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Balcão da Matisse: Velho amigo, o bar

“Não conheço nenhuma amizade verdadeira que tenha começado em uma leiteria” (Vinicius de Moraes)

Um poema escrito pelo poeta John Henry Titus, em 1872, conta a história de um artista arruinado pelo amor que entra em um bar, conta sua história e se oferece para esboçar o rosto de sua amada no chão em troca de uma bebida, mas cai morto no meio de seu trabalho. Esse poema também virou um filme de Charles Chaplin chamado The Face on the Barroom Floor.

Sentar-se ao lado de um estranho no balcão e começar uma conversa despretensiosa é uma cena tão comum na vida real quanto no cinema ou na literatura. No filme O Predestinado há uma conversa entre um cliente e o bartender, que é central para o desenrolar da trama. Para quem não viu recomendo fortemente.

São muitos os filmes que têm cenas em bar – ou poderíamos dizer que são poucos os que não têm. Alguns clássicos como Casablanca se passam quase que exclusivamente nesse ambiente, em outros ele aparece discretamente em algumas cenas, como o Três Vassouras, de Harry Potter, mas o bar sempre é onde as coisas acontecem.

Assim como nos filmes, muitas histórias reais acontecem nesse lugar mágico, onde as histórias tristes parecem menos tristes e as alegres ganham mais graça. Parece que nesse ambiente somos menos propensos a sofrer com o sofrimento dos outros e mais disponíveis para nos alegrarmos com a felicidade alheia, uma disposição rara na vida real, quer dizer, na vida real fora do bar.

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Claro que a conversa não começa tão pessoal nem tão verdadeira assim. Primeiro se fala de coisas do dia a dia, notícias, futebol, trabalho, enquanto se consome a primeira e a segunda cervejas. Então vem a terceira e começam as lembranças da infância, do primeiro amor e daí para frente o papo rola solto, limitado apenas pelo preparo físico dos interlocutores, que a essa altura já são amigos. Se a amizade vai ser duradoura ou efêmera depende do caso, mas naquele momento ela é a maior amizade do mundo.

No Quintana’s Bar, sou assíduo cliente. É um bar que não é bar, é um bar diferente

– Carlos Drummond de Andrade

Cada bar é diferente e também é possível se relacionar com ele de maneiras diferentes – nem sempre se vai a ele para conversar. Às vezes queremos apenas nos sentar em uma mesa e contemplar, pensar ou escrever um poema.

Olho em redor do bar em que escrevo estas linhas

Mario Quintana

O que seria da poesia sem o bar?

Saudades, velho amigo.


Mario Jorge Lima é engenheiro químico e sócio-fundador da Cervejaria Matisse

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