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Itália x Inglaterra: E se a final da Eurocopa fosse entre as cervejas dos países?

Final da Eurocopa contrapõe a tradição da cerveja inglesa com a inventividade da artesanal italiana

Confrontos que colocam em um lado o que é tradicional contra algo inovador são rotineiros, quase um clichê, na sociedade, nas expressões artísticas e nos esportes. E um deles bem que poderia acontecer neste domingo, caso a decisão da Eurocopa entre Inglaterra e Itália não fosse disputada no estádio de Wembley, mas em uma mesa de um bar, um pub ou uma cantina, entre as cervejas desses dois países.

As diferenças entre as cervejas italiana e inglesa, na visão de especialistas ouvidos pelo Guia, já se iniciam por aspectos culturais. E isso influenciou as trajetórias e a tradição que cada uma construiu. Por exemplo, a cerveja – e o seu consumo em pubs – sempre foi um forte aspecto na sociedade inglesa, o que trouxe efeitos para o seu modo de fabricação.

“É um lugar do mundo onde a cultura cervejeira é muito forte, muito enraizada. Os ingleses amam cerveja, assim como amam futebol também. São duas coisas que estão muito ligadas, inclusive se reunir nos pubs para assistir os jogos e até comemorar as vitórias, tomando uma tradicional cerveja inglesa, é realmente algo que os ingleses gostam muito de fazer”, lembra o sommelier Rodrigo Sena.

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É um contexto bem diferente ao dos italianos, marcados em sua trajetória pela tradição do vinho. Mas, com o tempo, o apreço pela produção artesanal rendeu ótimos resultados. “A Itália é um dos países onde tradicionalmente o vinho é a bebida mais popular. E que tem ali uma cultura mais enraizada. O italiano toma um vinho no almoço, eles têm máquinas de vinho espalhadas pelas ruas”, acrescenta Rodrigo.

Contrapontos que se refletem, assim, em suas cervejas e nas seleções finalistas da Eurocopa. De um lado, a secular cerveja inglesa, tradicional, feita com ingredientes mais básicos, contra a inovação e uma nova forma de se ver e produzir a bebida na Itália.

A tradição inglesa
O sommelier Luís Celso Jr. lembra que, além de ser uma das quatro escolas cervejeiras do mundo, a Inglaterra possui uma tradição que remonta a períodos anteriores à Idade Média.

“Tem várias influências anteriores, do Império Romano, que chegou até a Inglaterra, e até mesmo dos escandinavos, dos vikings. Tanto é que a palavra Ale, que é como o britânico chama a sua cerveja, vem do escandinavo”, diz Celso, também destacando que a evolução da malteação e sua tecnologia no país tem relação direta com a possibilidade de criação de diferentes cervejas e estilos, com a consolidação de alguns tipicamente ingleses, como Porter e Pale Ale, que conquistaram espaço no mercado especialmente a partir dos séculos XVIII e XIX, respectivamente.

Para Rodrigo, esta longa história se reflete em produções de cervejas sem a inserção de muitos aditivos. “A cerveja na Inglaterra tem uma característica muito própria ali da escola inglesa, são estilos mais tradicionais. Não tem tanta invenção. São cervejas, normalmente, só com os ingredientes básicos, malte, lúpulo, levedura e água.”

A cerveja inglesa também é diretamente influenciada pelos pubs, onde tradicionalmente eram consumidas direto dos barris, que passavam por fermentação a cada vez que o recipiente era completado com a produção, depois sendo servida por gravidade.

A cerveja inglesa tem menos carbonatação, menos espuma porque ela é uma cerveja que, por ser servida tradicionalmente dos barris, perde gás

Luís Celso Jr., sommelier e fundador do Bar do Celso

Celso também destaca a participação efetiva da Inglaterra no renascimento das artesanais, o que inclui a valorização da cerveja acondicionada em barris, amadurecida por essa fermentação secundária, em um reforço das tradições.

“Um movimento acontece a partir dos anos 1970, nos Estados Unidos e na Europa, principalmente na Inglaterra. Eles acabam sendo o símbolo nacional da cerveja inglesa. Alguns jornalistas ficam descontentes com a invasão do chope, da cerveja sob pressão, com esses barris recebendo pressão de gás carbônico para soltar a cerveja. E isso era o símbolo da cerveja em massa. E eles acabam fazendo um grupo chamado Camra (Campaign For Real Ale), que surge para propagandear a Real Ale Caske Beer”, comenta.

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A inventividade italiana
Enquanto a Inglaterra busca valorizar a sua tradição, a Itália encontrou, aos poucos, as suas próprias soluções para produzir cervejas com características próprias. A partir do uso de estilos clássicos vinculados a escolas como a belga e a própria inglesa, mas sem imitações, inventou algo diferente a partir de uma das suas fortalezas históricas: a gastronomia e o uso habilidoso de ingredientes e condimentos, como destaca Celso.

