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O que se sabe sobre a síndrome nefroneural e um estudo sobre a contaminação

Em 2010, um artigo reportou um caso semelhante ao da síndrome nefroneural e detalhou a evolução da doença

A contaminação de dezenas de lotes da Backer pela presença de dietilenoglicol tem provocado uma árdua investigação. Mas não é apenas na seara do mercado cervejeiro e do controle de qualidade onde os debates têm se intensificado. Na saúde, os profissionais também se esforçam para entender o que é exatamente a síndrome nefroneural.

A doença que teve seus sintomas detectados em quatro pessoas que morreram em Minas Gerais é pouco conhecida. Tanto que o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Ciev-Minas) divulgou, em janeiro, uma nota técnica emergencial sobre a “insuficiência renal aguda associada a alterações neurológicas de etiologia”.

A nota foi publicada quando havia 7 casos suspeitos – hoje já se aproximam de 20. E, segundo a análise, “a média de dias entre início dos primeiros sintomas e a internação foi de 2,5 dias. Todos com insuficiência renal aguda de rápida evolução (até 72 horas) e alterações neurológicas centrais e periféricas”.

Leia também – Caso Backer: Contaminação chega a 8 rótulos e 21 lotes de cerveja

De maneira geral, segundo o Ciev-Minas, a síndrome nefroneural provoca náusea, vômito e dor abdominal, seguidos por um quadro de rápida evolução para insuficiência renal e alterações neurológicas.

“A partir da análise inicial elaborou-se nota técnica com orientações para vigilância do agravo inusitado”, orienta o Ciev. “Definição de caso: indivíduo que a partir de primeiro de dezembro de 2019, iniciou com sintomas gastrointestinais (náusea e/ou vomito e/ ou dor abdominal) associados a insuficiência renal aguda grave de evolução rápida (em até 72 horas) seguida de uma ou mais alterações neurológicas: paralisia facial, borramento visual, amaurose, alteração de sensório, paralisia descendente.”

A ligação da síndrome nefroneural com a contaminação está sendo investigada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e pela Polícia Civil de MG. As substâncias monoetilenoglicol e dietilenoglicol foram encontradas no sangue dos contaminados, em inúmeros lotes da Backer, nos tanques de fermentação e na água usada para a produção das cervejas.

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Caso anterior
Um artigo escrito em 2010 por Johann Morelle, Nada Kanaan e Philippe Hantson (https://www.kidney-international.org/article/S0085-2538(15)54302-0/fulltext) e denominado, em tradução livre, “Paralisia do nervo craniano e insuficiência renal aguda após consumo de uma ‘bebida especial'”, aborda um caso de contaminação por dietilenoglicol que parece ser semelhante ao das ocorrências que envolvem as cervejas da Backer.

Como diagnóstico, o material aponta que intoxicações que resultam em insuficiência renal aguda, acidose metabólica e anormalidades neurológicas devem levar o clínico a avaliar se ocorreu ingestão tóxica de álcool. “Em nosso paciente, a intoxicação por dietilenoglicol (DEG) foi fortemente sugerida pela associação de diplegia facial periférica, tetraparesia flácida, hepatite leve e pancreatite”, explica o trio no artigo.

No caso analisado, o paciente – um homem de 40 anos – foi encaminhado de outro hospital, onde esteve internado inicialmente por quatro dias com histórico de náusea, fraqueza geral, dor abdominal, diarreia e oligúria progressiva, mas sem déficit neurológico. Os dados laboratoriais iniciais mostravam insuficiência renal aguda e acidose metabólica.

Posteriormente, ele revelou ter ingerido inadvertidamente uma bebida incolor, que lhe tinha sido oferecida cinco dias antes como uma “bebida especial” por um colega em um canteiro de obras. O artigo também aponta sintomas semelhantes aos dos casos de Minas Gerais, assim como da evolução do estado clínico.

“As primeiras manifestações de intoxicação por DEG incluem sintomas gastrointestinais, estado mental alterado e acidose metabólica. Uma segunda fase é marcada por lesão tubular hepática e particularmente renal”, diz o artigo, continuando a descrição sobre os sintomas.

“A neurotoxicidade tardia inclui anormalidades do nervo craniano (fraqueza facial, paralisia bulbar, neurite óptica) e neuropatia periférica com aumento da concentração de proteínas no líquido cefalorraquidiano. A paralisia do nervo facial parece ser um problema neurológico predominante, pois 50% dos pacientes contaminados no surto de Panamá em 2006 foram afetados e 82% deles apresentaram diplegia facial”, acrescenta.

Nesse caso específico, com encaminhamento tardio ao hospital, o paciente foi tratado por hemodiálise intermitente. A visão se recuperou precocemente, enquanto a tetraparesia – desordem na qual músculos dos quatro membros ficam fracos – começou a se resolver no 27º dia. Ele conseguiu caminhar no 34º dia. Oito meses depois, a diplegia facial periférica completa e um leve comprometimento da função renal ainda persistiam.

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