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Entrevista: Como o setor cervejeiro pode fomentar o empreendedorismo negro

Para Adriana Barbosa, CEO da PretaHub, apoio financeiro e as formações específicas podem impulsionar profissionais negros no setor

As desigualdades sociais no Brasil apresentam-se como um problema que abarca diversos setores e estratos da sociedade, destacando-se ainda mais quando observadas sob as lentes da questão racial. No contexto do mercado de trabalho, emerge historicamente uma evidente disparidade entre as pessoas negras e brancas. Diante desse cenário, iniciativas que fortalecem e fomentam a cultura e o empreendedorismo negro ganham relevância, como é o caso da PretaHub, uma organização híbrida criada por Adriana Barbosa, sua CEO.

Um estudo do IBGE divulgado em 2021, considerando a linha de pobreza monetária proposta pelo Banco Mundial, revelou que a proporção de indivíduos pobres no país era de 18,6% entre os brancos, praticamente a metade dos números entre os pretos (34,5%) e pardos (38,4%). E embora mais da metade (53,8%) da força de trabalho brasileira fosse composta por pretos e pardos naquele ano, esses grupos combinados ocupavam apenas 29,5% dos cargos gerenciais, enquanto os brancos abocanhavam 69% dessas posições.

Diante desses alarmantes dados de desigualdade, a PretaHub tem desenvolvido uma série de iniciativas desde 2002, inclusive colaborações com grandes empresas, como a parceria estabelecida com a Ambev, que neste ano se comprometeu a destinar R$ 7 milhões para impulsionar projetos de entretenimento e cultura liderados por pessoas negras em todo o país. Esse fundo integra o programa de inclusão produtiva da Ambev, o BORA, que busca gerar oportunidades de capacitação, emprego e renda.

Além do suporte financeiro, essa iniciativa empresarial visa incentivar os produtores em uma jornada de longo prazo. Os selecionados participam de um programa de capacitação da PretaHub, o Afrolab, tendo acesso aos recursos educativos da Ambev On, um espaço de aprendizagem e desenvolvimento, bem como atividades de formação e conexão destinadas a profissionais do programa BORA.

CEO da Preta Hub, Adriana Barbosa é uma das principais líderes negras de grande influência no Brasil e uma fonte de inspiração no contexto do empreendedorismo negro. Além de ser a fundadora e presidente do Festival Feira Preta, o maior evento de cultura e empreendedorismo da América Latina, que ao longo de 21 anos movimentou cerca de R$ 12 milhões por meio da contratação de pessoas e venda de produtos e serviços, ela é uma especialista em negócios sociais e diversidade racial. Seu currículo é repleto de homenagens e prêmios, como a nomeação como uma das 51 pessoas negras com menos de 40 anos mais influentes do mundo pelo Mipad em 2017, e sua inclusão entre os 500 indivíduos mais influentes da América Latina pela Bloomberg Linea em 2022.

Nesta entrevista ao Guia, Adriana compartilha insights sobre as ações da PretaHub, a parceria com a Ambev e como o estímulo ao empreendedorismo negro pode se estender ao setor cervejeiro.

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Confira, a seguir, a entrevista do Guia com Adriana Barbosa, CEO da PretaHub:

O que é a PretaHub e quais são suas principais ações?
A PretaHub é uma organização híbrida (combinação de ONG com fins lucrativos) que funciona como plataforma para fortalecer e promover a cultura negra no Brasil, unindo empreendedores que transformam sua identidade em produtos, serviços e soluções criativas.

A sede da PretaHub está localizada na Casa PretaHub – Avenida Nove de Julho, 50, Bela Vista, São Paulo. O espaço, focado na economia colaborativa e no apoio de empreendedores negros, possui estúdios de fotografia, de áudio, cozinha compartilhada, biblioteca, loja colaborativa, coworking e sala para palestras e eventos.

A PretaHub realiza diversas atividades voltadas ao fortalecimento da população e do empreendedorismo negro como: a jornada imersiva de autoconhecimento e educação empreendedora, o Afrolab; o espaço criativo para produção de conteúdo e eventos em São Paulo e no Recôncavo Baiano, a Casa PretaHub; o festival de impacto, cultura e empreendedorismo negro, o Festival Feira Preta; e muitos outros. Além disso, a PretaHub desenvolve, por meio da Preta Dados, pesquisas sobre o público e o empreendedorismo negro.

