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Conheça os três primeiros sommeliers de cerveja brasileiros Surdos

Profissionais se formaram em agosto, através de curso EAD ministrado pelo Science of Beer

A inclusão dos Surdos ainda é um desafio para a sociedade e o setor cervejeiro, apesar dos avanços vistos nos últimos anos, com campanhas, lançamentos de rótulos acessíveis em Libras e a realização de cursos. A educação, aliás, é um dos ambientes mais desafiadores para este público e, ao mesmo tempo, um dos principais caminhos para fomentar a inclusão e igualdade no mercado, com um fato histórico tendo sido celebrado recentemente, a formação de três sommeliers Surdos.

No último mês, Fernando Pacheco, Mateus Vinhal e Mateus Dias conquistaram tal condição ao concluírem um curso do Science of Beer Institute, na categoria EAD, em uma demonstração clara de que a inclusão é possível no setor.

Ligados pela paixão por cervejas artesanais e pela vontade de inserir a língua brasileira de sinais no universo da bebida, os sommeliers chegam ao mercado com sede de conhecimento, cientes dos seus direitos como Surdos e conscientes da importância de suas formações.

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Confira a seguir quem são os três primeiros sommeliers de cerveja brasileiros Surdos:

Fernando Pacheco
O “despertar” de Fernando Pacheco, de 30 anos, para o mundo das cervejas artesanais aconteceu assim que experimentou a bebida pela primeira vez. “Apreciar cervejas virou paixão”, afirma, ao Guia, o assistente de faturamento.

A ideia de se matricular no curso surgiu ao saber da possibilidade através do intérprete Marcos Roberto de Oliveira, de quem é amigo há mais de 20 anos. “Sempre compartilhamos ideias e sonhos quando conversávamos sobre o curso. Fiquei muito interessado e procurei a Science of Beer. No início, a escola viu dificuldades em acessibilizar o conteúdo com a presença de um intérprete de libras, mas não desisti e lutei pelo meu direito ao intérprete”, conta o assistente de faturamento.

Pacheco relata, ainda, que a participação no curso de sommelier lhe deu a certeza de tomar um novo rumo profissional. “Desde que minha matrícula foi aceita, sinceramente falando, minha vida mudou porque descobri minha vocação profissional”, comemora.

Para ele, a formação em sommelier de cervejas o ajudará a causar impacto na sociedade pela possibilidade de transmitir seus conhecimentos para a comunidade Surda. Afinal, ele garante que o curso de sommelier foi apenas o início, pois pretende seguir carreira como técnico cervejeiro e um dia, quem sabe, se tornar mestre cervejeiro.

“Estou muito feliz. É a realização de um sonho e me sinto orgulhoso por ser um dos três primeiros sommeliers de cerveja brasileiros Surdos. Isso não é só uma conquista pessoal, mas também da comunidade Surda e mostra o quanto somos capazes de quebrar qualquer barreira. Um surdo pode estudar o que quiser e ninguém pode impedir a realização de um sonho”, pontua.

Destacando que a comunidade Surda tem dificuldade em entender o universo das cervejas, seus estilos e serviços, Pacheco sublinha que sendo agora um sommelier, será possível fazer a diferença ao incluir a Libras no universo cervejeiro. “Meu objetivo é reduzir as barreiras que a comunidade Surda enfrenta e termos consumidores Surdos informados e satisfeitos”, reforça.

Entre os obstáculos do curso estava principalmente a língua portuguesa e o acesso aos conteúdos, com o uso de termos aos quais não estava habituado. “Por sermos os primeiros, não conhecíamos um vocabulário da área cervejeira em Libras. Tivemos que nos esforçar ainda mais, estudar e criar sinais específicos da área”, conta.

Mateus Dias 
Também com uma paixão antiga por cervejas artesanais, o ex-fotógrafo Mateus Dias, de 40 anos, tinha o desejo de produzir a bebida de modo caseiro, antes mesmo de realizar o curso. Após sua segunda tentativa de formação na área, pois não teve sucesso na primeira justamente pela falta de acessibilidade, ele não esconde o orgulho e a gratidão por ser um dos primeiros sommeliers Surdos brasileiros.

