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À espera da alta, cervejarias miram multinacionais, finanças e novos mercados

Expectativas para segunda metade de 2022 e cenário da indústria cervejeira foram debatidos no congresso da Agrária Malte

O segundo semestre, que certamente ficará marcado na sociedade pela realização de eleições no Brasil e da Copa do Mundo no Catar, traz otimismo para a indústria cervejeira, na expectativa de crescimento do mercado, também estimulado pela injeção de recursos na economia pelo governo federal. A expectativa positiva, porém, vem acompanhada de certo receio, pois a alta dos custos tem exibido resiliência, o que atemoriza as cervejarias artesanais, ainda tentando equilibrar as finanças. E, em busca por saídas, ainda avaliam investir em novos mercados.

O desafio da alta das despesas com a produção é conhecido, com as marcas mirando soluções, em um balanço entre preço ao consumidor, margem de lucro ameaçada e possibilidade de perda de mercado. Cautelosas e com as finanças ainda em recuperação dos efeitos da pandemia, algumas marcas optam por acompanhar movimentos de outras cervejarias.

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É, por exemplo, o caso da Ravache. Empresa do Grupo Refrigerantes Convenção, a marca afirma ter incorporado boa parte dos custos surgidos nos últimos anos, mas, em alguns casos, replica as altas nos preços definidos pelas grandes cervejarias, mesmo que elas concorram por públicos diferentes.

A gente não consegue repassar os custos. Hoje, por exemplo, estamos sofrendo com escassez e alta do CO2. Se for repassar tudo que se recebe de aumento, você está fora do mercado. O Grupo Convenção segue os passos das grandes cervejarias, mas absorve a maioria dos custos

Gustavo Assani, mestre-cervejeiro da Ravache

Os desafios econômicos e de mercado encarados pelas cervejarias foi o tema da mesa redonda que fechou a quarta-feira (20) na 13ª edição do Congresso Técnico Internacional da Agrária Malte, que acontece nesta semana em Guarapuava (PR).

Seguir as grandes cervejarias, aliás, não é passo dado apenas pela marca do Grupo Convenção. A NewAge Bebidas, que tem a Wienbier e a Pabst Blue Ribbon como destaques do seu portfólio, também admite acompanhar os movimentos de Ambev e Grupo Heineken. Porém, vê as gigantes com muito mais alternativas para lidar com os preços.

“Quando sabemos que a Ambev vai aumentar, também mexemos nos nossos preços. Mas se você observar, a Duplo Malte não muda de preço há anos”, diz, em tom bem-humorado, Fabio Violin, proprietário da NewAge.

Além disso, as cervejarias precisam lidar com a sempre difícil negociação de reajuste de preços com parceiros, seja de bares ou mesmo do varejo, enquanto buscam recuperar o poder de investimento e as finanças. É o que relata Rodrigo Veronese, mestre-cervejeiro da Leopoldina, que teve dificuldades para alterar os valores cobrados pelas cervejas na primeira metade do ano e, ainda assim, já estima uma nova alta, no segundo semestre.

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“Passamos o aumento da tabela em fevereiro, mas houve pontos de venda que não aceitaram. Então, negociamos, com a nova tabela só sendo aprovada agora. Já precisaremos de um novo repasse no segundo semestre, porque a estrutura não consegue absorver a alta do preço do vidro – ou perderemos fluxo de caixa. Precisamos agregar valor ou a conta não fecha”, argumenta Veronese.

Diante das adversidades, para os especialistas, resta o recurso das cervejarias reverem seus custos de produção, com o intuito de unir manutenção da margem de lucro com um preço competitivo. “Tem formas de se fazer. É preciso reduzir o custo com algumas alternativas industriais, que às vezes não são tão conhecidas ou óbvias. A partir disso, você pode buscar subsidiar uma negociação de venda”, defende o consultor Rogério Wonrath.

Novo cenário e produtos?
Enquanto precisam equilibrar receitas e despesas, o setor cervejeiro aspira um segundo semestre alvissareiro, como argumenta Alexandre Karkle, especialista em cevada da Agrária Malte.

“O governo vai injetar R$ 220 bilhões na economia, direta ou indiretamente. Minha expectativa é de que isso venha para o mercado. E ainda tem Copa e eleições, com um clima relativamente quente. Lá fora, já se percebe um apetite grande por cerveja na Europa, pois as pessoas ficaram muito tempo entocadas em casa”, destaca Karkle.

O problema, contudo, pode estar logo à frente, pois a injeção de recursos pelo governo federal, com claro intuito eleitoreiro, deve cobrar seu preço em breve na macroeconomia. “Há uma brincadeira em que se diz que ano par é bom, já ano ímpar é ruim. Então, esse vai ser bom, mas o próximo será ruim, porque será preciso pagar esses R$ 220 bilhões”, alerta Fabio Violin, da NewAge.

Confira o Guia Talks com o diretor comercial da Agrária Malte

Na tentativa de encontrar saídas para a crise, intensificada durante a pandemia do coronavírus, algumas marcas artesanais buscaram se transformar em indústrias de bebidas, com a ampliação do portfólio. Opções como gin e ice são vistas como alternativas interessantes por alguns profissionais.

“Tem muita gente investindo alto no volume de ice em long necks em São Paulo”, relata Gustavo Assani, da Ravache. “Na NewAge, produzimos 35 SKUs de gin. Temos clientes que dobraram as vendas nessa categoria”, acrescenta Violin.

Há alertas, porém, sobre os riscos envolvidos na decisão de seguir tendências de mercado com características diferentes daquelas do Brasil, como a própria NewAge aprendeu na prática. “A experiência no Brasil é diferente. Enveredamos no hard seltzer antes da pandemia e só tivemos prejuízo. Não volto mais. Fico chateado por ter cometido um erro tão grande”, relata o executivo.

Assim, a lição para as cervejarias é a necessidade de ter a operação bem estruturada, antes de buscar novos saltos, sob risco de complicarem as finanças.

O que vejo é que dar tiros em vários produtos tem seus riscos, com, por exemplo, estocagem de matéria-prima e investimentos. É preciso estudar antes. Tem muita tarefa de casa para ser feita ainda, com investimentos na produção cervejeira. Uma nova bebida pode até atrapalhar

Rogério Wonrath, consultor

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