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Mussum, 80 anos: O legado das suas facetas na cerveja e a luz dada à representatividade

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Projeto Artistas do Cacildis busca dar voz ao legado de Mussum a partir de entrevistas com ícones da cultura afro-brasileira

Um dos maiores artistas brasileiros, Antônio Carlos Bernardes Gomes, eternizado como Mussum, completaria 80 anos em 2021, como um nome de destaque do humor e do samba. E seu legado e memória estão eternizados, seja em memes na internet, programas na televisão, camisetas, bottons ou cervejas.

Mussum, afinal, será sempre lembrado por suas atuações no grupo cômico Os Trapalhões e por suas contribuições à música brasileira no grupo Os Originais do Samba. E para homenagear o aniversário do artista, a Brassaria Ampolis, marca do Grupo Petrópolis, realiza, em parceria com a agência Vírgula, o projeto “Artistas do Cacildis”.

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Em 2013, Sandro Gomes, um dos filhos de Mussum, e Diogo Mello fundaram a Brassaria Ampolis, que hoje conta com quatro rótulos fixos: Cacildis, Biritis, Ditriguis e Forévis. Agora, então, prepararam o “Artistas do Cacildis”, projeto audiovisual de entrevistas, apresentado por Mumuzinho. O cantor entrevista ícones da cultura afro-brasileira, com o intuito de abordar assuntos de carreira e a importância dos artistas que foram inspirações para os entrevistados, tendo o objetivo de dar luz à representatividade e ao legado de Mussum.

“Não é novidade que o Brasil é um país muito diverso, entretanto, durante muitos anos, isso foi invisibilizado – com o passar do tempo a diversidade e a inclusão vem sendo mais discutidas. Em ‘Artistas do Cacildis’, Mumuzinho discute negritude, representatividade, amor próprio e, principalmente, a música. Assuntos que são de grande relevância social”, conta Sandro Gomes.

Ele lembra que seu pai encantou o Brasil inteiro, com bordões que marcaram gerações, tendo, como inspiração, a representatividade. “Um homem negro e de origem humilde, que conseguiu fazer história no humor. De acordo com o padrão da sociedade, suas chances eram mínimas, mas ele foi contra essa regra e se tornou o Mussum que conhecemos”, completa.

André Carrico, vice-chefe do Departamento de Artes e professor adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), destaca como a luta contra a discriminação racial e social é fortemente atrelada ao personagem. “O Mussum está dentro de um outro contexto de comicidade dos anos 1980, mas tem um peso você pensar num artista que foi o primeiro cômico negro que fez muito sucesso na televisão”, comenta o professor, que terá a sua tese de doutorado publicada com o livro “Os Trapalhões: Uma Leitura da Comédia Popular Brasileira”.

O pesquisador explica ainda que, por mais que a comédia dos Trapalhões em alguns momentos usasse de preconceitos que na perspectiva de hoje são inadmissíveis, Mussum, enquanto cômico, sempre se colocava contra a discriminação. “Quando tinha piadas racistas, e infelizmente havia, ele não deixava quieto. Ele reivindicava de alguma forma, da maneira que ele tinha nos anos 1980 e dentro daquela estrutura, a posição social da sua etnia”, diz.

Na visão do professor, Mussum também usava de sua posição para reivindicar os direitos dos negros e a presença maior em espaços artísticos. “Naquele momento histórico, anos 1970 e 1980, o personagem tem várias cenas e vários momentos em que reclama do próprio preconceito racial. Inclusive, tem um documentário em 1980 onde ele [Mussum] aparece e fala: ‘eu acho que tem que ter cada vez mais criolo [ainda que seja um termo preconceituoso] na televisão, sim. Eu sou o primeiro e acho que tem que ter mais’. Não é uma reivindicação engajada em comparação com os dias atuais, mas dentro daquele contexto, era a sua forma de reivindicação”, afirma.

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Palhaço e sambista
O carisma do Mussum era um diferencial que provocava um carinho especial do público. “Um personagem muito carismático e que tinha uma relação diferenciada. Costumo dizer que tem o público dos Trapalhões e tem um público específico do Mussum. Inclusive em relação às crianças”, avalia Carrico.

É por essa relação com as crianças, na avaliação do professor, que Mussum desenvolveu um personagem, ainda que não explicitamente, com outras preocupações sociais, como o uso indiscriminado do álcool, mesmo havendo uma associação entre a bebida e a alegria.

“Acho interessante porque o Mussum é o palhaço que bebe e está sempre enaltecendo o que ele chama de ‘mé’, que é a cerveja ou a cachaça, e está sempre brincando com aquilo que é coisa do brasileiro mesmo, o apreço, como uma ligação também da bebida alcoólica com um momento de descontração e de alegria, afinal a gente está falando de um grupo cômico”, argumenta.

A hipótese é que justamente por estarem atentos a essas preocupações é que Os Trapalhões nunca tiveram problemas em serem acompanhados pelo público infantil. Além disso, o grupo dava espaço para manifestações culturais do povo e suas características.

“É legal a maneira como ele lida com a bebida e como aquilo está ligado à alegria, porque, no fim, o que eles estão falando é das classes populares. Se você pegar, os Trapalhões era um humor popular. Eles são o povo brasileiro, um veio da roça, o outro é um migrante nordestino, o outro é favelado e o outro é o cara que mora na periferia. Então, eles são esse povo das regiões periféricas do Brasil que migra para a grande cidade, onde a alegria é o seu churrasco, bebida e samba”, destaca o pesquisador.

Mas a importância de Mussum não se atém ao programa humorístico, vindo de antes, com a sua presença no Originais do Samba, um dos primeiros grupos de samba formado inteiramente por negros a fazer sucesso no Brasil. Carrico explica que Mussum foi para Os Trapalhões porque já desempenhava um papel de mestre de cerimônias nos shows da banda. “Além de cantar samba, já contava piadas e dançava muito bem em suas apresentações. E foi isso que chamou a atenção de produtores de TV e em um segundo momento aos Trapalhões”, completa.

Foi em sua passagem pela Aeronáutica, que Mussum aprendeu música por partitura. E além de grande percussionista, também era um grande compositor. “Ele vai para os Trapalhões quando o Os Originais do Samba já era um grande sucesso. Tem muitos filmes em que ele aparece tocando instrumentos e dançando. Então era um palhaço dançarino e músico”, afirma o professor.

O grupo Os Originais do Samba também ficou marcado por lançar um estilo próprio de fazer e cantar samba. E o artista era um esteio da banda. “Eles tinham uma musicalidade particular, uma ginga particular, também manifestados nesse carisma do Mussum”, relembra o pesquisador. “Tanto é que quando ele sai do grupo, o Os Originais do Samba permanece, mas já não com o mesmo sucesso”, lembra.

São, assim, as diversas facetas que explicam a permanência de Mussum como referência na cultura brasileira mesmo quase 30 anos após o seu falecimento, tendo se transformado em um ícone pop. “Ele morreu em 1994 e décadas depois este homem continua vendendo bottons, camiseta, cerveja. Então, muito tempo depois do seu falecimento, não só os Trapalhões continuam passando na televisão com sucesso, mas o Mussum, isoladamente, continua sendo uma espécie de Carmen Miranda, com o ícone de Charles Chaplin, de Mickey Mouse…”, finaliza Carrico.

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