Sustentabilidade no Guia: Ações põem sustentabilidade no centro das decisões

Sustentabilidade no Guia recebeu Ornella Vilardo, do Grupo Heineken, e Caio Miranda, da Ambev

Um dos componentes mais importantes da cadeia cervejeira, as embalagens, em seus diferentes formatos, são responsáveis pelo contato do produto com o consumidor. Ao mesmo tempo, desempenham papel fundamental na estratégia de redução da emissão de carbono pelas indústrias, o que torna a sua sustentabilidade um ponto-chave dentro das iniciativas e investimentos estratégicos das principais cervejarias do Brasil.

A abordagem sobre a importância das embalagens foi um dos focos do segundo episódio do Sustentabilidade no Guia, que tem o apoio do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv). Nele, Rodrigo Oliveira, CEO da Green Mining, recebeu Ornella Vilardo e Caio Miranda, diretores de sustentabilidade do Grupo Heineken e da Ambev, respectivamente, que abordaram as estratégias das cervejarias (veja o vídeo completo do programa no final da matéria)

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Como lembrou Ornella, as cervejarias no Brasil têm uma grande vantagem pelo seu histórico de contar com embalagens retornáveis, o que contribui para a busca pelas metas de sustentabilidade. “A indústria é circular na sua essência há décadas, tendo embalagens retornáveis, com inúmeros ciclos de vida. Podemos chegar a até 30 ciclos com a embalagem indo para o ponto de venda, sendo consumida, voltando para a cervejaria, onde é lavada e novamente envasada. Em uma perspectiva de emissões de CO2, isso faz com que ela seja 7 vezes menos intensiva do que uma embalagem descartável. É uma característica da indústria e realmente dá orgulho quando comparamos com outros setores”, pontua a diretora de sustentabilidade no Grupo Heineken.

Porém, nem toda embalagem utilizada pelo setor é retornável. E tanto para Ambev como para o Grupo Heineken, nos demais tipos de embalagem, aproximadamente 70% são de vidro e 20% de alumínio, o que impõe desafios de sustentabilidade para as cervejarias.

“Hoje, você chega em uma gôndola de supermercado e vai encontrar centenas de tipos de embalagens diferentes. Todas elas trazem um desafio enorme sobre de qual forma podemos minimizar, reduzir ou eliminar o impacto no meio ambiente”, afirma o diretor de sustentabilidade da Ambev.

E essa preocupação é fundamental para que as cervejarias insiram as embalagens em suas estratégias de sustentabilidade, como argumenta Ornella. “Hoje, a embalagem representa aproximadamente 25% da nossa pegada carbono. É um quarto das emissões do grupo e não tem como não ter um olhar aprofundado para isso, com os elos da cadeia”, destaca a profissional do Grupo Heineken.

Então, se as embalagens têm papel fundamental, as ações para torná-las mais sustentáveis precisam envolver toda o setor. “Também é importante trazer o setor de bares e restaurantes, parcerias com startups e outros para essa conversa”, completa Miranda.

Leia também – Sustentabilidade no Guia: “O que a indústria da cerveja faz no Brasil pode ser escalonado”

Confira a seguir os principais pontos abordados por Ornella Vilardo e Caio Miranda, diretores de sustentabilidade do Grupo Heineken e da Ambev, respectivamente, sobre os desafios e planos das cervejarias no Sustentabilidade no Guia:

Importância da reciclagem e da retornabilidade

A emissão de carbono para produzir uma garrafa ou lata do zero é maior do que para reciclar. Então, quando usamos material reciclável ou mesmo o produto retornável, tendo que fabricar menos garrafas e latas novas, menor vai ser a emissão de carbono e o impacto que teremos nas mudanças climáticas. No setor, falamos de alguns bilhões de embalagens. Ou seja, qualquer redução que consigamos gerar causa um impacto bastante significativo. Por isso, as embalagens desempenham um papel fundamental quando se fala em redução das emissões de carbono

Caio Miranda, diretor de sustentabilidade da Ambev

Mudança no consumo desafia indústria
“O consumo brasileiro tem se alterado ao longo do tempo. Hoje, as embalagens retornáveis estão mais concentradas dentro do canal de bares e restaurantes, enquanto o consumo tem se intensificado dentro de casa, com a pandemia tendo sido um catalisador disso. E esse é um grande desafio para o setor”, comenta Ornella.