“Algumas cervejarias principais acabam nascendo no fim dos anos 1980, algumas ideias malucas acabam acontecendo e bastante gastronômicas, o que tem tudo a ver com a Itália, com o seu apreço pela gastronomia”, aponta Celso. “Então, tem algumas cervejarias bem legais, como a Baladin, por exemplo, e algumas outras que usam de uma forma muito habilidosa as adições de tempero na cerveja, condimentos dos mais diversos, como mix de ervas, vários tipos de materiais que eles podem usar aí para dar cor, aroma, sabor.”

Para ele, a forte relação italiana com as produções artesanais também ajuda a explicar a ascensão recente da cerveja no país. “Tem a questão da cerveja artesanal, como um produto mais nobre, um produto diferente. E o italiano gosta de valorizar o que é artesanal, tem um apreço por essas coisas, feitas em casa, boa pizza napolitana feita na pequena pizzaria. Tem todo um apelo que fez com que a ideia da cerveja artesanal crescesse muito rápido na Itália”, analisa Celso.

E as seleções?
A renovação e a inventividade das cervejas artesanais italianas também são vistas por Rodrigo na trajetória da seleção do país na Eurocopa. Afinal, após ser campeã mundial em 2006, vinha acumulando fracassos, tendo sido eliminada na primeira fase das Copas de 2010 e de 2014, além de nem ter se classificado para a edição de 2018.

Foi, assim, necessário, se reinventar. E, além de passar pela saída de referências defensivas, como Buffon, a equipe acabou sendo construída com uma formação ofensiva – e até ousada para os seus padrões históricos – pelo técnico Roberto Mancini. Um pouco como as suas cervejas, como avalia Rodrigo, o que ajuda a explicar a impressionante série invicta de 33 jogos da finalista da Eurocopa.

Fazendo um paralelo com a seleção, a italiana praticamente renasceu. Ela chegou no fundo do poço, deixou de ir para a Copa do Mundo, amargou aí alguns anos muito ruins e teve que se reinventar, jogando outro futebol. Então, hoje, a gente vê uma Itália diferente da tradicional, que sempre jogou na retranca, buscando o contra-ataque. Hoje você tem uma Itália agressiva, que trabalha a bola no meio-campo, que é aguda no ataque. Uma Itália que consegue ter atacantes fortes e presentes, que não era tão comum na sua escola futebolística

Rodrigo Sena, sommelier e responsável pelo canal Beersenses

Já a Inglaterra, na visão de Rodrigo, consegue refletir os seus diferentes estilos de cervejas na sua seleção na Eurocopa. A equipe tem a defesa menos vazada do torneio, com apenas um gol sofrido, e viu Pickford bater o recorde do lendário Banks na equipe em tempo sem ser vazado – 721 minutos.

“Tem uma defesa muito forte, muito parruda, que é difícil de tomar gol. O Pickford, o goleiro, bateu o recorde de minutos sem tomar gol, que era do Gordon Banks. Então é uma defesa muito forte, é uma defesa Strong Ale”, diz ele, avaliando que o meio-campo do time dirigido por Gareth Southgate se assemelha, em estilo, às cervejas escuras.

“A gente tem o meio-campo que é muito marcante também, tem uma saída de bola muito boa, que tem jogadores que sabem pensar o jogo. Eu faria um paralelo aí com as escuras, com as Porters e as Stouts, que são cervejas bastante marcantes”, acrescenta Rodrigo.

Já o ataque, que tem Sterling e o artilheiro Kane como referências, lembra, em sua visão, as Bitters, mais leves e costumeiramente bebidas em grandes quantidades nos pubs. “É aquele ataque rápido, leve, fácil de ver, gostoso de apreciar, assim como as Bitters com Sterling e Harry Kane. Um ataque muito, muito, marcante. Mas não agressivo, só que gostoso de se ver. Então, eu faria o paralelo com as Bitters”, explica Rodrigo.

Antes mesmo do começo da Eurocopa, as seleções de Itália e Inglaterra eram consideradas favoritas ao título, mas só os italianos já foram campeões continentais, em 1968. Para quebrar o jejum, os ingleses terão de se tornar o primeiro anfitrião a vencer uma final europeia no século XXI – Portugal e França foram derrotados em 2004 e 2016, respectivamente, em casa.

Além disso, a Itália venceu os quatro confrontos por competições oficiais – Eurocopa de 1980 e 2012 e Copas do Mundo de 1990 e 2014. O resultado do quinto, que definirá o campeão da Eurocopa, será conhecido a partir das 16 horas (de Brasília) deste domingo, em Wembley, certamente com muitas cervejas – italianas ou inglesas – na celebração.

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