Sustentabilidade no Guia: Como se definem os investimentos em sustentabilidade nas cervejarias

Sustentabilidade no Guia recebeu Karen Tanaka, da Ambev, e Ornella Vilardo, do Grupo Heineken

O impacto das mudanças climáticas é um tema que não sai mais de pauta da indústria cervejeira. Agir pela descarbonização se tornou estratégico para empresas que atuam no segmento, pois elas entenderam que o assunto tem relevância econômica e peso para o futuro da atividade, ainda que demande investimentos financeiros para alinhar suas operações com as metas de sustentabilidade.

Entender essas ações como investimentos foi um dos temas abordados no quarto episódio do Sustentabilidade no Guia, que tem o apoio do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv). Nele, Rodrigo Oliveira, CEO da Green Mining, recebeu Karen Tanaka, gerente de sustentabilidade da Ambev, e Ornella Vilardo, diretora de sustentabilidade do Grupo Heineken (veja o vídeo completo do programa no final da matéria).

Publicidade

Na conversa, elas destacaram a necessidade de medidas efetivas para transformar o cenário global e evitar tragédias climáticas em um futuro breve. “Estamos falando não mais de mudança climática, mas de emergência climática. Passou-se o tempo de fazer análises e entender tendências. Agora é hora de pôr em prática e fazer acontecer para que o planeta Terra não exceda o aquecimento”, pontua Ornella.

Ela ressalta que as empresas entenderam que precisam agir, se colocando como parte da solução. “Quando se fala em ser carbono neutro em toda a cadeia de valor, estamos falando de todos os elos da cadeia. É claramente uma mudança de como se vai fazer o negócio”, completa.

Karen ainda aponta que a atuação da Ambev no Brasil na pauta sustentável é referência em outros países onde a AB InBev está instalada. “Como parte da AB Inbev, estamos dentro de uma estratégia climática global. Então, muitas das iniciativas que temos nascem aqui e seguem para o global. Somos reconhecidos como uma das zonas mais eficientes em termos climáticos”, conta.

Leia também – Como a indústria da cerveja promove diversidade, inclusão e equidade internamente

As mudanças e investimentos vão “do campo ao copo” na indústria cervejeira, indo desde o agro nas fazendas, passando por maltarias, fábricas, logística e distribuição até a chegada da bebida ao mercado, como destaca a gerente de sustentabilidade da Ambev. “Quando o consumidor vê a geladeira da Ambev, estamos calculando as emissões de todas elas. Há uma série de frentes sendo focadas”, diz Karen.

E isso é necessário porque os efeitos das mudanças climáticas vão atingir a todos, sendo, também, um problema social, como ressalta a gerente de sustentabilidade da Ambev. “Estamos falando de justiça climática, de racismo ambiental, porque as primeiras pessoas que sofrem com as consequências das mudanças climáticas são as que menos são responsáveis por elas, são as que menos emitem. Ou seja, são mulheres, são negros, são pobres, são países, que, no geral, vão ser as primeiras a terem o deslizamento ou perderem a casa, ou deixar de ter uma produção agrícola por causa disso” completa.

Confira, a seguir, os principais trechos do Sustentabilidade no Guia com Karen Tanaka, gerente de sustentabilidade da Ambev, e Ornella Vilardo, diretora de sustentabilidade do Grupo Heineken, sobre os investimentos das cervejarias para conter os efeitos das mudanças climáticas:

Oportunidades de negócios e soluções
“Dados todos os riscos climáticos que estamos enfrentando e aprendendo a calcular, nós temos que criar oportunidade de negócio e de soluções. Em negócio, quando falamos sobre longo prazo, temos que pensar em estratégias de mitigação, que é diminuir as emissões. No curto prazo, o que já está acontecendo é a adaptação, resolvendo e tratando as causas. Esse trabalho, nessas duas frentes, tem que ocorrer na empresa como um todo. Estamos falando da Ambev, hoje, de aproximadamente 3 milhões de toneladas de CO2 dos escopos 1, 2 e 3.  E as nossas metas são para diminuir 25% dessa intensidade de emissões até 2025. Temos a missão de neutralizar as emissões até 2040. E tem o prazo anterior, que é 2030, para as emissões do escopo 1 e 2, que são as emissões diretas, como uso de calor e eletricidade. Nossa atuação envolve tudo, desde compra de insumos até processos industriais. É um trabalho muito grande porque a emergência é muito grande”, destaca Karen.

Como se dão as decisões de investimentos em sustentabilidade
“Precisamos ter transformações sistêmicas. Então, temos um trabalho todo de conhecimento, de capacitação, de entender o tamanho do problema e de contar com as equipes que estão no front, pois são eles que sabem o que que dá para descarbonizar em cada frente. Hoje, dentro da Ambev, temos um time focado em sustentabilidade de 290 pessoas. E esse é o time que faz as grandes compras da companhia. E quando falamos de emissões, o escopo 3, das emissões indiretas, é o maior. No caso da Ambev, hoje é 87%, que são as emissões do agro, de embalagens, de resfriamento dos produtos, de logística. Então, tem todo esse poder de compra e de negociar com fornecedores, de procurar fornecedores cada vez mais avançados em temas com inovação, com tecnologia e com metas públicas”, diz Karen.

