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Espaço aberto: Abridores com furo quadrado

Furo fazia com que abridor se transformasse em ferramenta imprescindível

*Por Carlos Alberto Tavares Coutinho

Muitos abridores de garrafas do início do século XX têm um pequeno orifício quadrado chamado de “Chave Prest-O-Lite”.

O automóvel, a primeira “carruagem sem cavalo”, tinha simples lâmpadas a óleo, e isto quando tinha alguma coisa. A chama amarela que nascia do pavio, imerso em um recipiente com óleo, querosene ou gasolina, dava apenas luz aos motoristas para que eles evitassem os buracos.

Logicamente, isso não significa que não havia quem viajasse à noite ou precisasse das luzes para chegar em casa. Por isso, desde o século XVIII, os cocheiros adaptavam lanternas às suas carruagens.

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Como a luz precisava iluminar ao redor dos cavalos, os cocheiros instalavam uma lanterna em cada lado da carruagem. Inicialmente, eles usavam velas e refletores de metal polido. Depois da descoberta do acetileno, no fim do século XIX, as velas foram substituídas por recipientes com esse gás. São as chamadas “carbide lamps” ou simplesmente “lanternas/lâmpadas de acetileno”. Os faróis Prest-O-Lite foram originalmente usados em charretes puxadas por cavalos.

Os condutores de automóveis, naqueles tempos heroicos, não se atreviam a viagens noturnas, não só porque o estado das estradas não era dos melhores, mas também por haver a possibilidade de um desarranjo no motor.

Quando os primeiros carros começaram a circular, eles tinham motores sob os bancos ou na parte traseira do chassi, então os faróis poderiam ficar em qualquer lugar. Mas como o design daqueles carros era diretamente derivado das carruagens — é por isso que naquela época, antes de ser chamados “automóveis”, eles também eram chamados de “horseless carriages“, ou “carruagens sem cavalos” –, quando alguém decidiu colocar faróis em um carro, eles foram posicionados como as lanternas das carruagens. Mais tarde, quando os próprios fabricantes passaram a equipar seus carros com faróis de fábrica, o padrão simplesmente foi mantido e assim permanece até hoje.

A velocidade dos automóveis não passava muito dos 15 km/h. Mas à medida que os automóveis ficavam mais velozes, começaram a exigir uma luz mais clara, deixando o antigo sistema de iluminação com um pavio embebido em óleo, querosene ou gasolina. No começo do século XX, vários automóveis começaram a utilizar a nova técnica de iluminação à base da queima do gás acetileno. O acetileno era obtido por meio de uma reação química que acontecia na própria lanterna com a mistura de água e carbureto. Para a chama não apagar, a lanterna era protegida por um vidro. Infelizmente, este combustível não durava muito e era bastante volátil, mas era a solução mais eficaz para iluminar o caminho. O histórico Ford Modelo T, por exemplo, usava lâmpadas de acetileno à frente e a óleo na traseira.

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Evidente que acender esse equipamento não era tarefa simples. Primeiro era necessário abastecer os reservatórios com água e carbureto. Para dar início à reação química que liberaria o gás, deixava-se a água gotejar sobre o carbureto. Quando o gás acetileno começava a se formar, era a hora de abrir a válvula e acender o farol com um fósforo. Isso sem contar a dificuldade de limpar e desobstruir os dutos do sistema e o mau cheiro do gás.

Era, apesar de algumas resistências a seu uso, um mal necessário. Havia sempre o perigo de explosões e necessitavam de frequentes inspeções. Mas, por mais de 15 anos, a iluminação a acetileno foi praticamente a única a ser usada nos carros a motor.

Mas, o que os faróis têm a ver com o abridor de garrafas?

Com a invenção da tampa (coroa de cortiça) e por conseguinte do abridor de garrafas, que eram feitos de aço ou latão em forma de figura plana, logo no início as cervejarias visualizaram um espaço para sua propaganda e passaram a utilizar o corpo do abridor para anunciar seus produtos e seus endereços. Outras cervejarias com um pouco mais de visão, além de sua propaganda, procuraram colocar nos abridores alguns apetrechos com alguma outra utilidade, pois quanto maior a utilização, maior a visibilidade de sua propaganda. Assim, incluíram peças como saca-rolhas, cortador de capas de rolha de cortiça, pequenas chaves de fenda ou furadores e o mais importante: um furo quadrado.

Esse furo, na verdade, fazia com que o abridor se transformasse numa ferramenta imprescindível, para quem utilizasse os faróis de acetileno, antes que os faróis elétricos fossem amplamente usados. Os abridores de furo quadrado foram usados de 1910 até o início de 1930 para abrir e fechar a válvula do acetileno e permitir a regulagem da chama nos faróis dos veículos e, inclusive, para evitar que pessoas não autorizadas mexessem nela, já que a regulagem era quadrada e sem a ferramenta adequada era mais difícil.


*Carlos Alberto Tavares Coutinho é funcionário público septuagenário e aposentado que atende pelo pseudônimo de Cervisiafilia, colecionador de itens de bebidas desde 1994, blogueiro que tenta escrever sobre a história da cerveja brasileira no blog cervisiafilia.blogspot.com.br – A História das Antigas Cervejarias.

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