Quais são os objetivos da PretaHub?
Seu principal objetivo é dar visibilidade ao espírito criativo e inventivo da população negra e fomentar o empreendedorismo negro no Brasil, desta forma, a PretaHub é um hub de aceleração, inventividade, criatividade e tendência pretas.

Quem se beneficia das iniciativas da PretaHub?
Atualmente, cerca de 4,7 milhões dos empreendedores do Brasil são mulheres negras. Assim como eu, milhares de mulheres negras encontram no empreendedorismo a possibilidade de sobreviverem. Aqui, o empreendedorismo não é recreativo ou por escolha, no maior número de casos, o empreendedorismo é por necessidade.

E, por isso, a PretaHub é criada com o objetivo de apoiar as pessoas empreendedoras negras, desde educação empreendedora e autoconhecimento, à criação de oportunidades e, até mesmo, no apoio com incentivos financeiros. O objetivo da PretaHub é o de capacitar essas mulheres para que elas conquistem sua emancipação financeira e, com isso, modificar a estrutura onde vivem.

Como a PretaHub fortalece o empreendedorismo negro no Brasil?
A PretaHub oferece e disponibiliza ações para aceleração e desenvolvimento de empreendedores negros e indígenas, seja jornadas imersivas de formação ou cursos presenciais na Casa PretaHub, que são gratuitas. São criados também projetos de incentivo, como o Prêmio Pretas Potências, além do desenvolvimento de uma conversa profunda e sistêmica junto ao mercado, a fim de criar oportunidades e apoio financeiro a empreendimentos negros.

Como as ações da PretaHub se estenderam ao setor cervejeiro?
Por meu olhar condicionado à busca de mais oportunidades para a comunidade negra, especialmente os empreendedores, tenho participado como conselheira de diversas organizações, como a Ambev, empresa que entendeu e acolheu a necessidade de incentivar a criação de empreendedores negros no campo do entretenimento. Assim a PretaHub se aproxima com este setor, realizando junto à empresa o primeiro fundo com foco na economia criativa preta, o Fundo Bora Cultura Preta.

Como surgiu a parceria entre a Ambev e a PretaHub para criar o Fundo Bora Cultura Preta? Quais foram os principais objetivos ao unir forças nesse projeto?
A Ambev já é parceira da PretaHub há algum tempo; inclusive, faço parte do Comitê de Diversidade da empresa. Em nossas discussões, abordamos a necessidade de ter grandes marcas apoiando projetos produzidos por pessoas negras com verba de marketing e não apenas pelo campo do social, e a Ambev, entendendo tal necessidade, criou o Fundo Bora Cultura Preta em parceria com a PretaHub, para apoiar a Economia Criativa Preta, principalmente na área do entretenimento.

Para além do setor cervejeiro, é extremamente importante contar, verdadeiramente, com o apoio das mais diversas organizações para que possamos fortalecer as criatividades e as produções negras de todo o país. A população negra é extremamente criativa, o que falta é incentivo financeiro e visibilidade.

 O Fundo de Cultura Preta não é só sobre valorizar o potencial criativo da população negra, é também reconhecer o protagonismo intelectual e criativo. É sobre viabilizar projetos e ações protagonizadas por esse grupo e contribuir para a distribuição de renda de forma mais equânime.

Com essa iniciativa, espero que os departamentos de marketing de outras empresas se inspirem e invistam financeiramente em proponentes negros, não apenas pelo cunho social, mas por entender o potencial de consumo de mais da metade da população do país.

Dentro do setor cervejeiro, o segmento de artesanais ainda possui uma presença limitada de negros. Você enxerga espaço para impulsionar o empreendedorismo negro nesse setor? Acredita que isso poderia impulsionar o crescimento desse segmento?
Já há incríveis empreendedores negros que produzem cervejas artesanais, como é o caso da Cerveja Preta Bela, da Cervejaria Implicantes, da Cerveja Serafina e da Omi Odara. Mas é necessário a criação de formas de incentivo para inclusão de mais pessoas negras nesta área, visto o custo que existe para a compra dos materiais e os cursos para a criação destas cervejas. O apoio financeiro e a disposição de formações específicas certamente contribuirão para o aumento de empreendedores negros nesta área.

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