Nós temos que saber como investir. Hoje temos um trabalho de incluir o carbono no nosso cálculo de investimentos financeiros. Então conseguimos colocar um preço sombra, que chamamos de precificação interna de carbono, e calculamos o quanto o investimento vai emitir frente ao outro. Então, quando o investimento é considerado mais verde, ele vai emitir menos. Há um custo social do carbono que está sendo emitido, com o quanto ele faz mal para o planeta e as pessoas. Esse é um cálculo, de impacto, que precisa ser feito

Publicidade
Karen Tanaka, gerente de sustentabilidade da Ambev

Exemplo de investimentos em sustentabilidade na Ambev
“Hoje, temos a maior frota elétrica de caminhões do Brasil, com 250 em operação. E utilizamos um estudo de custo em que colocamos o quanto vai se economizar de diesel. Essa é uma economia financeira, mas ela também é uma economia para o meio ambiente e para a saúde da população. Eu tenho dados de que no primeiro semestre tivemos 255 toneladas de CO2 que foram evitadas por não estarmos mais usando diesel, mas eletricidade renovável. Conseguimos ter uma economia de 107 mil litros de diesel”, explica Karen.

Investimentos do Grupo Heineken em sustentabilidade

O que conseguimos comprovar que tem um retorno para o negócio de curto e médio prazo foi a energia renovável, uma oportunidade que abraçamos. Por isso, vamos chegar a ser 100% renováveis nas nossas cervejarias, em 2023, 7 anos antes da meta global. E isso foi possível, inclusive, trazendo retornos financeiros, porque as próprias tecnologias propiciaram com que as soluções se tornassem mais viáveis economicamente

Ornella Vilardo, diretora de sustentabilidade do Grupo Heineken

Diálogo da Heineken com os consumidores
“Uma de nossas marcas, a Heineken, hoje é o carro-chefe no diálogo com a sociedade e o público final sobre sustentabilidade a partir de uma plataforma, a Green Your City. Nela, falamos de energia renovável para nossos consumidores e fomos facilitadores para que o consumidor e o ponto de venda também acessassem essa possibilidade através da geração distribuída. É interessante, porque você não precisa ter investimentos em painéis solares ou em infraestrutura e, ao mesmo tempo, consegue ter um desconto na conta de luz”, diz Ornella.

Opções nos projetos de energia sustentável
“Temos pautado grande parte do investimento em biomassa, que já é uma tecnologia conhecida há bastante tempo com seus próprios desafios de rastreabilidade, como até se o insumo dessa caldeira é sustentável. Mas também temos aproveitado outras soluções que têm demonstrado bastante potencial. Uma de nossas cervejarias, no Ceará, é abastecida a biometano, que é uma solução muito interessante e, inclusive, de circularidade, porque boa parte do biometano no Brasil vem de aterros sanitários. Então, você traz uma questão que conecta com outras pautas, como a dos resíduos sólidos”, conta Ornella.

Energia renovável na Ambev
“Nós estamos com muitas frentes andando em relação à energia, é motivo de orgulho. Em 2021, batemos a meta de ter 100% das nossas fábricas operando com energias renováveis e limpas. Então, adiantamos a meta, que estava prevista para 2025, em 4 anos. Daqui em diante isso é algo que vai se manter e estamos investindo em mais fontes. Nos nossos centros de distribuição, até o fim do ano, vamos ter 100% deles também operando com energia renovável. Em relação ao ponto de venda, que entra no escopo 3, pensamos em trazer energia renovável para eles já há uns três ou quatro anos. Então, uma startup que participou do nosso programa de aceleração, a Lemon, desenvolveu projetos de energia, fazendo os pontos de venda receberem essa energia sem custo nenhum a mais. Temos, hoje, 3.100 pontos de vendas já operando com essa energia renovável e estamos mapeando e buscando fornecedores para o resto do Brasil”, pontua Karen.

Ações da Ambev com fornecedores
“Quando fizemos uma escuta dos fornecedores em relação ao que precisam e as dificuldades que têm, descobrimos que muitos deles não tinham a equipe necessária ou conhecimento do tema, então decidimos criar um curso. Montamos um curso de seis módulos que vai desde o que é aquecimento global até como fazer seu próprio inventário, trazendo alguns exemplos da Ambev. Então mostramos o cálculo para a compra de motos elétricas que temos operando em nossos centros de distribuição, fábricas e no Zé Delivery. É gratuito, aberto e está na nossa plataforma de conhecimento compartilhado, o Ambev On. No começo deste ano, anunciamos um compromisso pelas ações climáticas com nossos fornecedores. Temos 200 fornecedores de alto impacto no clima e hoje representam 70% da emissão do escopo 3. Então, essas 200 empresas estão engajadas conosco em descarbonizar. Temos três metas: contabilizar e reportar publicamente dados de emissões, ter metas de redução e promover ações concretas”, diz Karen.

Compensação na Ambev
“Temos que diminuir as emissões e compensar aquelas difíceis de reduzir, que hoje não possuem tecnologia suficiente para isso. Estamos nos inspirando em uma regra que diz que 90% das emissões precisam ser reduzidas e só 10% compensadas. Temos 9 unidades que são carbono neutro com a compensação de 20% das emissões com a compra de créditos de alta qualidade e com certificação internacional, ligadas a um programa da ONU, que mantém a Amazônia de pé. Teremos ainda nesse ano mais unidades nessas condições”, afirma Karin.

Compensação da Heineken
“O compromisso nosso é o mesmo, de ter um teto máximo de 10% para compensação. Para as cervejarias que estão em regiões de estresse hídrico, temos a meta de devolver para a bacia hidrográfica uma vez e meia o que captamos para produção. Trabalhamos em projetos de reflorestamento. Em Itu, por exemplo, temos uma parceria com o SOS Mata Atlântica, que trouxe aumento da biodiversidade”, relata Ornella.

Publicidade

DEIXE SEU COMENTÁRIO

Please enter your comment!
Please enter your name here