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Consumo consciente de álcool pode se tornar “novo normal”, dizem acadêmicos

Momento anormal vivido pelas pessoas deve reforçar a recomendação de consumo consciente de bebidas alcoólicas

Medo, incerteza, angústia e solidão. Esses comportamentos são descritos por milhares de pessoas como consequências da crise econômica e do isolamento social provocados pela pandemia da Covid-19. A preocupação com a saúde mental das pessoas cresceu até mesmo na Organização Mundial da Saúde (OMS), que recentemente fez publicações e alertas sobre o tema. Relacionada diretamente ao assunto, está a importância do consumo consciente de bebidas alcoólicas durante o isolamento social, entre elas, a cerveja.

Especialistas de diferentes áreas de estudo sobre a mente humana e seus comportamentos alertam sobre uma conjuntura de fatores que pode elevar, prejudicialmente, a ingestão de álcool. 

Leia também – O novo mercado: 4 tendências sobre o consumo de cerveja em casa

O tema é de extrema importância e deve definir tendências sobre o consumo de cervejas. Como as bebidas alcoólicas podem gerar problemas de saúde e sociais para as pessoas, as marcas devem estar atentas a este assunto, pois ganha força a ideia de consumo consciente do álcool como o “novo normal”.

O Guia ouviu especialistas para identificar quais sentimentos propiciam o uso excessivo das bebidas e quais alternativas as pessoas estão buscando para evitar esse problema.

Impactos causados pela pandemia
Karina Possa Abrahão, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e mestre e doutora em psicobiologia, diz que não há como afirmar cientificamente quais são as consequências comportamentais causadas pelo isolamento social em seres humanos, em função do ineditismo desse cenário.

“A princípio, a gente não consegue ter certeza sobre o impacto porque é a primeira vez que a sociedade moderna passa por uma situação como essa”, explica Karina, dizendo ainda que testes de isolamento social em humanos não são feitos por cientistas por questões éticas.

“Nos experimentos com animais que gostam de viver em sociedade, quando isolados, eles apresentam comportamentos alterados, como aumento da agressividade e perda de capacidades cognitivas”, informa a professora, que também fez um pós-doutorado nos Estados Unidos, onde estudou comportamentos impulsivos e efeitos do etanol em animais.

Karina utiliza técnicas de farmacologia, como imunofluorescência, eletrofisiologia celular, optogenética, quimiogenética e fotometria, para desvendar os eventos neurais desencadeados das primeiras exposições ao álcool até o seu consumo crônico e descontrolado.

“Considero um problema o aumento do consumo de álcool, pois pode potencializar outras alterações. Por exemplo, o álcool altera os padrões de sono e sem um sono adequado a ansiedade pode aumentar, então vira uma bola de neve”, salienta a professora da Unifesp.

O psicólogo Yuri Busin, mestre e doutor em neurociência do comportamento e diretor do Centro de Atenção à Saúde Mental – Equilíbrio (CASME), diz que qualquer evento pode impactar na saúde mental de uma pessoa. O que varia é a quantidade de ocorrências e a intensidade que cada pessoa dá ao ocorrido. “No atual momento estamos passando por um turbilhão de emoções, com isolamento social, pandemia, medo de morrer, e tudo isso pode e irá afetar as pessoas de diferentes formas”, explica.

Yuri, que também é pós-graduado em psicologia positiva, utiliza uma forma de tratamento chamada Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), que tem o objetivo de entender os sentimentos e pensamentos que influenciam diretamente os comportamentos das pessoas.

“Por exemplo, uma pessoa que passa muito tempo pensando em acidentes de carro, pode se ver numa situação de se recusar a dirigir, fazendo com que ela perca muitas oportunidades de trabalhos, estudos ou viagens”, explica o psicólogo. “A premissa desse tipo de terapia é que, alterando os padrões de pensamentos, é possível mudar comportamentos”, diz, concluindo que nesse momento de pandemia, fugir dos pensamentos que geram os comportamentos negativos é uma forma de manter a saúde mental.

Álcool como ansiolítico
Os especialistas afirmam que a angústia é um dos principais comportamentos que levam ao consumo exagerado de bebidas alcoólicas. “Eu sou categórica em dizer que o estresse, o medo e o isolamento podem impactar no aumento do consumo de álcool e dos problemas relacionados a ele”, explica Karina.

“As pessoas utilizam das drogas desde que o mundo é mundo para lidar com as situações do mundo, e eu considero que as pessoas devem ter o poder de escolha sobre o que ingerem, mas na situação atual devem tomar mais cuidado do que antes com a ingestão de álcool”, adverte a dra. Karina. “Eu sou contra a proibição do uso das drogas em geral, mas eu acho que a gente tem que cada vez mais falar sobre um consumo muito controlado e consciente do álcool”.

Para Yuri, a busca por se sentir bem com rapidez, fugindo da realidade, leva muitas pessoas ao consumo de bebidas alcoólicas em excesso. Mas as consequências nocivas desse fato devem ser atentamente observadas, não só pela pessoa que consome, mas também pela família e amigos. “Não quer dizer que as pessoas não possam tomar sua cerveja, mas deve ser sempre comedido o uso e prestar atenção se já lhe está causando algum efeito negativo, como por exemplo, beber demais e não conseguir realizar as suas obrigações”, alerta.

Alternativas e consumo consciente
Não só agora, mas mesmo após o isolamento social, as pessoas devem procurar hábitos que reforcem as boas emoções para o cérebro. “A boa notícia é que não somos somente contaminados com emoções negativas, mas também com as emoções positivas e é isso que devemos buscar neste momento”, sugere o especialista.

Como forma de ajudar as pessoas nesse momento, o psicólogo criou uma cartilha com 12 dicas de como cuidar da saúde mental durante a pandemia. Estão entre as dicas do especialista, fazer atividades físicas, dividir os espaços dentro de casa com os outros moradores, criar desafios pessoais e até mesmo diminuir a exposição diária ao noticiário sobre a Covid-19. “No meio do caos as pessoas costumam ter muito medo. O pânico também contamina, talvez até mais que o próprio vírus”, alerta.

Buscar atividades alternativas ao consumo de álcool também é a sugestão de Karina. “O fato é que no mundo ideal a gente deveria procurar maneiras diferentes para lidar com a ansiedade ou até mesmo para comemorar. Então, se possível, tente achar outras atividades para não passar esse tempo todo somente utilizando o álcool como ferramenta de distração”, afirma.

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