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Espaco aberto: Colecionismo de bolachas de chope

Cerveja Peru é considerada bolacha brasileira mais antiga, com sua marca tendo sido registrada em 1911

*Por Carlos Alberto Tavares Coutinho

As bolachas de chope, também chamadas de bolachas de cerveja, porta-copos ou descanso de copos, são suportes para serem colocados debaixo de copos ou garrafas, geralmente para proteger a superfície (mesa ou balcão) onde a bebida é servida ou para quantificar o número de bebidas consumidas.

Em línguas de outros países: bierdeckel, bierfilz ou bierglasunterleger (alemã), biermat ou coaster (inglesa), olu alus (estoniana), bierkaartje (belga), Iasin alusta (finlandesa), sous bock ou sous verrem (francesa), bierviltje (holandesa), tachtiot le kos (israelense), soto bocchiere (italiana), ko-su-ta (japonesa), polozak za pivô (croata) öl brikke, öl underlagg (norueguesa), podstavka pivo (russa), sejdelunderlägg (sueca), podstavek za pivo (eslovena), posa vaso (espanhola), takek (checa), bira altigli (turca) etc…

Esta peça, que hoje faz um enorme sucesso no mercado de sublimação para brindes e itens de divulgação e projeção de marcas, é confeccionada artesanalmente em materiais grossos. Os primeiros registros que se têm notícia deste item indicam que as bolachas de chope surgiram na cidade alemã de Weisenbach, em 1880.

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Bem parecidas com o que utilizamos hoje serviam para evitar que derramasse nas mesas a espuma das enormes canecas de cerveja que eram usadas na época. Assim, quando as espumas começassem a cair das grandes canecas de chope, não molhariam as mesas. Não demorou até que inúmeros pubs tomassem conhecimento da “bolacha” e tivessem o interesse em adquiri-la. Foi quando em 25 de outubro de 1892, também na Alemanha, na cidade de Dresden, capital do estado da Saxônia, Robert Sputh, de 49 anos, percebeu a grande e crescente procura em torno do item e resolveu patentear o processo de fazer as bases de fibra prensada já usando um molde padronizado.

Feitas de materiais como cerâmica, porcelana, vidro, metal etc., são fabricadas atualmente de outros materiais, tais como: neoprene, plástico, cortiça e, principalmente, de papelão, que por ser o material mais econômico é o tipo usado quase exclusivamente por cervejarias. Mas elas não foram sempre iguais, sofrendo pequenas alterações: a princípio, as primeiras bolachas de chope tinham de 2,5mm até 4,0mm de espessura e se tornaram já naquele tempo uma febre em toda a Alemanha. E devido ao sucesso, logo no início do século XX, as bolachas de chope começaram a ser utilizadas como meio de divulgação publicitária. Foi a vez de se utilizar imagens monocromáticas (uma só cor), sendo que a própria marca das cervejas seria estampada em um dos lados.

Contudo, ao contrário do que se possa imaginar, não foi Robert Sputh, o primeiro empreendedor a ficar rico com esta ideia, mas Casimir Otto Samuel Katz, que em 1882 lançou as bases para a indústria de papel de Murg Valley, com a primeira oficina de moagem de madeira em Weisenbach. Lá, os resíduos de madeira das serrarias foram processados ​​pela primeira vez em madeira moída para fábricas de papel e, a partir da década de 1890, o papelão de madeira foi produzido em telas cilíndricas. Como ele também possuía uma cervejaria em Metz, Katz teve a ideia em 1903 de produzir porta-copos de cerveja industrialmente em papelão de madeira como substituto para o feltro usado anteriormente, que era considerado anti-higiênico. Ao mesmo tempo, nasceu a ideia de imprimir os porta-copos de cerveja e usá-los como meio publicitário. Até hoje, existe a Katz Group, que produz cerca de 3 bilhões de bolachas de chope por ano. O site é www.thekatzgroup.com.

Com o passar das décadas, o negócio se tornou bastante promissor em quase todos os países onde era grande o consumo de cerveja. Entre 1918 e 1938, a nova invenção se espalhou pela Europa e chegou à Inglaterra, onde também há grande consumo de cerveja. No Brasil, a moda demorou a chegar. As primeiras bolachas apareceram comercialmente apenas na década de 1960.  Excepcionalmente, a bolacha da Cerveja Peru é considerada a bolacha brasileira mais antiga. A marca foi registrada na Junta Comercial de Porto Alegre (RS) em 17 de fevereiro de 1911 por Leopoldo Haertel, estabelecido em Pelotas com fábrica de cervejas na rua Conde de Porto Alegre 44.

Atualmente, é difícil encontrar uma cervejaria que não faça uso do produto tanto para divulgar a sua marca, como para servir melhor aos clientes. Não demorou também para que outras empresas aproveitassem a “bolacha de chope” para divulgar as suas marcas e contatos.

