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8 lições aprendidas pelo mercado cervejeiro durante a pandemia do coronavírus

setor cervejeiro crise
Reorganização estrutural e reavaliação das atividades estiveram entre iniciativas adotadas pela indústria

O setor cervejeiro vive momento de reaquecimento após atravessar períodos de crise, motivados principalmente pela pandemia do coronavírus. E o grave problema sanitário obrigou as empresas a se reorganizarem e a reavaliarem os processos para sobreviverem e voltarem a crescer quando a conjuntura melhorasse, como agora.

Esses aprendizados foram enaltecidas por representantes de diversas companhias, de diferentes áreas de atuação, ouvidos pela reportagem do Guia e que celebraram a recuperação do segmento, apontando soluções adotadas durante a crise dentro do setor cervejeiro.

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Com base nestas entrevistas, listamos em oito tópicos fatores e lições importantes aprendidas durante a pandemia:

Planejamento financeiro é fundamental
“A pandemia mostrou como o planejamento é fundamental na hora de começar um negócio e para se ter uma boa estrutura, um bom planejamento financeiro e um bom controle do que é o fluxo de caixa e de como a empresa é gerida. Por exemplo, no meu bar (o Arnesto Brewery Cave), a gente sempre teve uma reserva financeira, para momentos de crise, que a gente usou durante a pandemia. E por causa dessa reserva, a gente não fechou”, revela Filipe Bortolini, sócio da Beer Business, empresa especializada em gestão de negócios e projetos no setor cervejeiro, destacando que os estabelecimentos precisam ter um plano que reduza os impactos dos problemas financeiros ligados à diminuição do poder de compra do consumidor.

Em uma linha parecida, o diretor-executivo da BeerSales, Alam Corrêa, também exaltou o peso que o bom planejamento financeiro preventivo teve para a sua empresa. “A gente aprendeu durante a pandemia a importância das ferramentas de longo prazo, mas também com os olhos mais nos cenários de curto prazo para que, caso aconteça alguma coisa, você tenha um fundo de caixa”, opina.

Reorganização estrutural e reavaliação para poder voltar a crescer
Carol Troppmair, gerente administrativa da MyTapp, empresa de autosserviço de chope, lembra das consequências difíceis da pandemia, mas ressalta a importância da reorganização promovida internamente para que a sua firma pudesse pavimentar um novo caminho em busca do almejado sucesso.

“A gente teve de diminuir a equipe, passou por alguns maus períodos, mas aprendeu bastante sobre como se adaptar. A gente aproveitou o período para dar um passo para trás, para poder depois estar pronto para dar dois passos para frente. Com o crescimento exponencial e rápido, às vezes os processos vão se atropelando e as coisas já estavam se perdendo dentro da empresa, em relação aos processos. E a gente aproveitou para aprimorar os produtos, principalmente os serviços”, enfatiza Carol, fazendo analogias ao analisar o atual cenário da MyTapp no setor cervejeiro após superar a crise.

“A gente brinca que ‘afiou o machado’ e agora está pronto para ‘destruir uma floresta’. É assim: a gente estava com o avião voando em linha reta e pousou, melhorou o piloto e o maquinário para poder voar mais longe”, completa.

Eficiência do trabalho híbrido hoje é essencial para a empresa
Alam Corrêa, diretor-executivo da BeerSales, destaca a eficiência do trabalho híbrido durante a pandemia em sua empresa, algo importante para qualquer companhia, pois ainda está presente a necessidade de isolamento de funcionários em função da Covid-19.

“O que aprendemos muito nessa pandemia foi com o home office. Agora voltamos para a sede, mas estamos pensando na possibilidade de fazer de novo o home office, pela qualidade de vida que proporcionou aos funcionários. E isso permite que, caso venha uma outra onda do vírus, a empresa já esteja preparada para operar com todo mundo de casa, o que a gente conseguiu fazer usando ferramentas”, diz.

Ewerton Miglioranza, sócio da Bier Held, também enaltece a adaptação da sua empresa a um novo modelo de funcionamento durante a pandemia.

Aprendemos um novo jeito de trabalhar, de forma remota. E como o nosso sistema é todo online, conseguimos lidar bem com isso e buscamos novos caminhos para atingir novos clientes

Ewerton Miglioranza, sócio da Bier Held

Pandemia também motiva investimentos e novos negócios
A pandemia não foi motivo apenas para as empresas reduzirem seus gastos ou demitirem funcionários. Em vários casos, a crise estimulou investimentos por empresas do setor cervejeiro que visaram frutos a serem colhidos em áreas nas quais novas perspectivas de expansão foram vislumbradas, com o panorama adverso proporcionando outras oportunidades de negócios.

