México suspende produção de cerveja e abre debate sobre “essência” do setor
Diante da pandemia de coronavírus que se espalha pelo mundo, governos de praticamente todos os países se veem obrigados a tomar medidas de contenção. Na maioria delas, as estratégias passam pela restrição do convívio social para evitar aglomerações, o que significa o fechamento de pontos comerciais, de serviços e até de indústrias. O governo do México, no entanto, foi além: determinou a suspensão da produção de bens não essenciais até o final de abril – o que significa, por exemplo, o fim da fabricação de bebidas alcoólicas.
No estado de Nuevo Leon, ao norte do país, o governador Jaime Rodríguez Calderón foi ainda mais longe e proibiu até a venda de bebidas alcoólicas, com o argumento de que, sob o estresse causado pela quarentena, a violência doméstica poderia aumentar. O mesmo fez o estado de Tabasco, ao sul, enquanto outras cidades mexicanas limitaram o horário das vendas.
Com a proibição da produção e do comércio de cerveja, não demorou para que memes inundassem o ambiente digital. As hashtags #ConLasChelasNo (algo como “com a breja não”), #MexicoQuiereCerveza e #LeySeca passatam a identificar postagens que fazem piada e lamentam a situação.
A decisão também tem causado um efeito tão óbvio como curioso: uma corrida dos consumidores aos pontos de venda para estocar cerveja, o que provocou confusão e filas imensas.
Essencial ou não?
Atualmente o México assiste à escalada do coronavírus, com números maiores a cada dia. Ao todo, mais de 2.100 pessoas contraíram o vírus e 94 delas morreram. Assim, a decisão de suspender a produção de cerveja vem como estratégia para evitar um impacto ainda maior da pandemia.
A diretriz presidencial prevê que apenas serviços e produtos essenciais continuem funcionando e sendo produzidos. Na lista consta a atividade agroindustrial, um dos principais componentes do Produto Interno Bruto mexicano. O setor cervejeiro, no entanto, contesta sua classificação como não-essencial, sob o argumento de que se enquadraria nos critérios que a caracterizariam como atividade agroindustrial.
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No comunicado em que anuncia acatar a decisão do governo, interrompendo a produção de todas as suas marcas (dentre elas a Corona), a Cervejaria Modelo ressalta a importância da atividade agroindustrial e destaca a contradição da diretriz. No texto, a companhia ressalta que se trata da área mais importante da economia do país e que, dela, fazem parte 150 mil hectares plantados por ano de malte de cevada, beneficiando 150 mil famílias.
“Caso o governo considere oportuno declarar que a atividade cervejeira se enquadra como produto agroindustrial, estamos prontos para por em prática um plano em que mais de 75% de nosso pessoal permaneça trabalhando em suas casas”, afirma o comunicado da Modelo.
De fato, segundo fontes do setor, há uma movimentação política para convencer o governo central a mudar a classificação da indústria de bebidas. As três maiores cervejarias atuantes no país – Constellation Brands, AB InBev e Heineken – estariam conversando com o presidente nesse sentido, ao lado do governador do estado de Jalisco, o berço da tequila, que pede que se abra “uma exceção” para o produto.
(Com npr.org)
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