Perda do poder de compra do público freia reajuste do preço da cerveja nos bares
A inflação a níveis elevados vem sendo uma dor de cabeça para o brasileiro, mas a cerveja, especialmente aquela consumida em bares e restaurantes, não é um dos itens a puxar essa alta. Pelo contrário, afinal, enquanto o IPCA, o índice oficial, medido pelo IBGE, terminou o primeiro semestre em 5,49%, a aceleração do preço da cerveja ficou em 2,31% no domicílio no mesmo período, sendo ainda menor, de 2%, fora do domicílio.
Assim, a cerveja teve papel importante para ajudar bares e restaurantes a frear, em parte, a subida dos preços dos seus cardápios. Esse diagnóstico foi confirmado por líderes de entidades representativas do setor, que explicam, ao Guia, os motivos para os proprietários dos estabelecimentos não terem repassado todos os seus custos na composição do valor final dos produtos e serviços oferecidos.
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“Realmente, a cerveja tem dado importante contribuição para segurarmos os custos dos bares e restaurantes. Ela é responsável por 20% a 60% dos nossos custos, sendo 20% para os restaurantes e 60% para alguns bares”, ressalta Paulo Solmucci, presidente-executivo da Associação de Bares e Restaurantes (Abrasel).
Nos últimos 12 meses, o preço da cerveja nestes locais sofreu aumento de 4,51%, uma porcentagem bem inferior à inflação geral do período, de 11,89%. “Essa é uma das razões de o setor ter conseguido repassar só a metade da inflação média nos últimos 12 meses para o cardápio”, acrescenta Solmucci. “É uma boa notícia para quem gosta de tomar uma geladinha no bar”, completa.
A diferença chamativa entre a alta do IPCA e a inflação da cerveja, especialmente em bares e restaurantes, tem suas razões. De acordo com Fernando Blower, diretor-executivo da Associação Nacional de Restaurantes (ANR), a redução do poder de compra dos clientes motivou os proprietários dos estabelecimentos a segurar os aumentos.
“Há fatores internos e externos para isso. Internamente, tanto cervejarias quanto os próprios bares e restaurantes estão evitando repassar integralmente a inflação para o consumidor. A gente sabe que existe uma restrição de renda por parte da população e, portanto, simplesmente aumentar preços não pode ser a única solução. Você tem de mexer no mix, renegociar contratos e fazer outras coisas para não perder o cliente”, analisa Blower, admitindo também que é impossível deixar de acrescentar ao preço final uma fatia dos custos elevados dos produtos.
Uma avaliação parecida é apresentada pelo presidente da Abrasel. E Solmucci destaca ser mais fácil, em um momento de crise como o atual, que o repasse da alta dos custos produtivos aconteça no varejo, onde a elevação do preço da cerveja está em 8,41% nos últimos 12 meses, do que nos bares e restaurantes.
“A renda do trabalhador caindo 8%, ainda que haja mais emprego, não permite os repasses. Seja para os restaurantes repassarem ao cardápio, seja para as cervejarias repassarem ao consumidor. Nos supermercados, os preços aumentam mais porque há menos margem (de lucro). Já os bares e restaurantes, que estão muito endividados, contam com essa correção menor. Neles, as empresas também têm maior margem. Ou seja, corrigir menos é possível e mais fácil do que no supermercado”, explica.
Para referendar as avaliações de Solmucci e Blower, uma pesquisa realizada pela Abrasel, que ouviu 1.689 empresários de bares e restaurantes de todo o Brasil, entre os dias 21 e 28 de junho, constatou que 74% destes estabelecimentos não conseguiram repassar os aumentos dos custos nos preços dos produtos e serviços. E a inflação foi citada como o principal obstáculo para a retomada do setor, sendo que 75% dos entrevistados que amargaram prejuízos com os seus negócios apontaram a elevação dos valores dos principais insumos (alimentos e bebidas) como um fator que contribuiu para os resultados financeiros negativos.
Freio na inflação?
Na avaliação do diretor-executivo da ANR, a dinâmica dos preços pode se alterar com a retomada da normalidade pré-pandêmica na sociedade. A perspectiva pode ser positiva especialmente para quem se alimenta fora de casa, pois esse foi um item de grande peso na inflação de junho, ficando em 1,26%.
“Você teve uma queda muito grande (de público) e depois um pico muito grande. E aí a inflação nasce disso. Agora você começa a ter um reequilíbrio, um arrefecimento desse aumento. Ou seja, continua aumentando, mas não na mesma gradação que aumentou nos últimos meses. E isso acontece mais com alimentos e bebidas do que com outros itens da receita que compõem a inflação, porque os alimentos e bebidas foram aqueles que tiveram o maior pico (de preços) no primeiro momento”, conclui Blower.
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