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“Neste período de pandemia, aproveitamos para modificar processos internos. E, ao contrário do que muitas outras empresas fizeram, nós investimos. Fizemos um investimento de cerca de US$ 500 mil em um novo equipamento de fracionamento e embalagem de lúpulos. E estamos trazendo toda a nossa linha de lúpulos numa nova embalagem, em um processo totalmente automatizado, que traz mais qualidade e segurança para o usuário do produto”, destaca Dario Occelli, CEO da Eureka Insumos Cervejeiros. “Aproveitamos o momento em que o mercado estava, digamos, em recesso, para fechar grandes parcerias e procuramos novos parceiros, tanto na área de lúpulo quanto na área de malte”, acrescenta.

Capacidade de negociação para reter clientes e garantir receitas
A capacidade de resiliência em meio a uma crise econômica passa, também, pela preocupação de saber reter clientes, que durante a pandemia lidaram com consequências financeiras drásticas. O fato foi lembrado por Ederson Cavalin, diretor comercial das Chopeiras Memo, que precisou ser flexível e compreensiva para receber pelos serviços prestados.

“Quando veio a pandemia, nossos clientes pararam de vender, ficaram estagnados e caiu 90% o faturamento deles. Nós estendemos os pagamentos de todos, sem exceção. E todo mundo ligava para renegociar e pagar depois de seis meses, de dez meses. Foi um aprendizado e uma união”, diz o executivo da Chopeiras Memo.

Empresa precisa saber se reinventar e promover inovações
Thiago Chiumento, coordenador comercial da Agrária Malte, pondera que o segmento cervejeiro vive uma fase na qual precisa “se reinventar” para fidelizar os consumidores. “Têm cervejarias que reduziram muito o nível de fabricação e aí tivemos de entender um pouco mais o que o cliente desejava. Então veio essa busca por um produto com preço competitivo e que tivesse apelo também para o cliente. Paralelamente a isso, a gente promoveu algumas inovações, trouxe alguns produtos ao mercado, com o nosso grande lançamento sendo o malte de trigo”, enfatiza o especialista.

Busca por maior número de fornecedores
A pandemia e, mais recentemente, a guerra na Ucrânia afetaram a cadeia de insumos cervejeiros, em sua maioria importados, desafiando a capacidade de abastecimento das empresas do setor e impondo a necessidade de diversificação do leque de fornecedores, como destacado por Jeferson Stamborowski, gerente de produtos da Sartorius, que oferece sistemas de filtração para maximizar o processo de produção da cerveja.

A pandemia nos ensinou que ‘quem tem só um fornecedor, não tem nenhum’. Aprendemos, também junto com os nossos clientes e potenciais clientes, sobre a importância de ter capacidade de estoque e de produção de alguns itens que, devido à pandemia e à guerra, ficaram escassos. Então, é preciso buscar novos fornecedores, desenvolver mais o mercado nacional e fazer mais parcerias com empresas brasileiras

Jeferson Stamborowski, gerente de produtos da Sartorius

Demanda pelo aumento de oferta de serviços e produtos
Leandro Spaniol, gerente de marketing da Zero Grau, empresa especializada em fabricar e comercializar máquinas e equipamentos para refrigeração, destacou a “diversificação” ao comentar a necessidade crescente por disponibilizar mais serviços aos clientes de dentro e fora do setor cervejeiro durante a crise.

“Atendíamos muito o mercado de eventos. Com a pandemia, percebemos que podíamos entrar em outros mercados, como, por exemplo, de alimentação e delivery. A turma do mercado da cerveja também sofreu com logística, com delivery, com outras coisas que tiveram de arrumar para que pudessem diversificar a distribuição e a forma de atendimento”, afirma.

Eduardo Veloso, gerente de serviços da JT Instrumentação e Processos, empresa especializada em soluções industriais para o segmento de bebidas e alimentos, também apontou que novas possibilidades se abriram. “Sempre estivemos muito focados em cerveja, mas começamos a abranger outros mercados, de laticínio, de alimentação, e conseguimos aumentar também muito o portfólio dos nossos produtos para que, quando o cliente precisar, tenhamos uma solução inteira para poder ajudá-lo”, ressalta.

Sócio-fundador da Bevfy, Carlos Lima também ressalta a importância de hoje poder oferecer uma plataforma digital que tem funcionalidades que facilitam a vida de quem compra e de quem vende cervejas artesanais. “Para a gente, tem sido natural dar soluções alternativas para ações que foram impactadas durante a pandemia, como o processo de compra e venda, a limitação de oferta ou a dificuldade de acesso a alguns produtos”, enfatiza.

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