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Cerveja do padre: Convento em Minas usa maquinário centenário e produz 3 estilos

Padre Jonas Pacheco é um dos responsáveis pela produção de, aproximadamente, 500 litros mensais de cada rótulo

Criada em 1894 por religiosos holandeses da Congregação Redentorista, uma cervejaria localizada dentro do convento da Igreja de Nossa Senhora da Glória, em Juiz de Fora (MG), continua honrando a sua tradição ao produzir a bebida ainda com o maquinário original. Mais do que isso, a aceitação das cervejas fabricadas por padres no local permitiu que pudessem passar a ser vendidas e produzidas em maior escala a partir de 2021, fato importante para ajudar a sustentar a instituição, também destinando parte da receita obtida para as ações sociais promovidas pelos sacerdotes.

Com o nome Hofbauer, escolhido em homenagem ao santo austríaco da Congregação do Santíssimo Redentor, São Clemente Maria Hofbauer, a bebida estampa o slogan “A Cerveja do Convento” em seu rótulo, sendo disponibilizada em três estilos: Belgian Pale Ale, Weissbier e Pilsen.

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“A nossa Pale Ale é uma cerveja com três tipos de malte: o caramelizado, o torrado e o Pilsen, que lembra muito a escola cervejeira da Bélgica, com um toque de toffee e um dulçor. Produzimos também uma Weiss, uma cerveja de trigo com o toque cítrico, com uma cidra produzida na nossa horta. E uma Pilsen, que tem uma receita bastante conhecida por todo mundo, para agradar as pessoas de uma forma geral”, relata o padre Jonas Pacheco, em entrevista ao Guia.

Porém, se hoje consegue produzir três estilos de cerveja, a fábrica de Juiz de Fora precisou superar uma perda precoce para não encerrar uma tradição centenária. Líder da retomada da cervejaria do convento a partir de 2009, o padre Flávio Campos faleceu com apenas 44 anos, em agosto de 2020, ao sofrer um infarto. Mestre-cervejeiro, ele integrava o Convento Redentorista de Belo Horizonte, onde foi encontrado morto. Antes disso, viajava da capital mineira até a cidade da Zona da Mata duas vezes por ano para produzir a Hofbauer ao lado dos companheiros de congregação.

Flávio havia sido o responsável pela retomada da atividade cervejeira no convento, que ficou paralisada por 15 anos. Ele também liderou a organização do Forest Beer, o Festival de Cerveja Artesanal de Juiz de Fora, realizado em junho de 2019, quando a Hofbauer, antes fabricada apenas para o consumo interno no convento, foi vendida pela primeira vez ao público.

Passar a vender a bebida apenas 125 anos após a fundação da cervejaria do convento em Juiz de Fora também reforçou a curiosidade pelo que se produzia na Hofbauer, como destaca Mário Ângelo Sartori, sócio-proprietário da Timboo, uma outra cervejaria de Juiz de Fora. “Isso acabou virando uma lenda, pois todo mundo queria tomar a cerveja do padre, mas não conseguia. Por isso, manter essa tradição cervejeira é muito importante”, opina.

Mas pouco depois desse marco, a Hofbauer viria a perder o seu principal incentivador. Sartori, então, prestou consultoria aos amigos religiosos para ajudar a aperfeiçoar a fabricação das bebidas.

“Nós, preocupados com a qualidade e em manter uma cerveja de alto padrão, solicitamos o auxílio do Mário (Ângelo), que em abril de 2021 colaborou com o nosso projeto para poder nos ajudar a desenvolver receitas, que até então nós não tínhamos, e para agregar à produção com técnicas e parâmetros mais atuais, além de auxiliar em questões de higienização mais específicas do ramo cervejeiro”, destaca Pacheco.

