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Balcão do Aloisio: O recente aumento da produção de cevada no Brasil

A expansão da cultura da cevada no Brasil é relativamente recente e foi, em grande parte, fomentada pela indústria cervejeira, a fim de garantir a oferta de grãos de cevada em função do encarecimento do produto no mercado externo, na década de 1970.

Segundo dados da Conab, de 1976 a 2022, a produção de grãos de cevada no Brasil passou de 95,3 mil toneladas para 498,1 mil toneladas, um crescimento médio de 8,8% ao ano. Ao longo desse período tivemos oscilações anuais, desde queda de 48,5% (no ano de 2006) até alta de 85,8% (em 1984). Ultrapassamos a barreira das 200 mil toneladas em 1988, das 300 mil toneladas em 1997 e das 400 mil toneladas em 2019 e, provavelmente, ultrapassaremos a das 500 mil toneladas em 2023.

Em 2019, tivemos um recorde de produção, com 429,1 mil toneladas de grãos de cevada. E esse recorde foi novamente quebrado em 2022, quando foram produzidas 498,1 mil toneladas. A estimativa de safra para 2023, divulgada pela Conab em setembro de 2023, é de 502,5 mil toneladas. Se confirmada essa produção, teremos um novo recorde. Será o terceiro em cinco anos. De 1976 até 2022, o recorde foi batido 12 vezes, o que dá uma média de uma quebra a cada 3,8 anos, embora tenha havido quebra de recorde por três anos consecutivos por duas vezes, mas também períodos de mais de 10 anos sem quebra de recorde.

Quais fatores tem contribuído para esse aumento na produção de cevada observado nos últimos cinco anos? Sem dúvida, um dos motivos é o aumento na demanda por grãos de cevada por parte das maltarias instaladas no País, cuja produção atende apenas um terço da demanda por malte na indústria cervejeira. Houve aumento na capacidade nacional de produção de malte nos últimos anos, chegando a 750 mil toneladas anuais em 2022, o que demanda uma quantidade de grãos de cevada da ordem de 900 mil toneladas por ano. Além disso, uma nova maltaria está prevista para entrar em operação até final de 2023, em Ponta Grossa-PR, e o início da construção de uma outra, em Guarapuava-PR, está previsto para 2024. Quando todas essas maltarias estiverem funcionando com plena capacidade, o Brasil passará a produzir mais de 1 milhão de toneladas de malte por ano, o que demandará em torno de 1,2 milhão de toneladas de grãos de cevada, mais de duas vezes a produção prevista para 2023.

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O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de cerveja, perdendo apenas para Estados Unidos da América e China. Demanda em torno de 2,1 milhões de toneladas de malte anualmente e só produz 750 mil toneladas, sendo muito provável que, nos próximos anos, tenhamos ainda novas maltarias sendo construídas no País, além daquelas já relatadas. Temos, portanto, que crescer muito nossa produção de cevada para alcançar a autossuficiência em grãos e malte de cevada. Embora ainda haja potencial de crescimento na região Sul do Brasil, a principal região produtora, é provável que a autossuficiência somente venha quando a produção se expandir para o Brasil Central, onde, sob irrigação, no período do inverno, há condição para produção de cevada com alta qualidade de grãos sem os riscos climáticos associados à produção na região Sul do Brasil.

Atualmente, tal expansão esbarra na concorrência com outros produtos como cenoura, cebola, alho e feijão, entre outras, por áreas irrigadas. No entanto, de 1960 para 2017, as áreas irrigadas no Brasil passaram de 500 mil hectares para 6,7 milhões de hectares, um aumento de 1.340%. Se esse ritmo de crescimento nas áreas irrigadas se mantiver, é provável que, num futuro próximo, o gargalo da concorrência com outras culturas seja vencido e haja disponibilidade de áreas para o cultivo da cevada no Brasil Central, o que traz perspectivas de grande aumento na produção de grãos de cevada no Brasil, dando mais um passo rumo à autossuficiência em grãos e malte de cevada no País.


Aloisio Alcantara Vilarinho é engenheiro agrônomo com doutorado em Genética e Melhoramento de Plantas. Pesquisador da Embrapa desde 2003, ele atua, desde novembro de 2019, como melhorista de cevada na Embrapa Trigo.

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