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Tecnologia e nova mentalidade: As defesas da cevada contra o aquecimento global

Ante cenário que pode ameaçar produção nacional, mercado precisa investir em pesquisa e tecnologia para aumentar resistência da cevada

As mudanças climáticas que tendem a se intensificar nos próximos anos impactarão a produção agrária brasileira, incluindo a cevada, o que causará efeitos na indústria cervejeira nacional. Para lidar com esse cenário, especialistas consultados pelo Guia apontam duas estratégias para que o setor continue ativo e com uma colheita de qualidade: o investimento em pesquisa e tecnologia e, de modo mais radical, uma alteração na lógica do modelo econômico.

“Precisamos aumentar em muito o nível de investimento em pesquisa para fazer frente às mudanças climáticas, não só em cevada mas, também, nas demais espécies de importância para o agronegócio nacional”, avalia Euclydes Minella, pesquisador da Embrapa Trigo.

Com o cenário atual de aquecimento global, fenômenos como secas e ondas de calor tenderão a afetar as principais regiões produtoras de cevada, o que diminuiria colheitas e provocaria aumento de preços. Foi o que apontou um estudo publicado no jornal Nature Plants, liderado pelo pesquisador Dabo Guan, da Universidade de East Anglia, na Inglaterra.

Para que a produção seja de qualidade perante um clima desfavorável, será preciso que a cevada produzida se torne mais resistente às intempéries. Minella aponta, assim, que deve se investir em melhoramento genético para minimizar os riscos envolvidos na produção.

“A alternativa é o melhoramento genético na seleção de germoplasma mais adaptado aos ambientes de produção, com aplicação de tecnologias modernas como a transgenia, edição do genoma, entre outras. Basicamente o foco seria na busca de resistência à seca, melhor eficiência no uso da água para as novas regiões tropicais e de resistência às doenças de espiga na região tradicional. Em melhoramento genético já vem se praticando a seleção de variedades mais adaptadas aos ambientes de produção”, comenta o pesquisador.

Porém, para Minella, a busca por essa melhora ainda é incipiente no Brasil. “Muito pouco está sendo feito no sentido de incorporação de ferramentas modernas de melhoramento”, alerta ele, apontando a necessidade de uma guinada nos investimentos em pesquisas sobre cevada no cenário nacional.

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Bons exemplos
Líder de mercado no Brasil, a Ambev tem trabalhado há algumas décadas no desenvolvimento de tipos de cevada que sejam mais resistentes às alterações climáticas. É, por exemplo, na região Sul, a maior produtora de cevada no país e a que tem sido mais impactada pelo aquecimento global, onde ela mantém um centro de pesquisa global. A iniciativa fica em Passo Fundo (RS) e conta com uma equipe focada no estudo de tendências.

Além disso, em 2014, a Ambev criou um programa através da plataforma Smartbarley 2.0 para mapear as melhores práticas de produção de cevada, com o compartilhamento de informações sobre as lavouras. De acordo com a cervejaria, mais de 400 agricultores já foram atendidos.

Para a Ambev, o estudo da Nature Plants é um importante aviso para a necessidade de investimentos em tecnologia. “Sem sombra de dúvida, serve de alerta para que sigamos implementando medidas e tecnologias em toda a nossa cadeia para termos uma produção cada vez mais sustentável do campo ao copo”, afirma Juan Caminos, gerente regional agronômico da Ambev.

E a expectativa da Ambev é de que o programa de mapeamento da produção melhore a qualidade da cevada nos próximos anos. “A cervejaria pretende melhorar em até 10% o rendimento da cevada até 2025, com sementes cada vez mais produtivas e plantios mais sustentáveis”, estima Juan.

Novo modelo
Para além dos investimentos em tecnologia e em pesquisa, Rene Eugenio Seifert Junior, professor do Programa de Mestrado em Administração (PPGA) e do Departamento de Gestão e Economia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), propõe uma mudança mais consistente.

Ele aponta que o modelo econômico atual está em choque com os ciclos da natureza e precisa ser repensado. “O modelo econômico de produção empresarial é orientado para o crescimento ilimitado e estabelece pressões irreconciliáveis com os ciclos da natureza. Na natureza tudo se sujeita à limites de crescimento”, afirma.

Seifert Junior crê que só uma alteração na lógica que busca a acumulação e o crescimento contínuo poderá respeitar os limites impostos pela natureza, permitindo uma produção que priorize a qualidade do produto, sendo mais sustentável e também menos nociva.

“Estudos do Clube de Roma já apontavam para necessidade de uma mudança no modelo econômico de produção na década de 1970 do século passado. Carecemos de uma mudança radical no modelo de gestão orientado para o crescimento e sua substituição por outro que reconheça a virtude dos limites”, conclui o professor da UTFPR.

Confira, nas próximas semanas, a sequência do nosso especial sobre aquecimento global, cevada e cerveja. E, se quiser indicar alguma demanda, escreva para nosso editor: itamar@guiadacervejabr.com.

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