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Balcão da Fabiana: Não é fácil perder um amigo. Nem será fácil abrir uma nova era cervejeira

O ano de 2024 começou com uma paulada em nossas cabeças. Marco Falcone, ao qual tantos chamavam de “xamã da cerveja”, foi-se embora sem ao menos se despedir. Alçou voo, simplesmente, o falcão que tanto amava e divulgava cerveja. Com ele aprendi tantas coisas… Aliás, se não fosse por ele eu nem estaria aqui escrevendo esta coluna, ou apresentando há 15 anos a coluna Pão e Cerveja no rádio. Assim como a mim, Marco trouxe para dentro muitos dos que hoje atuam neste mercado, do qual nunca desistiu, nem desanimou. Ele acreditava no poder de crescimento do setor. Acreditava na força da história da humanidade entrelaçada à cerveja e nos rumos ao quais essa mesma história podia levar adiante a tão aclamada (por ele) cultura cervejeira.

Ao partir, Marco deixa uma lacuna profunda, que dificilmente poderá ser ocupada por alguém. A de defensor inflamado, apaixonado, pelo segmento cervejeiro do Brasil. Paixão, acima de tudo, era o que o movia. Nunca ouvi do Marco nenhuma expressão de interesse financeiro puro e simples relacionado à cerveja. Para ele era uma questão pessoal, vital, elevar o status da cerveja, coloca-la em patamar igual ao de outras bebidas consideradas gastronômicas. Marco tinha orgulho, vaidade mesmo, das cervejas que criou. Mas nunca o vi abrindo mão de seus ideais para fazer com que suas produções vendessem mais. Acho até que ele pode ter perdido o bonde da história de nosso mercado, como tantos o acusavam, deixando que a marca Falke Bier, um dia tão icônica, fosse lentamente esquecida pela nova geração cervejeira. Uma geração que chegou e encontrou todas as picadas abertas, muitas delas abertas por ele.

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Confesso que me sinto deslocada neste mercado, do qual faço parte por um convite dele. Não será fácil continuar pensando, agindo e atuando da mesma forma no segmento que ele me apresentou, para o qual me abriu tantas portas. Um segmento que ele ajudou a construir, firmar e expandir.

Sei que ciclos se fecham para que outros se abram. E não seria diferente com o nosso setor. O que não sei ainda é como estar inserida no novo ciclo que surge, quando uma das poucas certezas, que eu julgava permanente, se vai. É muito duro perder um amigo. É muito triste perder um mestre. É difícil encarar que o semeador não ficou por aqui para colher os frutos do que plantou.


Fabiana Arreguy é jornalista e beer sommelière formada em 2010, pela primeira turma da Doemens no Brasil, através do Senac SP. Produz e apresenta, desde 2009, a coluna de rádio Pão e Cerveja, sendo editora de site com o mesmo nome e autora de livros. É curadora de conteúdo, consultora de cervejas especiais, proprietária da loja De Birra Armazém Cervejeiro, além de professora do Science of Beer Institute e do Senac MG, assim como juíza dos principais concursos cervejeiros brasileiros e internacionais.

1 Comment

  • Gustavo Renha Reply

    12 de março de 2024 at 21:00

    Baita texto Fabi, parabéns!

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