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Entrevista: A flor rara e os incríveis caminhos que levam ao Slow Brew

flor
Dr. Mauricio Leandro em uma de suas "conexões" que o inspiraram a criar o Slow Brew, festival inspirado no movimento slow life

Um psicanalista vai morar no Acre, descobre um polo de cervejas europeias na Bolívia, faz um tour de quatro mil quilômetros pela Bélgica e, inspirado por uma flor rara, que abre apenas algumas horas por ano, decide criar um festival cervejeiro único, inspirado no movimento slow life.

Dessa improvável – e fantástica – conexão, surgiu o Slow Brew, um dos mais interessantes festivais cervejeiros nacionais que será realizado neste sábado, das 12h às 20h, no Centro de Eventos Pro Magno, na Avenida Professora Ida Kolb, em São Paulo.

Para conhecer um pouco mais sobre os conceitos e a história do evento, que terá 75 cervejarias e mais de 370 rótulos com livre degustação, o Guia da Cerveja conversou com o Dr. Mauricio Leandro, o psicanalista que se enveredou por essa incrível jornada.

Entre histórias aventureiras repletas de detalhes e importantes reflexões sobre a modernidade, o Dr. Mauricio conta sobre a “gênese” do festival, explica sua preocupação com o público e fala sobre o cuidado de levar cervejarias que tenham algo a dizer.

Se todas as estradas levam a São Paulo, como diz o psicanalista ao explicar sua escolha pela cidade-sede, não parece exagerado dizer: todos os caminhos levam ao Slow Brew.

Confira, a seguir, a imperdível entrevista com o Dr. Mauricio Leandro, psicanalista e fundador do Slow Brew.

Como surgiu exatamente o festival?
Eu e a Kátia [Pereira, curadora do festival] já apreciávamos cerveja artesanal há muito tempo. Inclusive, morei no Acre e lá, no final dos anos 90, a única coisa que fazíamos era ir em uma cidade na Bolívia, chamada Cobija, que é o maior centro exportador do mundo de castanha da Amazônia. Lá, os bolivianos construíram um aeroporto só para exportar a castanha – que eles chamam do Pará mas que é errado, o correto é da Amazônia. O avião ia repleto de castanha para a Europa e não podia voltar vazio. E, entre as coisas que os bolivianos traziam no avião, estavam cervejas belgas, inglesas. Então, fui me aprimorando quando morei no Acre porque ia à Bolívia tomar cerveja.

Por que o senhor foi morar no Acre?
Eu sou psicanalista e fui fazer um trabalho no Acre, de reorganizar um hospital, e depois fiz uma série de outros trabalhos. Fiquei lá por dez anos, quando no Acre ainda se desligava a luz às 22h. Então, no começo dos anos 90, antes mesmo de começar esse boom da cerveja, eu já conhecia esse mercado por conta do Acre.

E como se chegou ao festival?
Nesse tempo conheci a Kátia em São Paulo e precisei retornar. Então, saímos um dia e fui procurar um local onde tivesse cerveja artesanal e, conversando sobre isso, vimos que só tínhamos o festival de Blumenau. Um país desse tamanho e apenas um festival, enquanto lá na Bélgica, em um país que é a distância de São Paulo até Ubatuba, tinha 16 grandes festivais. Fomos para a Bélgica conhecer, ficamos 50 dias e andamos tudo. Segundo o Marcelo [Carneiro], da Colorado, fomos as únicas pessoas no mundo a andar 4 mil quilômetros dentro da Bélgica, nem os belgas fizeram isso. Conhecemos cada vilarejo, cada estradinha de lá. Então vimos e pensamos que o Brasil era muito grande para ter apenas o festival de Blumenau. Fora que uma hora fiquei sem dinheiro, na outra minha mãe ficou doente, na outra bati o carro e nunca dava certo para irmos [a Blumenau]. Conversando com os amigos, então, alguém sugeriu: organiza um, aqui mesmo. E aí, nessa brincadeira, conversei com o Samuel [Cavalcanti], da Bodebrown, com o Rodrigo [Silveira], da Invicta, com o Marcelo, da Colorado, com o Renato [Bazzo], da Dama, e eles falaram “vamos fazer, sim”. Aí pensamos inicialmente em dez cervejarias, que passou para quinze, para 25 e fechamos com 34. E assim foi o primeiro ano. Largamos nossas profissões para viver do festival, porque ele toma nossa vida o ano inteiro. É muito detalhe.

De onde veio a ideia de utilizar o conceito slow?
Lá na Europa, na Bélgica, nós conhecemos um movimento chamado “slow life”, que é um movimento do viva melhor, desacelere, viva tranquilo, sem correria. Lá também conhecemos o “slow food”, que é o coma melhor, sem pressa. E aí, em uma noite de sonhos, pensei no slow brew, que é faça cerveja devagar, sem pressa, melhor. E aí veio o nome, dentro desse conceito de viva melhor, coma melhor, beba melhor. Vem ao encontro desse pensamento. Por isso o festival tem como logomarca a ampulheta.

