Sambas, conversas e autenticidade: Como Teresa Cristina atraiu o patrocínio de uma cervejaria
Todo dia ela faz tudo sempre igual. Apoia o telefone celular em uma mesa, amparado por frascos de álcool gel, entra no Instagram às 22 horas, liga a câmera, abre um sorriso e inicia homenagens a artistas e discos históricos da música brasileira, temperadas pela sua marcante gargalhada. Assim, agrega aglomerações de ao menos 3 mil pessoas simultaneamente para suas transmissões, muitas delas personalidades conhecidas que aceitam o convite para dar uma “canja”. É desse jeito que tem sido a rotina de Teresa Cristina na quarentena no Rio, com a realização de lives que já se tornaram um marco no período de isolamento social. E lhe rendeu um patrocínio da Original.
O fenômeno que se transformou as lives de Teresa Cristina contrasta com a produção simples da transmissão, realizada na sua residência no bairro da Vila da Penha, na zona norte do Rio, e iniciada sem qualquer apoio. Para lidar com angústias e dores do isolamento social e do contexto político, a cantora começou as lives diárias e a transmissão de afeto e acolhimento em meados de março. E não deve parar tão cedo.
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As temáticas abordadas pelas lives, que costumam durar ao menos 3 horas, variam. Passam pela profundidade de comentários históricos sobre estilos musicais, especialmente o samba, com foco especial para a sua ancestralidade, em longas e aprofundadas conversas. Mas, também, por especificidades, como a carreira de algum cantor ou compositor, ou mesmo um disco destrinchado e cantado em ordem – Belchior, Dona Ivone Lara, João Gilberto, Rita Lee, Cazuza e Candeia foram alguns dos artistas lembrados. Destaque, ainda, para os assuntos fixos: quarta-feira é dia de temas de novela e sexta, de sambas-enredo.
Entre os cantores que já passaram pela live estão Caetano Veloso, Diogo Nogueira, Bebel Gilberto, Preta Gil e Roberta Sá. E o clima de informalidade dá o tom nas canjas, que lembram serenatas ou rodas de samba, a depender do estilo interpretado sempre à capela por Teresa Cristina.
A live também se tornou espaço para a apresentação de uma infinidade de músicos, que mostram a riqueza e a variedade musical brasileira, abraçados pela generosidade de Teresa Cristina. É o caso de artistas como o pianista Jonathan Ferr e a cantora Silvia Borba, atrações fixas das apresentações.
Mas a portelense Teresa Cristina, sempre ostentando o seu copo de cerveja personalizado do Vasco, não esquece o conturbado momento político. E, voz importante não só da música, mas também da resistência, defende causas como o adiamento do Enem e a não federalização da investigação sobre a morte da vereadora Marielle Franco.
Ainda há espaço para a paquera entre os convidados, principalmente através do chat, que já ganhou um apelido autoexplicativo – CrisTinder –, com a troca acelerada de mensagens e emojis.
Trata-se de um espaço essencialmente genuíno, sobretudo pela espontaneidade de Teresa, perceptível ao se emocionar com a inesperada aparição de personalidades como o ex-presidente Lula e Gilberto Gil, homenageado na última quinta-feira e que cantou e tocou violão da sua cama. Ou, mesmo, pelo seu lema, como em um estandarte: “minhas lives, minhas regras”. E, ainda, pela valorização da cultura oral, algo que lhe dá a forma para apresentar o conteúdo da história do samba e sua devoção a artistas que construíram o estilo musical.
Como se não fossem suficientes as lives diárias, Teresa ainda criou outra, chamada “Jovens Lives de Domingo”, transmitida em seu perfil no YouTube para que sua mãe Hilda, de 80 anos, pudesse cantar ao seu lado.
Essa ressignificação do sentimento de solidão provocado pela quarentena é, certamente, um dos pontos altos de uma carreira iniciada no fim dos anos 1990 no Bar Semente, no bairro da Lapa, no Rio, em uma reinvenção de uma artista mulher e negra com mais de 20 anos de carreira.
Patrocínio da Original
Todo esse processo de arqueologia cultural resultaria, por fim, em um patrocínio. No sábado passado, Teresa Cristina realizou uma live apoiada pela cerveja Original no YouTube, em uma estratégia para ampliar a relação entre a marca e o samba.
“Teresa Cristina é uma artista completa, que representa muito bem esse estilo musical e possui uma autenticidade que a faz ser reconhecida como uma das melhores sambistas de sua geração”, justifica Aline Fernandes, gerente de marketing da Cerveja Original.
Até a última sexta-feira, a transmissão da live já havia sido assistida por 243 mil pessoas. Uma audiência que acompanhou a ligação entre o comportamento despojado de Teresa Cristina, com o intimismo que tem construído com o seu público durante a quarentena. E a viu se conectar com a marca da Original, em uma interessante estratégia de marketing para a cervejaria.
“Teresa Cristina sempre se destacou por sua espontaneidade e por sua proximidade com pessoas. E ela tem demonstrado isso em suas lives no Instagram. Tudo isso se conecta diretamente com os propósitos da cerveja Original”, analisa Aline.
“Assim como ela faz com o seu público, nós temos incentivado as pessoas a viverem por uma vida mais Original. Com o patrocínio às lives de samba queremos levar aos nossos consumidores a nossa paixão por esse estilo musical e convidá-los a compartilhar as melhores coisas da vida”, acrescenta a gerente de marketing.
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Se as lives têm sido uma das marcas do período de isolamento social no Brasil, as cervejarias vêm aproveitando esses eventos para se associarem a artistas que carregam características que se aproximam das marcas. Como mostra o patrocínio à Teresa, a aposta da Original está no samba e no pagode.
A marca, assim, tem promovido diversas transmissões que buscam reproduzir o clima das tradicionais rodas, reunindo artistas como os grupos Pixote, Molejo e Revelação, além dos cantores Belo, Xande de Pilares, Dudu Nobre e Perícles nas suas lives.
“A cerveja Original sempre foi conhecida por sua longa tradição nos bares e, neste momento de distanciamento social e isolamento, vimos a oportunidade de falar com os nossos consumidores de uma maneira diferente da qual estávamos acostumados, por meio dos artistas do samba e de suas lives”, explica Aline, apontando a força do samba – e de artistas como Teresa – como fundamental para reforçar a ligação da música com a cervejaria.
“Queremos promover essa conexão entre pessoas e os músicos e, ao mesmo tempo, fazer um convite para que o público assuma sua própria originalidade. Encontramos a forma perfeita de apoiar um estilo musical e aqueles que estão envolvidos com ele, sempre com o objetivo de levar entretenimento para o público nesse momento de pandemia, quando todos devem seguir em casa”, conclui a gerente de marketing da Original.
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