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Entrevista: “Podemos chamar a atenção do cervejeiro de fora com algo só do Brasil”

Giba Tarantino vê Projeto Manipueira como “tesouro” e aposta em sucesso de iniciativa

O Projeto Manipueira ainda dá seus passos iniciais, mas com expectativas à altura da grande adesão que teve no setor de cervejas artesanais brasileiro. Afinal, o ineditismo de usar o líquido extraído da prensagem da mandioca na produção de farinhas e tapioca para criar cervejas selvagens com elementos encontrados em solo nacional faz Giba Tarantino confiar que o resultado desse processo pode chamar a atenção do mercado internacional.

À frente da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva), que apoia e dá suporte à iniciativa, ele diz, em entrevista ao Guia, esperar que a novidade ajude a impulsionar o setor, aproveitando o potencial das características únicas que poderão ser obtidas nas cervejas do Projeto Manipueira.

Nascida de uma parceria das cervejarias Cozalinda, de Florianópolis (SC), e Zalaz, de Paraisópolis (MG), a iniciativa envolvia 37 marcas de dez estados do Brasil e do Distrito Federal quando do seu lançamento, em 31 de agosto.

Na conversa realizada durante a apresentação do projeto, Giba Tarantino exaltou o ineditismo da proposta, vista como um “tesouro”, que poderá ser aberto a partir de agosto de 2023, quando as primeiras cervejas envelhecidas durante um ano em barris de carvalho, com o substrato da mandioca, serão provadas.

“Essa cerveja precisa ser degustada pelo Brasil para começarmos a criar uma massa crítica. E é uma cerveja com um potencial enorme de exportação, que vai chamar a atenção, com cervejeiros de fora olhando para um produto que só tem aqui”, diz Giba Tarantino. “Estamos no passo inicial de um grande projeto, que eu creio que, com o passar do tempo, colocará o Brasil em um lugar de destaque”, aposta.

À frente da Abracerva desde o início do ano, Giba Tarantino também comentou, na entrevista, que a união provocada pelo Manipueira precisa se repetir na luta por pautas que ajudem no crescimento do setor de cervejas artesanais no Brasil.

Leia também – Projeto Manipueira é lançado com 37 marcas e brassagem; veja próximos passos

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista do Guia com Giba Tarantino, presidente da Abracerva:

Você esperava que poderia ocorrer uma adesão tão grande de cervejarias ao Projeto Manipueira?
Eu fiquei surpreso, sim, pelo número crescente de cervejarias que se interessou pelo projeto, pois, para participar, requer um processo, que é desde encontrar os insumos corretos até selecionar a barrica de carvalho adequada. Porém, estamos vendo que, a cada conversa, a cada encontro, mais pessoas vão ficando interessadas.

Qual é o impacto que esse projeto está tendo dentro do cenário da cerveja artesanal?
Hoje temos 37 cervejarias que acreditaram no Manipueira, mas a hora legal mesmo será em agosto de 2023, quando vamos juntar todas essas cervejas e o pessoal começará a degustá-las. Ainda vai vir o grande momento. É uma criação coletiva. Hoje, podemos fazer um monte de suposições, mas o projeto está longe ainda do que vai ser daqui a um ano.

Cilene Saorin, Carola Carvalho, Giba Tarantino e Aline Smaniotto no lançamento do Projeto Manipueira

Pelo alcance que o projeto vem tendo, pessoas que estão além do circuito das artesanais também se interessaram?
Algumas pessoas de grandes cervejarias, que são mais apaixonadas por projetos, tiveram interesse, mas não houve ainda o interesse comercial, mas pela ciência dessa cerveja. Temos feito algumas reuniões com as cabeças do projeto, e sinto que teremos algumas surpresas ainda nesta metade do ano, principalmente porque há pessoas de fora (do país) que estão demonstrando algum interesse. Eu comentei com dois cervejeiros do exterior que ficaram bem surpresos e interessados. E existem os lados científico e acadêmico. As coisas estão acontecendo mais rápido do que imaginávamos, mas estamos tão no começo que eu acredito que teremos ainda muitas surpresas pela frente.

