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Entrevista: Cervejaria aposta em filosofia, memória e rótulos milenares

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Em entrevista exclusiva, fundador da Sundog fala sobre relação da marca com a história e a filosofia

Uma marca com características raras ao mercado das cervejas artesanais, com a aposta em estilos escandinavos e milenares, além de elevada graduação alcoólica em alguns dos seus rótulos. Em resumo, essa é a boa ideia da Sundog, cervejaria carioca que investe no uso da memória para conceber suas cervejas, em uma história iniciada em meio a shows e ensaios musicais de uma banda que já levava o nome que a batizaria.

Fundada em 2017, a cervejaria traz em seu próprio rótulo o tom histórico e mítico buscado pelos seus criadores. De acordo com o filósofo Sérgio Fonchaz, sócio-diretor da Sundog, o nome da marca significa “caça ao sol”, remetendo à lenda escandinava do dia e da noite, onde dois lobos gigantes perseguem o Sol e a Lua, fazendo-os girarem eternamente.

Preocupada com a fidelidade da história a ser contada através dos seus rótulos, a Sundog adota cuidados especiais na formulação e produção da bebida. Assim, busca ingredientes especiais e raros. E até mesmo transforma a água utilizada para ser o mais semelhante possível ao da sua história originária.

Assim, acredita que consegue unir história e filosofia através de seus rótulos. Além disso, em ótima iniciativa para unir cerveja e cultura, tem realizado as Sundog Sessions, com exibição de filmes no cinema, como O Poderoso Chefão, Clube da Luta, Monty Python e Pulp Fiction.

Confira, a seguir, a entrevista com Sérgio Fonchaz, filósofo e sócio-diretor da Sundog.

Como surgiu a ideia de nomear a cervejaria como Sundog?
Sundog significa “caça ao Sol”, onde o “dog” funciona como um verbo sinônimo de “hunt”. Essa palavra remete à lenda escandinava do dia e da noite, onde dois lobos gigantes, filhos do lobo Fenrir (Skóll e Háti), perseguem o Sol e a Lua (Suna e Mani), fazendo-os girarem eternamente em torno de Midgard, fugindo dos lobos. Essa história também está na nossa logomarca, onde os lobos laterais têm o sol e a lua a seus lados. E Fenrir está ao centro. Nós temos há muitos anos uma banda chamada Sundog, e como começamos a fazer cerveja para bebermos nos ensaios e shows, resolvemos batizar a cervejaria com o mesmo nome da banda.

Em seus rótulos, a Sundog costuma apostar em cervejas de estilos escandinavos e milenares. Por que essa opção?
Somos apaixonados pelas histórias das civilizações e estudamos muito as razões pelas quais certas cervejas foram produzidas em determinados lugares e épocas. Achamos tudo tão interessante que resolvemos contar as histórias das cervejas e trazer mais dessa cultura para o Brasil, que ainda engatinha nas cervejas especiais.

A impressão é que cada cerveja da Sundog tem uma história. Como se dá essa definição e concepção?
Não é impressão, é a nossa intenção. Nosso processo de produção começa pela história da cerveja. Se a história for boa, vamos atrás dos ingredientes e da maneira como ela é feita. Sempre transformamos a água local em uma água semelhante à do local de origem da cerveja, para deixá-la o mais fiel possível à sua história. E só aí a produzimos, com tudo que ela precisa para trazer essa fidelidade.

O que há por trás do nome e da definição do estilo de cada rótulo da Sundog?
Nós sempre trabalhamos em trilogias. EDDA, HELLA e SAHTI formam a primeira: a trilogia nórdica.

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-A EDDA refaz os caminhos da imigração europeia para a América na corrida do ouro do século XVIII e conta como a tentativa de produzir uma Lager alemã originou uma das três únicas cervejas de fermentação híbrida do universo cervejeiro. E “Edda” é o nome da compilação dos poemas da mitologia nórdica.

-A HELLA é uma das raras Dampfbier do mundo. Foi uma cerveja produzida em um período de escassez de trigo nas florestas da Bavária do século XIX, originando uma bebida com todas as características boas de uma cerveja de trigo, mas sendo puro malte de cevada e com uma alta drinkability. Seu nome remete à deusa da morte escandinava.

-A receita da SAHTI só foi descoberta em 1904, quando um drakkar viking naufragado no século IX foi resgatado por arqueólogos. Em um barril muito bem conservado, havia sinais de centeio, junípero e cevada, além de levedura originárias de pão. Resolvemos produzi-la e é talvez a nossa cerveja mais fantástica, remetendo diretamente aos povos vikings e com 11% de gradação alcoólica.

-A DOGFEST remete à Oktoberfest, que marca a união entre a Bavária e a Saxônia no século XIX e celebra a semente da unificação alemã. Ela marca o início de uma trilogia de cervejas de celebração.

-A PICTII é um Braggot, uma bebida celta que data do encontro das culturas bretãs e nórdicas no século XII. Nela, a cerveja bretã e o hidromel escandinavo são fermentados juntos em um barril de madeira, para que os sabores se misturem e formem uma explosão de sabores – e uma bomba alcoólica também. Ela chega a no mínimo 20% de álcool e marca o início de outra trilogia, das cervejas de antigas civilizações.

Em seu slogan, a Sundog fala em “cervejas diferentes para pessoas diferentes”. Como vocês colocam isso em prática?
Sabemos que nossas cervejas não são para qualquer pessoa. Quem toma Sundog precisa estar preparado para experimentar algo único. É uma viagem no tempo, um passeio por sabores muitas vezes perdidos e muitas vezes nunca experimentados. Os comentários mais comuns para quem tomas nossas cervejas é um entusiasmado “nunca bebi nada parecido” e isso nos deixa felizes, porque é exatamente o que queremos sentir e fazer as pessoas sentirem.

Revisitar a história é uma estratégia pensada pela Sundog para se diferenciar no mercado de cervejas artesanais?
Foi algo muito natural, pois somos apaixonados por história e filosofia e a busca por essas cervejas estava no DNA da cervejaria. E isso realmente acabou se tornando um diferencial, por isso o slogan foi criado.

Como você enxerga essa mistura entre filosofia e cerveja, algo que a Sundog faz em suas cervejas?
O vinho e a cerveja sempre foram combustíveis para a arte e para a contação de histórias. São produtos que levam a mente humana a uma dimensão diferente do plano comum. Assim como a filosofia, acreditamos que a cerveja também pode ser uma forma de gerar cultura e receber conhecimento, de uma maneira prazerosa e leve.

A Sundog está preparando alguma novidade para as próximas semanas? Quais são os próximos planos de vocês?
Temos muitas cervejas históricas na fila, mas alguns ingredientes ainda são realmente difíceis de encontrar. Só produzimos algo quando temos todos os insumos e adjuntos em mãos e a cerveja precisa sair perfeita. Mas estamos preparando um novo rótulo para o Mondial de la Bière, além de estarmos envasando Sahti e Pictii agora para o período mais frio do ano.

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