“Por ser amigo da congregação e cervejeiro mais antigo da cidade, eles sentiram confiança em mim e eu ofereci essa proposta de trabalho, de melhorias dos processos e desenvolvimento de novas receitas. A gente chegou a brassar cerveja de receita antiga, que eles fazem hoje de forma rotineira. Ajudei por nove meses e hoje eles têm a autonomia de produzir sem a minha presença”, enfatiza Sartori.

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As modernizações, porém, não alteraram o método de fabricação implementado no fim do século XIX, cuja manutenção dá continuidade a uma tradição trazida a Juiz de Fora pelos religiosos holandeses Matias Tulkens e Francisco Lohmeyer. Eles estabeleceram a primeira comunidade redentorista no Brasil em 1894, quando a rotina da produção cervejeira começou no convento por meio dos irmãos da congregação. Na hierarquia desta ordem religiosa, também composta por missionários e padres, eles eram incumbidos da tarefa que antes cumpriam na Europa.

“Para os holandeses, a cerveja era algo muito comum e fazia parte do cotidiano tanto da sociedade quanto da vida interna dos mosteiros. E assim que eles chegaram ao Brasil, já cuidaram de montar em Juiz de Fora a cervejaria, cuja estrutura também era algo próprio de cada casa da congregação na Holanda. Então a fábrica, de uma certa forma, com suas várias peças, veio toda de navio. E quem cuidava dela e de produzir a cerveja era um irmão, sendo que os holandeses foram passando essa tradição de geração em geração até que ela chegou no último irmão brasileiro que produziu: o irmão Geraldo”, recorda o padre.


Tradição e responsabilidade social
A congregação redentorista foi fundada na Itália em 1732, por Santo Afonso, e depois se espalhou pela Europa, trazendo com a doutrina religiosa a tradição cervejeira honrada em Juiz de Fora, onde agora os padres dividem o ofício religioso com o da produção da bebida.

“Em 2009, o padre Flávio retomou essa arte de produzir a cerveja no convento da Igreja da Glória e contou com a colaboração de algumas pessoas. E de 2009 até o momento a cervejaria continua funcionando. Vale lembrar também que 2009 foi ano do centenário da canonização de São Clemente Maria Hofbauer, e aí o homenageamos, batizando a cerveja com seu último sobrenome, pois até então ela não tinha um nome”, diz Pacheco.

Para além da manutenção da tradição secular, a produção da Hofbauer também é justificada pelos recursos financeiros obtidos com a venda das cervejas, o que contribui para a realização de ações sociais.

“Temos um certo retorno financeiro com a disponibilização da cerveja para as pessoas e com esse retorno queremos manter as nossas obras sociais, principalmente a de Juiz de Fora, que atende 70 crianças e tem um gasto. A nossa ideia é que esse retorno seja maior ao longo dos anos para que ele possa, de fato, cobrir os nossos gastos com as obras sociais”, projeta o padre.

Planos para o futuro
Para o futuro, os padres responsáveis pela Hofbauer esperam aumentar a capacidade de produção e passar a fabricar uma cerveja envelhecida em uma adega que também faz parte da estrutura do convento. Além disso, querem realizar um novo festival para colocar as bebidas da marca em evidência em Juiz de Fora.

Atualmente, nós produzimos 500 litros por mês de cada tipo de cerveja. Assim, a gente atinge 1.500 litros quando produz as três receitas. E os planos são de consolidar a cerveja e produzi-la em parcerias. Temos uma adega na qual a ideia é fabricar cerveja envelhecida em barril de madeira. E estamos vislumbrando realizar um festival, que seria a segunda edição do Forest Beer

Jonas Pacheco, padre em Juiz de Fora

O padre também espera possibilitar que a cervejaria receba visitantes com os atrativos de um museu histórico dentro de um convento. “A ideia é a de que o espaço funcione como um local em que as pessoas possam conhecê-lo porque é uma cervejaria totalmente artesanal, com o seu maquinário de mais de cem anos em perfeito estado de conservação e em funcionamento. A ideia também é que as pessoas possam entender essa história cervejeira, que tem uma relação com a igreja”, finaliza.

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