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Entrevista: Como inteligência artificial auxilia a criação de uma cerveja

"Hoje, vejo mais como um banco de dados do que uma inteligência artificial", comenta Fernando Cota, da Prussia Bier, sobre ChatGPT

É possível utilizar a inteligência artificial para produzir uma cerveja? Para responder a essa pergunta na prática, a Prussia Bier, marca de São Gonçalo do Rio Abaixo (MG), fez várias outras à ferramenta que se tornou febre neste começo de 2023: o ChatGPT. E foi a partir delas que concebeu a sua mais nova cerveja, uma Black IPA.

A novidade da Prussia provocou mais perguntas, algumas delas da reportagem do Guia. Em entrevista, o diretor-executivo da marca, Fernando Cota Carvalho, relatou como foi realizar a experiência com a inteligência artificial em processos tão detalhados na produção de uma cerveja como a definição de uma receita.

Ele reconheceu que a ideia partiu, em um primeiro momento, do departamento de marketing da cervejaria, colocando a Prussia em contato com uma assunto que está muito em voga na sociedade. Mas ressaltou que a aplicação prática trouxe resultados e conclusões que vão além do óbvio burburinho provocado pelo lançamento.

Na entrevista, o executivo da Prussia relatou que foram necessários ajustes na receita, mas considerou o teste positivo, ressaltando que o uso de ferramentas de inteligência artificial ainda está em um processo inicial na indústria da cerveja.

Além disso, ponderou que será preciso disseminar informações para o ChatGPT e a outros recursos semelhantes para que eles sejam mais precisos em suas sugestões. Assim, ele espera que esse tipo de ferramenta possa contribuir para facilitar o acesso a informações envolvendo, por exemplo, os processos produtivos de uma cerveja.

Leia também – 13 executivos avaliam como indústria da cerveja se insere na alta do PIB

Confira, abaixo, a entrevista do Guia com Fernando Cota, diretor executivo da Prussia Beer:

Quando surgiu a ideia de criar uma receita de cerveja via ChatGPT? E como isso se deu na prática?
Na reunião com o marketing, houve esse insight e esse questionamento se a ferramenta fazia cerveja. A primeira reação foi a risada, mas depois veio o porquê não? Então, entrou o trabalho e o conhecimento profissional. Se fez a primeira consulta, com perguntas. E aí o ChatGPT deu um resumo básico da receita. Como temos conhecimento, vimos que faltaram detalhes e teve alguns erros. Então, fomos “apertando” o sistema. Foi assim que saiu uma receita, que faltou o dedo do cervejeiro para ficar razoável. Quando nosso mestre-cervejeiro recebeu o retorno, nós internalizamos a receita e fizemos ajustes para deixá-la do modo correto.

Como avalia o retorno que vocês tiveram do ChatGPT? A inteligência artificial pode ajudar na criação da receita de uma cerveja?
Para alguém que não sabe fazer cerveja, há uma limitação, pois não saberá o que perguntar ou não conseguirá chegar em uma receita que é o estado da arte. Mas para alguém com conhecimento, e isso vale para o profissional de qualquer área, é um banco de dados que pode te trazer algo sólido, porque quem faz a pergunta está preparado para dialogar a partir da resposta. Eu o definiria como um super Google, que agrupa receitas da internet que ficaram top. Hoje, vejo mais como um banco de dados do que uma inteligência artificial. Mas está caminhando para isso.

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Quais foram os ajustes que vocês precisaram fazer na receita da cerveja após as sugestões do ChatGPT?
Não soltaríamos a Black IPA do jeito que recebemos a receita. Para chegar na cor que desejávamos, houve a sugestão de uso de malte escuro, mas aí seria um Schwarzbier. Tem uma técnica que ele não conseguiu captar. Também mexemos um pouco na graduação alcoólica, mas essa quase bateu. Tivemos que fazer alguma correção em função dos equipamentos que nós usamos no processo produtivo.

Diante do resultado prático que tiveram, como imaginam que a inteligência artificial pode ajudar o segmento da cerveja?

À medida que o setor for disponibilizando o seu banco de dados, acho que estaremos no caminho de arrancar de lá uma receita. Isso pode tornar o setor mais democrático, pois o “segredo” estará disponível. Uma receita poderá surgir com as melhores ranqueadas, as indicações de buscas sensoriais, mas primeiro será preciso democratizar a informação. Ensinar a inteligência artificial está mais longe do que disponibilizar as receitas para que ele faça isso. Não vejo o homem fora de qualquer processo industrial. O que vejo é a máquina se somando ao homem.

Além da receita, o design do rótulo também foi pensado com o incentivo da inteligência artificial. Como foi isso?
Buscamos colocar todo o projeto dentro dessa lógica. No caso do rótulo, nosso designer ficou responsável por essa interação. A resposta não foi tão adequada, foi preciso fazer ajustes, achamos mais complexo, pois foi necessário juntar peças variadas. Acabou sendo preciso ter mais inteligência do lado de cá para chegar ao ponto que gostamos.

É possível imaginar a Prussia utilizando a inteligência artificial em outros projetos ou mesmo em uma nova cerveja?
A conclusão a que chegamos é que vale a pena ficar atento à tecnologia para resolver questões diversas. Falamos internamente para os funcionários que devem consultar a ferramenta, se engajando no dia a dia. Ganhamos mais uma referência.

Como estão as perspectivas da Prussia para 2023? Há preocupação com a possibilidade de recessão econômica?
O início de ano nunca foi fácil para a cerveja artesanal. Desde que começamos, há 8 anos, o primeiro trimestre é sempre desafiador, o carnaval não é uma festa para a cerveja artesanal, ainda não conseguimos democratizá-la para isso. Então, não estou enxergando o ano com pessimismo. Com trabalho bem estruturado, com boas ideias de mercado, como a que tivemos, pode ser que consigamos andar para frente. Inovação é primordial. Além dos lançamentos mensais, estamos com um plano de um clube de assinatura de cerveja. Devemos entrar mais fortes nisso no segundo semestre, tem um público que deseja provar cervejas de outros estados.

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