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Dólar valorizado: Alta de insumos e demanda reduzida pressionam setor

Somada com a crise do coronavírus, desvalorização do real tem provocado dificuldades para diferentes atores do setor cervejeiro

O ano de 2020 ficará marcado pela eclosão da mais grave crise sanitária das últimas décadas, mas, para a economia brasileira e seus diferentes componentes, a pandemia do coronavírus não veio sozinha. O real tem se desvalorizado desde janeiro – o dólar fechou o pregão da última quarta-feira cotado a R$ 5,59 -, algo que dificulta as atividades dos diferentes atores do setor cervejeiro, que vem sendo pressionado também por outros fatores.

A somatória de crises une desafios para geração de receita e lucro, com o intuito de manter a operação ativa. Há, afinal, um aumento de custos na produção cervejeira em função da alta do dólar. Isso se uniu à falta de demanda por parte do consumidor, algo que possui relação direta com a paralisação das atividades e a retomada reduzida da produção – o que termina por encarecer as diferentes etapas do processo. Assim, há praticamente uma “quebra” da cadeia produtiva, como alertam especialistas ouvidos pelo Guia.

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As dificuldades para as cervejarias envolvem a importação de insumos fundamentais para a produção de rótulos artesanais, caso principalmente do lúpulo, que ficou mais caro. Mas também influencia nos custos do malte, seja por se tratar de uma commodity, seja porque em alguns casos é comprado no exterior. Por isso, empresas têm revisto ou, ao menos, buscado minimizar essa estratégia.

“A alta do dólar afeta todos os insumos importados na cerveja artesanal, ou seja, praticamente em tudo como lúpulos e malte. Para minimizar, usamos um pequeno porcentual de malte nacional”, relata Gilberto Tarantino, um dos sócios e fundadores da cervejaria paulistana Tarantino.

O cenário de desvalorização do real poderia ser positivo para os produtores locais de insumos, que possuem seus preços atrelados ao dólar. Só que isso não tem acontecido porque a crise do coronavírus reduziu a fabricação das cervejarias. Assim, contraiu a demanda por malte e lúpulo, também deixando pressionados os produtores.

“Quem vende insumo, está com dificuldade, porque as cervejarias estão produzindo pouco. Se comparar a produção de fevereiro com a de agosto, está muito baixa, pois boa parte ficou sem produzir por meses e algumas cervejarias ainda tinham estoque grande de insumos”, explica Carlo Enrico Bressiani, diretor da Escola Superior de Cerveja e Malte (ESCM). “Então há uma pressão para cima, em função da alta do dólar, com outra para baixo, em função da baixa demanda. É uma equação complexa.”

Proteção a novas oscilações
O diretor da ESCM também prevê que as cervejarias estarão mais preparadas para lidar com crises nos próximos anos, diante das dificuldades e dos aprendizados que vêm encarando durante a pandemia do coronavírus.

Além disso, ele aponta que a ociosidade enfrentada em meses recentes trouxe efeitos que podem ser considerados mais danosos e duradouros para o segmento do que a valorização do dólar. “A questão do impacto cambial é menos importante do que a redução da escala. O fato de estarmos produzindo pouco encarece mais o produto do que o aumento do insumo”, explica Bressiani.

Em sua avaliação, vai se sair melhor do cenário de crise quem conseguiu se planejar melhor e realizar compras anuais de insumos, por exemplo, algo que serve como proteção para mudanças bruscas, como a atual variação cambial. Bressiani ressalta, porém, ser uma exceção quem se comporta assim no segmento de cervejas artesanais, até por uma questão de escala.

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“Quem faz contrato de compra anual não tem tanto impacto. Mas quantas microcervejarias fazem compras anuais? Então, quem compra no varejo, sofre mais com a alta do preço”, argumenta o diretor da ESCM.

Já Alexandre Prim, especialista em finanças do mercado cervejeiro e professor das Faculdades Senac Blumenau, avalia que há pouco o que as cervejarias possam, de fato, fazer neste momento, ainda mais quando a moeda norte-americana começou o ano cotada a R$ 4,03, acumulando uma alta de 38,71% até a última quarta-feira.

Mas, segundo ele, aprender a lidar com as incertezas pode ser uma lição importante para se extrair nesse momento, visando um futuro saudável do negócio. Prim também defende que sejam firmados contratos de longo prazo para evitar oscilações e facilitar um planejamento seguro da operação.

“Por se tratar de um evento externo à empresa, e comum a todos os negócios, não há nada que se possa ser feito diretamente. Entretanto, empresas podem fixar contratos futuros com fornecedores. Por mais que a baixa do dólar em um futuro próximo possa representar uma perda, isto ajudaria a diminuir a incerteza e a garantir maior estabilidade nas contas”, comenta o professor das Faculdades Senac Blumenau.

Crise prolongada
Além do encarecimento dos insumos, novas iniciativas para ampliação da produção estão inviabilizadas pelo aumento do dólar, o que impacta na aquisição de equipamentos, como destaca Bressiani. “O aço inox está cotado em dólar e ficou caríssimo. Para novos investimentos e expansão, é um problema.”

Como a desvalorização do real não veio sozinha, mas acompanhada pela crise do coronavírus, que paralisou a produção de boa parte das cervejarias, além de ter reduzido a demanda, a expectativa é de que as dificuldades no setor se prolonguem por tempo considerável. “A crise por conta da pandemia está grande, com muitos parceiros quebrando. E vai durar pelo menos um ano”, prevê Giba Tarantino.

A crise econômica no Brasil, exemplificada pela redução de quase 10% do Produto Interno Bruno no segundo trimestre de 2020, também altera comportamentos do consumidor, que tem evitado realizar compras consideradas supérfluas, segundo aponta Prim. E isso, evidentemente, adia a recuperação de setores diretamente ligados ao consumo, como o cervejeiro.

“Em minha opinião a baixa demanda é consequência de um comportamento de insegurança por parte da população. Isto é um comportamento normal da população global, ou seja, quando as coisas estão obscuras nada de investimentos altos. Isto também se repercute nas casas e famílias”, diz o professor.

Importação inviabilizada
A crise do coronavírus e a desvalorização do real também têm afetado outro importante elo do segmento: as importadoras. Diretor comercial da Suds Insanity, Adriano Wozniaki revela que as operações da empresa estão praticamente inviabilizadas.

Assim, a Suds Insanity busca alternativas para retomar e viabilizar o desembarque de rótulos estrangeiros no mercado brasileiro. “Temos estudado bastante o mercado e buscado alternativas modificando a nossa operação. Estamos com uma consultoria tributária que está nos ajudando na tomada de decisões para a continuidade do negócio”, explica Wozniaki.

Sua avaliação, aliás, é semelhante a de outros especialistas do setor. Além da alta do dólar, a importadora tem a dificuldade extra de operar em um segmento que não tem demanda neste momento – seja porque o consumo não retomou o nível anterior da pandemia, seja porque os estoques dos parceiros estão elevados.

“O cenário está muito complicado porque as lojas e bares ficaram muito tempo fechados, operando em sistemas diferenciados, o que permitiu a continuidade destes negócios, mas trouxe uma redução no faturamento. Isto, logicamente, impactou de forma negativa nossas vendas, sobretudo quando falamos nos barris de chope”, conclui o sócio da Suds Insanity.

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