muita troca de experiência com cervejeiros locais. Junior Bottura, da Avós, após levá-lo ao seu recém-inaugurado brewpub na Vila Ipojuca, pôde ouvir conselhos do experiente Hall. “Foi uma surpresa bacana, uma tarde surreal”, conta ele, ressaltando a simplicidade e o interesse de Hall, que sentou-se na calçada para experimentar as cervejas da casa.

“A postura dele é de embaixador do mundo craft, ficou muito preocupado em dar dicas não só de cerveja, mas de como trazer o bairro para junto da cerveja, como crescer o mercado se preocupando com o entorno e com as pessoas que não estão totalmente inseridas no mercado,” conta Bottura. “Dá para ver que ele está realmente interessado em aproximar e dividir a experiência dele.”

John Hall Goose island cervejaria avós
Visita à cervejaria Avós

Entre fatias de filé à milanesa servidas pela Goose Island SP e goles de sua Session IPA Midway e da limitadíssima Bourbon County Brand Stout, Hall conversou com o Guia sobre as dificuldades de ser artesanal dentro de uma gigante da cerveja, sobre inovação e sobre como se constrói uma cultura cervejeira consistente.

Confira, a seguir, a entrevista exclusiva com John Hall, o icônico fundador da Goose Island.


É sua primeira vez no Brasil. O que você já conhecia do mercado de artesanais brasileiro?
Eu conheço o Marcelo [Carneiro], da Colorado, de outros eventos que participamos juntos. Conheci as cervejas deles e são sensacionais. Viajo muito, já estive em diversos lugares, conheço cerveja artesanal do mundo todo, e não necessariamente conseguimos conhecer tudo.

A Goose Island começou como cervejaria independente em 1988 e há 7 anos foi comprada pela AB-InBev. Como foi esse processo?
Primeiro, não começamos a cervejaria pensando em algum dia vender, ninguém faz isso e com certeza o Marcelo também não fez. Mas chega uma hora, em um negócio em que a intensidade do capital é tão alta, que você precisa tomar decisões. A não ser que você seja Fritz Maytag e tenha uma máquina de lavar Maytag funcionando atrás de você, em algum momento você vai precisar de parceiros [Hall faz alusão ao antigo dono da Anchor Brewing Company, de Iowa, cuja família administrava diversas indústrias de manufatura e tinha a fabricação de inovadoras máquinas de lavar roupas como seu principal negócio].

Pense do meu ponto de vista: há fundos de private equity querendo fazer negócio com você, outras cervejarias querendo fazer negócio com você, e você tem empréstimos no banco, tem a hipoteca da casa da sua avó para resolver – como todo mundo – e 76 anos… Você olha para tudo isso e a AB-InBev chega e diz “cara, você quer conversar?” Eu teria que ser um idiota para dizer “não, não estou interessado.” Se olhar em retrospectiva, tomamos a decisão de vender obviamente baseados no volume de dinheiro oferecido, mas é igualmente importante saber o que vai ser dos meus empregados. Eu tenho orgulho da minha cerveja, e tenho mais orgulho ainda dos empregados que fazem essa cerveja.

Então a grande questão é o modo como se faz o acordo?
É um negócio que requer intensidade de capital, alguém com dinheiro grande tem que estar envolvido em algum momento. Nem eu nem você andamos por aí com o bolso cheio de dólares. AB-Inbev ou qualquer outra grande cervejaria estão no mercado de cerveja há muito mais tempo do que a gente, eles entendem do mercado, são elementos de longo prazo nesse jogo. Se você de fato se alia a eles, se confia neles, como eu confiei, nossos empregados se dão melhor, nossa cerveja melhora, conseguimos continuar inovando e, o melhor, eles continuam investindo na minha cidade de origem, Chicago. É um bom acordo.

E como é o espaço para a inovação nesse cenário? Quais são as facilidades e os obstáculos?
Inovação tem sempre sido uma questão imensa para a Goose Island. Inovamos continuamente no mercado de cerveja. Nós atraímos, mais do que ninguém, cervejeiros que despertaram e começaram sua própria cervejaria. Eles viram nosso modelo, como fizemos e, a partir disso, fizeram tantas outras coisas interessantes. Nós continuamos inovando. Olha só o que acontece aqui [refere-se ao evento na brewhouse da marca em São Paulo]. Isso é pura inovação. O Guilherme [Hoffman, mestre-cervejeiro da casa] veio conversar comigo, ele veio por meio de nosso programa, mas demos liberdade para ele criar, pois se queremos ter sucesso, temos que implementar aqui um programa que se relacione com São Paulo, com a estrutura do prédio escolhido, com tudo o que acontece por aqui. E eu não poderia estar mais orgulhoso de ver tudo o que foi construído e como eles estão interagindo com as pessoas.

A Goose Island foi construída com o propósito de se envolver com a comunidade e ser relevante para a construção de uma comunidade melhor. E é exatamente o que está sendo feito aqui, meus olhos se enchem de lágrimas… Olhar para o negócio dessa maneira faz com que as pessoas que trabalham aqui se sintam bem e se sintam importantes, que sejam parte de algo maior do que apenas sair para trabalhar todo dia.

A marca tem planos traçados para São Paulo ou outras cidades brasileiras?
Não podemos falar muito disso. Mas em cada país que estamos (são 9 no total) é tudo muito diferente. Nos EUA é difícil para caramba, por conta do tanto de taprooms espalhadas. O mercado é mais complicado para cervejarias do nosso porte. Estamos mantendo o foco na inovação, em trazer mais cervejas para o mercado, tentando interagir com mais proximidade nos locais em que temos uma presença mais forte. Mas, aqui, estamos em um “modo de crescimento”. Não ficaria surpreso se víssemos em algum momento um novo brewpub ou uma casa como essa, pois esse é um modo muito efetivo de espalhar a mensagem não só da marca, mas da cerveja. É por isso que somos felizes em ter os outros cervejeiros juntos conosco por aqui. Queremos crescer como comunidade.

Falando nisso, nos EUA, a Sierra Nevada tomou a iniciativa de juntar cervejarias e levantar fundos em prol da reconstrução da cidade atingida pelo incêndio na Califórnia. O que acha dessa iniciativa?
Fabulosa. Estamos nesse movimento também, fazemos parte dele. Isso é a comunidade cervejeira, esse é o espírito. Todo mundo que conhece a Sierra Nevada sabe que eles são aquilo em que todos deveriam se espelhar. Para ser honesto, eles já me inspiraram muito. Já fizemos muitas coisas juntos, nos ajudamos trocando conhecimento, são um exemplo.

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