fbpx

Balcão Beersenses: Lado B da história da Oktoberfest: Como Napoleão Bonaparte ajudou a criar a maior festa cervejeira do mundo

Se você ficou curioso com o título desse artigo, não se preocupe, pois eu também fiquei muito intrigado com essa relação entre Napoleão Bonaparte e a Oktoberfest. Quase nunca pensamos nisso, simplesmente porque a história que nos é contada nunca contextualiza o cenário da Europa quando a primeira festa que deu origem à Oktoberfest aconteceu.

Então, nesse ano em que a Oktoberfest completa 212 anos de idade, resolvi investigar essa relação com base em fatos históricos registrados e, claro, exercitando um certo poder de dedução.

A maior festa do mundo
Criada para comemorar um casamento em 1810, a Oktoberfest virou tradição e se transformou numa das maiores festas populares do mundo, exaltando a cultura bávara: na edição de 2019, foram 6 milhões de visitantes na festa – infelizmente em 2020 e 2021 não houve festa por causa da pandemia de Covid-19.

Além da edição de Munique, a festa se espalhou pelo mundo e é realizada em diferentes países, sendo que as maiores são a de Blumenau (Brasil), Brisbane (Austrália), Kitchener (Canadá), Hong Kong (China), Denver e Cincinnati (EUA).

Mas como é que uma festa de casamento se transformou na maior festa popular do planeta? Ao longo dos anos, a Oktoberfest foi se tornando importante, política e economicamente, não só para Munique, mas também para a Baviera e, posteriormente, para a Alemanha. Por isso, há muitas histórias não contadas envolvendo a Oktoberfest, desde a sua criação, passando pela sua transformação, até os dias de hoje.

E uma delas é exatamente a relação de Napoleão Bonaparte com a festa que deu origem à Oktoberfest. Tudo está ligado. Achei essa história tão legal que resolvi compartilhar com vocês. Então abre sua breja aí e acompanhe os fatos a seguir. 

Por que a festa foi criada?
Na bela história que conhecemos, a Oktoberfest foi criada para comemorar os casamento do príncipe herdeiro Ludwig von Bayern (Luís da Baviera) com a princesa Therese von Saxe-Hildburghausen (Theresa de Saxônia-Altemburgo).

Os dois se casaram em 12 de outubro de 1810, e cinco dias depois foi dada uma grande festa num enorme campo nos portões da cidade de Munique, onde todo o povo foi convidado. Foi uma tremenda boca livre, regada à cerveja real da época que era a Höfbrauhaus. Uma emocionante corrida de cavalos encerrou a festa de maneira apoteótica.

A festa foi tão boa que deixou saudade, e um ano depois, aconteceu de novo. E no ano seguinte de novo, e de novo, e assim por diante, até que virou uma festa fixa no calendário da cidade.

Agora vamos pensar galera: por que monarcas bávaros dariam uma festa para o povão da cidade? E porque repetir essa festa nos anos seguintes? Isso a história não conta. Então fui pesquisar. Bem, como todo bom investigador, resolvi seguir o caminho do dinheiro, pois isso sempre explica muita coisa! Quem bancou essa festança e por quê?

Quando se casou, Ludwig era um príncipe herdeiro de 24 anos do início do século 19. Claro que a grana não era dele, rolou um “pai-trocínio” pra essa festa, óbvio.

O pai dele era o rei Maximilian I Joseph (popularmente chamado em português de Maximiliano I José), um monarca que amava o poder e babava um ovo tremendo para um cara chamado Napoleão Bonaparte – finalmente chegamos nele!

A festa de Napoleão
Napoleão assumiu a França em 1805 – apenas 5 anos antes da festa de casamento do príncipe Ludwig. E ele não perdeu tempo: saiu quebrando tudo, querendo dominar o mundo. Logo de cara ele arrumou treta feia com o Reino Unido, Império Austríaco, Império Russo, Império Otomano, Espanha, Portugal, Países Baixos, Suécia, Suíça, Hungria, Montenegro, Prússia, Sicília e Pérsia.

Mas teve uma galera na Europa, nessa época, que achou melhor ser aliado de Napoleão, que foi o caso do então Duque Maximilian IV Joseph da Baviera. O nosso amigo Max era leal aos ideais napoleônicos. Como forma de retribuir o apoio, e dar força ao parceiro, Napoleão apoiou um upgrade para o status da Baviera. Sim, isso mesmo, um upgrade – adoro contar histórias bem antigas com neologismos, perdoem.

Então, em 1806, a Baviera deixou de ser um ducado para se tornar um reino. O Max, deixou de ser duque para se tornar um rei, assim, num piscar de olhos. Imaginem como ele se sentiu, agora sendo rei e amigo de Napoleão Bonaparte, que estava conquistando toda a Europa. Ele se achou importante demais com certeza, com o ego lá na lua.

O casamento
E para demonstrar força a Napoleão, o novo rei Max queria ampliar sua área de influência na região. Por isso decidiu que seu filho herdeiro Ludwig deveria se casar com a princesa Therese, que era do ducado da Saxônia-Altemburgo, vizinho do Norte da Baviera – hoje onde fica o estado da Turíngia.

A princesa Therese, aliás, tinha entrado no line-up de pretendentes a se casar com o próprio Napoleão, mas não foi a escolhida. Portanto de uma só vez o rei Max iria casar seu filho com uma ex-pretendente de Napoleão e ainda estender sua área de domínio mais ao Norte.

Mas é claro que na cabeça do rei Max essa ocasião não poderia passar em branco, deveria entrar para a história com um evento inesquecível. O rei queria chamar o povão pra festa, pois precisava de apoio popular e precisava registrar esse apoio para que Napoleão soubesse. Nada melhor do que uma festança para isso, não é mesmo.

O príncipe Ludwig também não queria uma festa pequena, não. Ele, que aliás virou rei Ludwig I em 1825, era bem megalomaníaco e adorava uma farra. A história mostra que o rei Ludwig I traía a rainha Therese sempre que podia, e sem se importar em esconder. Mas isso levou a sua queda em 1848, quando seu caso com Lola Montez veio a público e os súditos ficaram do lado da rainha, pressionando o rei a renunciar ao cargo. 

Bom, mas voltando à história da festa, em 1810, a ideia estava quase pronta, mas ainda faltava algo, faltava aquele fato que deixaria a festa inesquecível. Foi quando apareceu Andreas Michael Dall’Armi, banqueiro e major da cavalaria real da Baviera. Andreas deu a ideia e organizou a corrida de cavalos no evento. Sem essa corrida, talvez a festa não tivesse sido assim tão inesquecível. A importância dele na festa é tanta que em 1824 foi oficialmente reconhecido como o fundador da Oktoberfest.

A corrida fez com que o povo pedisse para que a festa fosse repetida nos anos seguintes, até que em 1819 o próprio povo assumiu a organização do evento.

E com uma festa gigante, apoiada pelo povo, o rei Max demonstrou força à Napoleão, que aliás também adorava uma cerveja. Napoleão batizou a Berliner Weisse de “Champagne do Norte” quando bebia esse estilo de cerveja em suas andanças por aquela região. Mas isso é outra história.

Portanto, meus queridos, essa é a história por trás da criação da Oktoberfest. Foi um fato político que gerou a maior festa cervejeira do mundo.


Rodrigo Sena, jornalista, sommelier de cervejas especializado em harmonizações, técnico cervejeiro, criador de conteúdo para o YouTube e o Instagram @beersenses.

0 Comentário

    Deixe um comentário

    Login

    Welcome! Login in to your account

    Remember me Lost your password?

    Lost Password