Gargalo das retornáveis no varejo
“O primeiro desafio é o retornável no canal do varejo porque no canal de bares e restaurantes você tem um ponto de acúmulo muito mais fácil de ser operacionalizado. Quando você vai para canais em que a embalagem vai para a casa do consumidor, a embalagem passa a ser parte dos resíduos sólidos urbanos. Tem uma pulverização muito maior, uma dificuldade logística, necessitando de outros atores e parceiros na coleta, até o próprio município, uma vez que a coleta seletiva deveria ser uma realidade em todas as cidades brasileiras, mas sabemos que estamos distantes dessa meta”, afirma a profissional do Grupo Heineken.

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Desafios do vidro

Temos colocado mais foco, esforço e energia no vidro. Nos comprometemos, no ano passado, em sermos 100% circulares no canal de bares e restaurantes até 2025. E, para nós, o conceito de circularidade é que a embalagem seja retornável ou reciclada, voltando para a cadeia. Esse é um objetivo bastante audacioso por ser um volume significativo do portfólio. Entendemos que em algumas frentes temos de ser mais disruptivos para conseguir mudar uma cadeia que ao longo do tempo tem se movimentado pouco. A reciclagem do vidro no Brasil não evoluiu em grande medida nos últimos 10 anos. A taxa de reciclagem está por volta de 25%, sendo que é um material infinitamente reciclável. É um super desafio, mas que a gente está extremamente disposto, inclusive, a cooperar. Não será com uma solução de um só player, tem que ser uma solução bastante colaborativa

Ornella Vilardo, diretora de sustentabilidade do Grupo Heineken

Iniciativas para engajar o ecossistema
“Temos um ecossistema incrível quando olhamos toda cadeia e tudo que a cerveja pode fazer, desde o agro até a casa do consumidor. Ainda existe muito espaço para se trabalhar com esse ecossistema e buscar soluções. Queria destacar, por exemplo, uma que é da Heineken, que a Ambev já tinha feito no passado, que é ter os pontos de coleta para os consumidores. No nosso caso, temos os pontos onde o consumidor pode levar garrafas através do Zé Delivery. O consumidor pode entregar as garrafas quando pede o produto pelo aplicativo. Tentamos eliminar um pouco as dores do consumidor de ter que estar carregando esse material. E quando olhamos para a long neck, esse é o grande desafio. Por isso, começamos um projeto com a Corona em Curitiba de long neck retornável”, diz Miranda.

O teste da Ambev com a long neck retornável da Corona
“É preciso fazer o consumidor entender que esse produto não pode mais estar no lixo comum. E aí entra a responsabilidade do nosso setor de criar a facilidade de fazer com que isso aconteça. Começamos esse piloto e agora deve expandir para todo o Brasil, até o fim do ano, para entender como é o comportamento do público. O importante de fazer esses pilotos é entender como o consumidor da nossa cadeia vai se adaptar ou vai entender a iniciativa de retornabilidade que a empresa implementa”, conta Miranda.

Compromissos que “pressionam” a cadeia
“No ano passado, em abril, o Grupo Heineken assumiu o compromisso de ser Net Zero até 2040. Nos antecipamos em dez anos em relação ao Acordo de Paris, com a Ambev também se unindo a esse compromisso. Não temos todas as respostas ainda de como zerar a pegada de carbono, mas isso precisará ter um envolvimento mais amplo da cadeia de fornecedores. Trazemos essas metas também para que os parceiros se comprometam, olhando para energias renováveis nas produções, por exemplo. São várias frentes que vão ter que ser ativadas mutuamente, ao mesmo tempo, para que consigamos chegar onde queremos”, comenta Ornella.

Sustentabilidade em todos os passos
“O nosso sonho é entregar uma experiência inesquecível para o consumidor, com sabor, aroma, mas também que seja sustentável. Nossas metas são sempre de 100% porque cada 1% é muita inovação. Em termos de tecnologia, a sustentabilidade precisa estar no centro das decisões. Conseguimos um modelo de negócio dentro da Ambev em que cada área tem um gerente de sustentabilidade. Se você deixar a área de sustentabilidade mais isolada, não vai funcionar, porque algumas vezes as decisões já estão muito adiantadas. Então, essa forma de tratar inovação tem funcionado muito bem”, argumenta o diretor de sustentabilidade da Ambev.

Sonhos sustentáveis
“Um primeiro sonho é que a as áreas de sustentabilidade sejam extintas, com isso estando tão permeado nas organizações que qualquer função tenha este valor na forma de fazer negócio. Olhando para embalagens, como uma opinião pessoal, quando vejo soluções como as dos growlers, que são duráveis e você pode ter por anos, seria um sonho. Mas, claro, há muitas barreiras a serem ultrapassadas nisso, que tem sido explorado no chope no canal de bares e restaurantes”, diz Ornella.

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