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Balcão do Jayro: 1,7 planetas

Estive recentemente no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. Segundo o próprio site do museu (clique aqui):

“A Exposição Principal do Museu do Amanhã, concebida com base em uma proposta curatorial do doutor em cosmologia Luiz Alberto Oliveira, em parceria com uma equipe de consultores especializados, ocupa o segundo andar do Museu, onde o público é levado a percorrer uma narrativa estruturada em cinco grandes áreas: Cosmos, Terra, Antropoceno, Amanhãs e Nós, que somam mais de 40 experiências disponíveis em português, espanhol e inglês. […] Antropoceno, ponto central da experiência da Exposição Principal, aborda o entendimento que a atividade humana se tornou uma força geológica: estamos transformando a composição da atmosfera, modificando o clima, alterando a biodiversidade, mudando o curso dos rios. Toda a vida na Terra terá de se adaptar a estes novos tempos plenos de incertezas – e oportunidades.”

E o que isso tem a ver com harmonização, tema caro a este que vos escreve? Bem, tudo. Na seção do Antropoceno, fiz um quiz. Sete perguntas rápidas que mensuram seu padrão de consumo (principalmente combustíveis fósseis) e que me revelaram que meu padrão de consumo é de 1,5 planetas. Ou seja, se todos os habitantes da Terra tivessem o mesmo padrão que o meu, precisaríamos de 50% a mais dos recursos que existem hoje. Fiquei um pouco perturbado com isso, talvez seja o calor insuportável do colapso climático iminente, talvez seja a paternidade, talvez seja o fato de que eu tenho uma vida muito digna e desejo isso para todos – mas não é planetariamente viável. Ah, e ainda fiquei ligeiramente abaixo da média do quiz – 1,7 planetas. Claro, quem frequenta o Museu do Amanhã constitui um recorte social muito específico, não é o recorte da grande maioria da população (brasileira ou mundial). Mas algo tem que mudar. Precisa mudar.

Em algum de seus posts no Instagram a jornalista Ailin Aleixo, que faz um trabalho sensacional no campo da gastronomia e nos hábitos de consumo, usou a seguinte frase que me identifiquei de imediato, a qual vou parafrasear: “Falar de harmonização em um mundo que está colapsando é como discutir decoração de uma casa que está pegando fogo”. Elaine Azevedo, nutricionista e Ph.D. em sociologia política, outro dia fez menção a “comida do fim do mundo”, falando sobre alimentos liofilizados que podem durar até 30 anos. Ela está falando de sobrevivência, não do prazer hedônico da gastronomia. Alimentos liofilizados harmonizam com o que? Com aquela cerveja em sachê, talvez…

Enfim, esta coluna desabafo não é um texto de despedida da coluna, mas, quem sabe, uma provocação. Continuarei a escreve sobre o tema, é o que eu realmente gosto de falar/escrever sobre. Continuarei a tocar violino enquanto o navio afunda. Afinal, serão ações coletivas e não individuais que podem nos salvar. Mas algo tem que mudar. Precisa mudar.

Saúde. Espero.


Jayro Neto é sommelier de cervejas e Mestre em Estilos, tendo sido campeão do Campeonato Brasileiro de Sommelier de Cervejas de 2019. É organizador de concursos da Acerva Paulista e juiz certificado pelo BJCP (Beer Judge Certification Program) com experiência nacional e internacional em concursos de cerveja. Também atua como conselheiro fiscal da Abracerva.

1 Comment

  • Cilene Saorin Reply

    11 de dezembro de 2023 at 20:09

    Ótima provocação, Jayro. Muito obrigada pelo excelente texto. Beijo, Cilene.

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