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Um dos objetivos do Manipueira é alcançar um terroir brasileiro para produzir uma cerveja tipicamente nacional. Qual é a importância disso?
Essa busca, de se ter uma escola brasileira de cerveja, é antiga. E, usando esse projeto com a levedura da manipueira, teremos uma cerveja mais complexa e um olhar dos formadores de opinião do exterior. Eu já vi algumas pessoas tentando exportar Lagers ou IPAs para fora, mas não adiantar exportar lPA para os Estados Unidos ou mandar uma Lager para a Alemanha. Se ouvirmos a opinião dos formadores de opinião, dos cervejeiros do exterior e até trouxermos esses caras para cá, porque eles têm muito a nos ensinar, poderemos criar algo com o nosso carimbo. Mas temos de fazer muitos testes antes de poder almejar esse patamar, de possuir uma escola brasileira de cerveja ou que seja reconhecida pelas pessoas de outros países.

Pelo relacionamento que você e a Abracerva têm hoje com representantes de entidades cervejeiras e de marcas de artesanais no exterior, como essas organizações e pessoas observam o Manipueira?
São poucos que sabem dele, porque, por enquanto, está na teoria. Hoje (dia 31 de agosto) foi o primeiro dia prático deste projeto. Nas conversas que o Diego (Rzatki, co-fundador da Cozalinda) teve nos grupos do nosso setor, o mestre-cervejeiro da De Ranke, que é uma cervejaria monstruosa (da Bélgica), ficou interessado. Já o nosso amigo americano Pete Slosberg (um dos principais nomes do mundo cervejeiro e fundador da Pete’s Brewing Co.) disse que nunca tinha ouvido falar deste projeto. Aos poucos, conforme as coisas forem acontecendo, os gringos vão ter mais notícias. E quando apresentarmos melhor o projeto para alguns conhecidos de fora, eles ficarão bem curiosos.

O que você poderia destacar de mais legal deste projeto, desde o seu início até agora, e dos próximos passos que virão?

O Manipueira é um tesouro, com muitas pessoas envolvidas, competentes, apaixonadas, que estudam muito, entendem muito de cerveja e querem disseminar a cultura cervejeira brasileira. Vamos testar essa cerveja ao longo destes próximos 12 meses e, em cada vez que a experimentarmos, teremos uma opinião diferente. Tenho uma grande expectativa para agosto do ano que vem, quando queremos preparar um evento, com participação de muitas pessoas, para experimentarem as cervejas e colhermos opiniões

Giba Tarantino, presidente da Abracerva

Em meio a um projeto que uniu 37 cervejarias, a Abracerva vê o Manipueira como uma alavanca para fortalecer o setor das artesanais e a sua associação?
Precisamos de união, as cervejarias precisam enxergar valor em se associar. Na pandemia, o problema de conseguir pagar aluguel, salários, impostos, foi muito acentuado. O nosso segmento de alimentos e bebidas sofreu muito e temos de nos unir para pensarmos em redução de carga tributária, que, para mim, é o maior problema que temos hoje. Precisamos pensar não só em educação cervejeira, cultural, mas também em gestão, no lado financeiro e de desburocratização. Têm muitas pautas a serem resolvidas e o objetivo da associação nesta minha gestão é de profissionalizar. É uma cruzada, uma missão. Não é fácil. Precisamos do apoio das 1.550 cervejarias que existem no Brasil e realizar um trabalho para aproximá-las. E, com elas unidas, buscar uma série de pleitos. Temos algumas pautas invisíveis, que são leis municipais, estaduais e federais que lutam, na maioria das vezes, sem dados técnicos, contra a bebida alcoólica. Estamos aqui para falar da cultura cervejeira, do lazer e do lado positivo da cerveja.

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