No Brasil, a bolacha que foi adotada como padrão pela indústria mede 90mm de diâmetro e é fabricada com papelão madeira ou papelão paraná de 1,5mm de espessura, que é um cartão de elevada gramatura e rigidez. Fabricado essencialmente de fibras de madeira de pinus e água geralmente virgens, transformado em pasta mecânica e/ou aparas, geralmente em várias camadas da mesma massa. Sua cor, em geral, é consequência dos materiais empregados na sua fabricação. Também utilizado para embalagens de produtos e presentes, é um papel pardo dos dois lados, porém seu processo de acabamento faz necessária a colagem do disco de papelão entre duas lâminas impressas que compõem a frente e o verso da bolacha. Fator esse que faz a durabilidade do produto ser menor, pois, com o tempo de uso e à medida que é molhado essa colagem, faz o papel descolar.

Para melhorar a impressão, a maioria das fábricas de bolacha de chope utilizam o Papel Cartão Duplex ou Triplex, por exemplo, que é confeccionado com uma ou duas camadas de celulose branqueada com tinta de revestimento branca. Porém, sua baixa absorção e fina espessura o tornam um material não muito atrativo na produção de bolachas de chope.

Atualmente, é usado o papel Liner Extra Absorvente, que é o papelão mais indicado para se fazer bolacha de chope. Por se tratar de uma matéria-prima nacional com a capacidade de absorver qualquer líquido que escorra do copo sobre a superfície onde se encontra, quando é molhado, ele não se degrada como outros tipos de papel utilizados no mercado, por ser composto de celulose de fibras longas.

No Katz Group, os padrões utilizados são de 94mm de lado com 6mm de radius, nos cantos, para a bolacha quadrada; e de 93mm de diâmetro para a bolacha redonda. A espessura pode variar entre 1,0mm e 2,5mm.

As bolachas são fabricadas nos mais diversos formatos: redondas, ovais, quadradas, retangulares ou recortadas nas mais diversas formas e tamanhos. Já foram fabricadas bolachas grandes para forrar bandejas e até as mesas de bares.

O colecionismo de bolachas de chope foi um passatempo muito popular por anos. Quase tão difundido quanto o de latas de cerveja, este passatempo ressurgiu junto com a popularidade das pequenas cervejarias e das artesanais. A cada ano mais colecionadores novos estão aderindo a este passatempo. As bolachas destas cervejarias fizeram com que os novos entusiastas chegassem num nível igual ao dos colecionadores de velhos tempos.

Enquanto a maioria das cervejarias que produziram bolachas saíram do negócio, as pequenas cervejarias, as artesanais e alguns grandes fabricantes de cerveja usam ainda as bolachas como uma fonte principal de propaganda. Isto mantém os colecionadores constantemente procurando novas edições e injeta sangue novo ao passatempo.

Os motivos (desenhos), geralmente, são mudados com regularidade, com um lado sendo quase sempre o institucional, com o outro se caracterizando por informações, charges, signos ou outros motivos populares. Já houve até com o layout de cartões postais que podem ser enviados pelos Correios.

As bolachas são colecionadas de várias maneiras. Pode-se colecionar do jeito que preferir: por formato, por evento, pela cervejaria, por país, estado ou região, com textos de humor ou ainda por temas das imagens (animais, carros, aviões etc.).

Muito semelhante à filatelia, muitas bolachas têm variações menores que as fazem ligeiramente diferentes. Por exemplo: já uma bolacha de Rheingold que tem impressa na borda inferior o texto “fabricantes de cerveja há mais de 115 anos”. Esta bolacha foi atualizada no texto durante os anos até que chegou a 121. Talvez alguns ignorassem esta pequena diferença, mas a maioria de colecionadores sérios se esforçaram para encontrar todas as diferentes variações. Outras variações comuns a procurar são: a presença ou a falta de uma figura, de um erro de impressão, de cores diferentes, de reversos invertidos e de posições diferentes da marca da cervejaria. As micro variações comuns incluem a espessura da bolacha e diferenças de tamanho.

As bolachas não são limitadas às cervejarias, são fabricadas, também para servir de veículo de propaganda para outros tipos de bebidas; para restaurantes e bares, alimentos, remédios etc. já existentes e para lançamento de produtos, para campanhas publicitárias, brindes, eventos (como por exemplo: o evento que comemorou a restauração de um Chevrolet Belair 1950 por um colecionador de carros antigos. Convite, envelope, bolacha de chope e folder foram criados a partir da estética dos anos 50 e das cores originais do carro: vermelho bordô e bege palha).

Quando a bolacha de chope não é produzida para um bar ou publicidade, ela serve como objeto de marketing de relacionamento, sendo um brinde oferecido aos clientes e parceiros de um negócio. Há até mesmo algumas produzidas para serem usadas em festas servindo como lembrança de casamentos, aniversários etc. Afinal, em todo momento de confraternização, cabe uma lembrancinha.

Não importa o jeito ou tema que você coleciona, há sempre uma bolacha que caiba de algum modo na sua coleção.

Foi uma pena a descontinuidade do projeto do catálogo de bolachas. Um excelente trabalho feito pelo colecionador Márcio Erlich. Descontinuou mas permanece na internet. Se você usar este link: www.bolachasbrasileiras.com.br, poderá ver imagens de bolachas brasileiras maravilhosas.


*Carlos Alberto Tavares Coutinho é funcionário público septuagenário e aposentado que atende pelo pseudônimo de Cervisiafilia, colecionador de itens de bebidas desde 1994, blogueiro que tenta escrever sobre a história da cerveja brasileira no blog cervisiafilia.blogspot.com.br – A História das Antigas Cervejarias

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