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Em bairro boêmio de São Paulo, Torneira se firma como bar “de todes para todes”

torneira bar
Estabelecimento na Vila Madalena conta com oito colaboradores fixos na casa, todos membros da comunidade trans

Um dos bairros mais famosos de São Paulo pelas atrações boêmias conta, agora, com um símbolo de diversidade e inclusão. Com um pouco mais de 5 meses de funcionamento na Vila Madalena, o Torneira Bar está ganhando espaço no mercado e conquistando o público cervejeiro por colocar a inclusão em prática com a proposta de um “bar de todes para todes”.

A casa chama a atenção por ter uma equipe formada 100% por pessoas trans e não-binárias, além de sua programação ser voltada para o público LGBTQIA+, mulheres e negros.

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A sociedade do Torneira Bar é formada pelos sommeliers de cerveja Christian Montezuma e Dani Lira. E a ideia de empreender nasceu justamente pela paixão de ambos por cervejas, com a inclusão de outros grupos de pessoas a um ambiente majoritariamente masculino, brancos e hétero, sendo um fato determinante para a criação do bar.

“O Christian é advogado trabalhista e eu sou ex-bancária. E a gente queria empreender no mercado cervejeiro. Quando pensamos em ter um bar, levantei a mão e falei: se a gente for fazer um ambiente cervejeiro, ele tem que ser diferente, porque eu, como mulher preta nesse meio, já passei por algumas situações”, comenta Dani.

Embora o Torneira Bar tenha sido aberto em São Paulo, a ideia inicial era de que o espaço fosse no Rio de Janeiro, cidade dos sócios, sendo uma opção pós-praia. Entretanto, a mudança da dupla para a capital paulista em meio à pandemia da Covid-19 veio junto com a alteração no local onde o bar acabou sendo criado. A crise sanitária, inclusive, os permitiu consolidar os planos e estratégias. “A gente começou a desenhar o bar e nesse período de pandemia começamos a estudar sobre inclusão e diversidade porque ambas as palavras são ligadas, né?”, reflete Dani.

E foi justamente definindo o projeto que outra importante questão foi levantada pelos sócios do bar: o público LGBTQIA +. “É quase zero dentro dos espaços cervejeiros. Você não vê a galera LGBTQIA+ nos eventos, é muito difícil encontrá-la em bares”, explica.

Um bar de todes
A ideia de criar um “bar de todes que respeitasse todes” dentro da sigla LGBTQIA+ fez os sócios começaram a aprofundar-se ainda mais na comunidade. Foi quando encontraram o público transgênero. As travestis, geralmente, enfrentam ainda mais dificuldades de se colocarem no mercado de trabalho, em muitos casos por preconceito.

“É uma responsabilidade. Como a gente vai pautar diversidade se não tiver representatividade dentro do nosso bar?”, indaga Dani. “É o que falo para muitas pessoas: não é só a gente colocar uma bandeira no dia da semana da Parada Gay. É agir de fato, colocá-las [as pessoas trans] para dentro da nossa casa. É um posicionamento”, pontua.

Com a ajuda de um portal de empregabilidade para pessoas transgêneras, os sócios do Torneira Bar conseguiram direcionar as vagas para elas. E encontraram toda a mão de obra de que precisavam. “Com muito orgulho a gente fala isso, hoje. Realmente é uma equipe 100% trans. Temos padrões aqui dentro do bar e nada muda por ser uma equipe trans”, destaca Dani.

‘É muito gostoso fazer parte disso porque a gente percebe que o Torneira Bar é ainda tão jovem e já vem mostrando alguns pontos para esse universo cervejeiro. A gente percebe, inclusive, dentro dos nossos parceiros, que vêm conversando, sondando e querendo entender melhor essa relação de diversidade. Esse não é o é a. Ou não, não é a é o. E é muito legal essa preocupação”, comenta Dani.

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Atualmente, o Torneira Bar conta com oito colaboradores fixos na casa, todos membros da comunidade trans, além dos freelancers que costumam ser contratados para os finais de semana e períodos mais agitados.

Dani explica que a casa ainda não tem um trabalho de marketing direcionado, mas o boca-a-boca vem dando fama ao bar, que está conseguindo chegar ao seu público-alvo. “A gente percebe que o clima do bar e dos clientes é de respeito. Tem um público misto. E são muitos eventos direcionados. Por exemplo, no dia que fazemos um evento de forró, percebemos que temos um público com maioria lésbica. Quando a gente faz evento como o Transarau, voltado para comunidade trans, temos muitos participantes trans”, comenta.

E a cerveja artesanal?
Por serem sommeliers de cervejas, os sócios têm uma relação direta com a cerveja artesanal. E, neste novo empreendimento, também exercem o papel de apresentação das bebida para o público, como relata Dani.

“É importante que provem e conheçam. A gente enfrenta muito no bar o comparativo, falando que a cerveja é cara. A nossa relação é mostrar que a cerveja artesanal é possível. É uma questão de cultura, de mudar a visão da cerveja e trazer isso para todos os públicos.”

Apesar dessa relação mais íntima com as artesanais, o Torneira ainda não possui sua própria cerveja, mas já participou de vários rótulos colaborativos e pretende integrar outros, principalmente aqueles ligados à diversidade e à inclusão.

Palavra de ordem: coragem
Para quem, assim como os sócios do Torneira Bar, está com a ideia de desenvolver um projeto de diversidade e de fortalecer o setor de cerveja artesanais, a palavra de ordem é coragem.  “A gente inclusive saiu em um veículo jornalístico recentemente e tivemos reação dos ‘haters’”, diz Dani. “Mas é o que sempre digo: abrace. Não ache que é só porque você não é que você não pode abraçar uma causa”, afirma.

Dani revela, inclusive, que o maior apoio aos sócios do Torneira Bar, diante dos ataques, veio da equipe de funcionários. “Eles nos abraçaram, porque talvez já tenham passado tanto por isso e sabem enfrentar melhor do que a gente. Algo que não deveria acontecer, mas estamos enfrentando juntes e misturades”.

Além de resistir, abraçar e agir por uma causa, a sócia do Torneira Bar ressalta a importância de o seu espaço inspirar outras iniciativas do tipo.

Quando se fala, hoje, em diversidade, em São Paulo, está muito concentrada na região central [da cidade], na Augusta. Foi um desafio trazer isso para a Vila Madalena, mas é importante, porque daqui a pouco vem outro. Daqui a pouco, a rua está diversa, os bares e as cervejas serão diversos

Dani Lira, sócia do Torneira Bar

A sócia do Torneira pede, ainda, para o mercado cervejeiro escutar, observar e dar oportunidades. “Tem pessoas maravilhosas dentro desse mercado profissional que muitas vezes não são nem convidadas para o processo seletivo, porque o nome é diferente, o currículo está confuso, entende? E é só uma oportunidade. É só sentar, olhar, receber a pessoa como ela vem, com o estilo e jeito dela. E vocês vão se surpreender” finaliza Dani.

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