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Como esse conceito impacta nas características do festival?
Nosso objetivo é esse: da tranquilidade, de ter um padrão de qualidade e de que as pessoas não cheguem lá para encher a cara. Vou te falar uma frase curta, mas forte: queremos que as pessoas vão ao Slow Brew para conhecer a história dos mestres-cervejeiros, para conversar com eles.

E, nesse sentido, qual o perfil de cervejaria que vocês procuram?
O que buscamos é uma cervejaria que tenha algo para dizer, algo inusitado. Fazer uma Pilsen, uma Weiss, uma IPA, todos estão fazendo. É claro que apreciamos esses estilos, mas elas precisam ter algo a mais. Cito, por exemplo, a Morada Etílica, que está trazendo um barril que está envelhecendo há três anos, um barril enterrado. É algo inusitado. Cito também a 5 Elementos, que está trazendo uma cerveja simplesmente espetacular, com cinco frutas, uma cerveja encorpada, aromática. Buscamos cervejas que estejam trazendo algo de novo, de inusitado, de raro, de essencial. Evidentemente que essas cervejarias trazem as IPAs, as Weiss. Mas queremos também algo a mais. E, até por isso, também, teremos a premiação de melhor rótulo de lançamento.

O festival começou em Ribeirão Preto, foi para Campos do Jordão e agora está em São Paulo. Por que dessas mudanças?
Nós temos um público que é muito exigente, que quer conforto, bem-estar, um ar-condicionado. Lamentavelmente, a cidade de Ribeirão Preto não tem um centro de eventos adequado. E, também, a cidade não incorporou o Slow Brew. Quando fizemos lá, apenas 24% dos participantes eram de Ribeirão Preto e região. Os demais 76% vinham de longe, muito longe, como Brasília, que vem um grupo de 90 pessoas todos os anos, Manaus, São Luís, Pelotas. E um público muito grande vem de São Paulo. Então, dá para dizer que a cidade de Ribeirão Preto não se interessou pelo festival, fora a questão do centro de eventos.

E Campos do Jordão?
Sempre relutamos em ir para São Paulo, porque queríamos uma cidade onde as pessoas tivessem o que fazer depois do festival. E aí pensamos em Campos do Jordão, que lembra Gramado, lá no Rio Grande do Sul. Quando chegamos lá, o centro de eventos era um dos mais bonitos do Brasil, mas dá para dizer que a cidade ficou com medo do festival, achando que era um bando de pinguço que ia para lá. Só para ter uma ideia, o hotel que custava R$ 200 passou a cobrar R$ 450, R$ 500. E aí, preocupados com o nosso público, fomos buscar algo melhor para ele. Nao tinha outro caminho que não São Paulo. Todas as estradas levam a São Paulo, então vamos ficar lá. Tem um centro de eventos maravilhoso, chega avião direto, não precisa pegar estrada. Decidimos ficar de vez em São Paulo.

Qual o perfil do público do Slow Brew?
Isso é o mais importante. Fazemos o festival em um único dia – e ele será sempre em um único dia. A partir de 2019, e você é a primeira pessoa a saber disso, ele será sempre na última quinzena de novembro. Depois do dia 18, acontecerá o Slow Brew. A data do próximo ano é 23 de novembro. E fazemos em um único dia porque é para ser algo inusitado. Ou você vai, ou você perdeu. Para isso, tomamos como base uma flor [a Kadupul] que vive no deserto, que abre às 18h e morre às 6h. Se quiser ver essa flor, mas perder esse período, você vai ter que voltar no próximo ano porque ela só abre uma vez por ano durante 12 horas. Então, nos baseamos nisso. Ou você se programa para ir no Slow Brew e apreciar o que vamos levar de raridade, ou você não vai. Se decidir ir de última hora, vai ficar fora. Se não for no primeiro dia, não terá o segundo. Queremos um público diferenciado, de apreciadores, um público slower. Pessoas educadas e que vão lá para experimentar.

Como isso se reflete no festival?
Não queremos ver ninguém enchendo o copo de cerveja, por exemplo, porque ela vai perder a capacidade de degustar outros rótulos. A hora que chegar no oitavo, ela pode ir embora. Queremos pessoas que colocam dois dedinhos para conhecer e, a hora que quiser tomar, vai depois no empório, no bar. Tem uma cerveja da Morada Etílica nessa edição que a garrafa custa R$ 120, e você vai poder experimentar lá. Queremos um público gentil, que saiba apreciar, que vá lá para conhecer os mestres-cervejeiros, que são obrigados a estar lá – a cervejaria que não levá-lo, fica dois anos punida, sem poder participar do Slow Brew. Então, tem todos esses critérios, até porque não vendemos estande. Temos um critério de seleção.

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