“Eu, com certeza, pretendo continuar aprofundando meus estudos, colocar em prática o que aprendi no curso e, quem sabe, ser um cervejeiro profissional com minha própria fábrica”, sonha Dias, que hoje mora nos Estados Unidos.

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Ciente de que sua formação se inclui na luta por um setor mais inclusivo, ele destaca que a participação no curso pode estimular o interesse de outros Surdos que almejem ser cervejeiros. “Atuar no contexto cervejeiro irá, por consequência, forçar o setor a ser mais inclusivo porque estou aqui e agora, não há como me ignorar. As instituições de ensino, no contexto cervejeiro, precisam se preparar para esta demanda emergente. E uma das formas de se fazer isso é pelo uso de tradutores intérpretes”, completa.

Durante o curso, ele precisou superar alguns desafios. Sem ter conseguido receber o kit disponibilizado pela escola para análise durante as aulas, por estar fora do país, Dias precisou utilizar outras cervejas, de marcas diferentes, para as degustações guiadas.

Mateus Vinhal

Apreciador da cerveja artesanal e em busca de conhecimento sobre a história e os sabores que a bebida proporciona, o assistente de marketing Mateus Vinhal, de 26 anos, lembra que a ideia de ingressar nas aulas surgiu do próprio intérprete Marcos. E, claro, ele aceitou na hora.

“Ser uns dos primeiros surdos sommeliers no Brasil dá uma sensação enorme de felicidade. Fizemos história e vamos levar para o público o que aprendemos sobre cerveja. Como também busco me profissionalizar nesta área, será um desafio enorme, mas para quem ama uma cerveja artesanal, isso não será impossível”, diz Vinhal.

Para ele, que sonha em abrir uma cervejaria no futuro, sua formação é importante por ser o começo do processo para entender mais sobre a bebida, compreendendo também a necessidade de compartilhar seus conhecimentos com a comunidade Surda. “Muitas vezes, este público não tem acesso à informação, seja na internet, na televisão, nos bares, palestras e eventos”, diz.

Vinhal defende que as instituições de ensino devem oferecer um intérprete para o aluno Surdo e que os vídeos sejam adaptados para Libras. “Infelizmente, é uma prática comum as instituições se recusarem a contratar um profissional intérprete de Libras alegando falta de recursos”, finaliza.

Inclusão na prática
O intérprete de Libras nas aulas do Science of Beer foi Marcos Roberto de Oliveira, idealizador do canal Cerveja Artesanal em Libras, professor da Universidade Federal de Uberlândia, sommelier e idealizador de várias ações de inclusão dos Surdos no setor.

“Minha avaliação é extremamente positiva e otimista. Ter três Surdos que são usuários proficientes da Libras como sommeliers, fará com que o mercado cervejeiro fique mais atento às necessidades linguísticas deles”, diz.

Ele pontua, ainda, que todas as instituições de ensino precisam considerar esta nova demanda educacional, assim como o trabalho de um profissional tradutor intérprete deve constar nas planilhas de gastos das instituições. “Não há como negar a matrícula seja para quem for. Se a instituição anunciar um curso e qualquer Surdo quiser fazê-lo, a presença de um profissional tradutor intérprete, é, digamos, direito inegociável do aluno Surdo.”

Além das escolas cervejeiras, como aconteceu com o Science of Beer, o intérprete espera que todo o setor se adapte às demandas dos Surdos, os incluindo e se tornando mais plural. “Não há como ignorar uma demanda que agora é tão emergente. Não estou considerando se há poucos ou muitos Surdos atuando no setor e que precisam ser incluídos. O ponto em questão é: independentemente da quantidade, há, hoje no Brasil, Surdos que necessitam de acessibilidade no setor cervejeiro”, finaliza.

Além da atuação do intérprete, para que fosse possível a formação dos três sommeliers de cerveja brasileiros Surdos, o Science of Beer precisou se adequar às necessidades desses alunos, o que fez ao repassar aos professores do curso orientações sobre como ensiná-los sem que houvesse defasagem de aprendizado, assim como realizou a adequação da ferramenta utilizada para as aulas online.

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