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Futebol feminino no Brasil ganha cerveja em meio a iniciativas de inclusão

Iniciativas buscam promover igualdade de gênero dentro da prática do futebol feminino no país

A história conta que o futebol chegou ao Brasil no final do século XIX, trazido da Inglaterra. Após algumas décadas e muita luta, o esporte, inicialmente elitizado e restrito aos homens brancos, tornou-se “esporte do povo” e ganhou popularidade como “coisa de homem”. Desde então, se tornou uma das mais fortes manifestações da cultura popular, atraindo multidões de apaixonados. No entanto, apesar dos avanços, ainda reflete os problemas da sociedade.

Ironicamente, o “país do futebol” ainda não é para todos, assim como o segmento de cervejas artesanais, ambos predominantemente masculinos, com ambientes preconceituosos e sexistas. No entanto, na sociedade e no setor de cervejas artesanais brasileiro, também existem resistência, luta e iniciativas de inclusão. Um exemplo é a parceria entre a Dádiva e o complexo esportivo Nossa Arena para criação de uma Session IPA, chamada “Primeira Estrela”.

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A Primeira Estrela é uma cerveja nascida para celebrar e apoiar o futebol feminino. A novidade representa a tão sonhada primeira estrela da seleção, que pela primeira vez disputou o torneio feminino sem as estrelas do futebol masculino em sua camisa, o que serviu de inspiração para a criação da cerveja, desenvolvida com lúpulos cítricos e frutados americanos. Ela possui leve amargor e uma graduação alcoólica de 4,4%.

“A ideia [da criação da cerveja] foi celebrar e enaltecer a seleção em um esporte que é tão masculino, assim como o mercado da cerveja ainda é. Então, unimos dois movimentos em um só projeto, e que ainda dá destaque a uma competição mundial tão importante”, diz Luiza Lugli Tolosa, fundadora da cervejaria.

A Dádiva tem como um de seus objetivos a igualdade de gênero e a valorização da mulher no cenário cervejeiro e além dele. Da mesma forma, a Nossa Arena, um espaço esportivo exclusivo para meninas e mulheres na zona oeste de São Paulo, busca inclusão, segurança e acolhimento para elas na prática esportiva. O espaço tem uma estrutura de 8,5 mil m², contemplando quadras de society e de areia, área para eventos esportivos, corporativos, culturais e particulares.

“Eu conheci a Luiza por meio de um grupo de WhatsApp de empreendedoras. Logo percebemos que tínhamos histórias parecidas, de mulheres tendo que provar sua competência em mercados dominados pelos homens”, destaca Júlia Vergueiro, sócia-fundadora da Nossa Arena, comentando sobre a importância dessa parceria que une a cerveja e o futebol feminino, além do encontro de histórias semelhantes entre as duas empresas.

Futebol feminino no Brasil: uma prática cheia de desafios
Apesar dos esforços e conquistas, o futebol feminino no Brasil ainda enfrenta diversos desafios culturais, estruturais e preconceitos que dificultam sua prática e desenvolvimento. O estigma de que o futebol é um esporte masculino, a falta de investimentos e de estruturas adequadas e o preconceito de gênero são alguns dos obstáculos que impedem um crescimento mais expressivo da modalidade.

“Os pais e mães de meninas que estimulam suas filhas a jogar futebol desde cedo ainda são minoria. Existe uma barreira cultural que impede que as famílias enxerguem os benefícios dessa prática esportiva, uma vez que prevalece o discurso de que meninas que jogam futebol se apresentam menos femininas e fora do padrão esperado para ela”, diz Julia.

A sócia da Nossa Arena pontua que são pouquíssimos os locais que oferecem um espaço adequado e seguro para a prática esportiva feminina. “Muitas vezes as quadras não possuem banheiro, ficam em locais escuros e mal localizados, e os horários mais concorridos já estão ocupados pelos homens”, diz.

Ela avalia que os investimentos necessários para que essas estruturas passem a existir dependem do interesse de empresas e órgãos. “Ficam esperando que a modalidade se prove midiática, com alcance e engajamento, para só então se envolverem. Mas como esperar esses resultados sem recursos adequados e com um histórico de proibição da modalidade por quase 40 anos?”, questiona.

Para enfrentar esses desafios, empresas como a A5 Sports têm se destacado por ações de apoio e promoção ao esporte feminino. A agência, com 6 anos de mercado e localizada em Itapecerica da Serra, na região metropolitana de São Paulo, vem realizando iniciativas para inserção das mulheres na modalidade, seja envolvendo as divisões de base dos principais times do Brasil ou competições amadoras de futebol de 7 para públicos de 14 a 50 anos. “Fazer o mínimo que seja tem uma importância enorme para que iniciativas sejam feitas em modo cascata”, avalia Jhonny Lima, gestor e sócio-fundador da A5 Sports.

Ele destaca que a mudança de mentalidade é fundamental para avanços no segmento. E sua empresa tem buscado criar oportunidades para mulheres em sua equipe e oferecer igualdade de acesso e visibilidade através de suas competições.

“Aos poucos, fomos abrindo espaço para esta promoção de eventos femininos, e fez com que internamente quebrássemos a barreira de preconceito”, conta Lima. “A forma de olhar, reconhecer, consumir este produto é aterrorizada por grande parte da população. Hoje, caminha a passos lentos, mas vemos melhora, existe um novo mercado para este reconhecimento e as marcas começaram a entender o valor que tem o futebol feminino”, acrescenta.

A sócia-fundadora Nossa Arena acredita que é essencial que instituições esportivas, clubes, empresas e a sociedade trabalhem juntos para superar os desafios enfrentados pelas mulheres no esporte. “É por isso que a Nossa Arena tomou a frente e investiu em construir um espaço capaz de reunir e fomentar projetos de esporte para meninas e mulheres, além de dar visibilidade para a comunidade do futebol feminino”, diz.

Desde a inauguração em 2021, a Nossa Arena tem se mostrado um espaço importante para o futebol feminino, recebendo, segundo sua fundadora, 800 pessoas por semana. E o negócio focado na modalidade para as mulheres vem se mostrando viável, tanto que tem faturamento anual de R$ 1,8 milhão e espera saltar para R$ 2 milhões com a visibilidade trazida pelo esporte com a disputa da Copa do Mundo.

A competição é uma grande oportunidade para aumentar a visibilidade do futebol feminino, tanto que chama a atenção de outros setores da sociedade, como a indústria da cerveja, e pode inspirar mais mulheres a se envolverem no esporte. Porém, é importante lembrar a necessidade de um esforço contínuo para promover mudanças significativas.

“A realização de um evento de grande porte como a Copa atrai muita atenção da mídia e do público. Isso aumenta significativamente a visibilidade do futebol feminino, permitindo não só as jogadoras, treinadoras e árbitras serem reconhecidas e admiradas pelo trabalho que fazem, como dando palco para as inúmeras iniciativas – de projetos sociais a clubes profissionais – que fazem parte do ecossistema que desenvolve a modalidade por completo”, comenta Júlia.

A Copa deve ser aproveitada para impulsionar uma mudança que precisa ser construída todos os dias. Ela, por si só, não resolve os desafios

Júlia Vergueiro, sócia-fundadora da Nossa Arena

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