Cerveja e Negócios: O crescimento e suas dores
O mercado cervejeiro artesanal latino-americano segue em franco crescimento. Uruguai, Argentina, Paraguai, Chile, Peru, Colômbia e Brasil despontam como molas propulsoras deste movimento. O Brasil bem à frente, dada sua dimensão continental e sua população. Mas este crescimento é sustentável? Esta é a pergunta do milhão.
Nos Estados Unidos, nosso benchmarking para o entendimento da dinâmica deste mercado, houve um processo parecido, com uma explosão de cervejarias entre a década de 1980 e o final dos anos 1990, depois uma parada até 2008 e finalmente um crescimento quase que exponencial até chegar aos números de hoje, com mais de 8 mil cervejarias.
Ao fazermos um paralelo – tosco, é verdade, já que as realidades de ambientes de negócio e poder aquisitivo são totalmente díspares – chegamos à conclusão de que nossos países ainda estão na primeira fase do crescimento.
Os norte-americanos nos explicam que esta parada se deu após o estouro da bolha das .com no final da década de 1990 e que havia muitos aventureiros – investidores que não entendiam de cerveja e cervejeiros que não entediam de negócios – abrindo novos negócios que eram muito mal geridos ou entregavam um produto de baixa qualidade.
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Desta forma, houve uma retração no consumo associada a problemas de precificação que levaram muitas cervejarias à lona. Após a depuração do mercado, que lá durou quase 10 anos, o setor voltou a crescer fortemente, chegando aos números de hoje. A pergunta é: o ciclo vai se repetir aqui?
Provavelmente sim em algum grau. Não se espera uma retração nem um prazo tão longo de recuperação, mas há alguns sinais de que podemos ser muito mais profissionais nos nossos empreendimentos.
Melhorias de produto, processo, controle, layout, conhecimento técnico, posicionamento, gestão e otimizações são a ordem do dia. Temos a chance de encurtar o ciclo de baixa e seguir crescendo se entendermos que cervejarias são indústrias e não fábricas de gambiarras onde tudo é permitido, já que somos “artesanais”.
O que o público espera de nós são bons produtos, com boas histórias para contar. É conhecer o cervejeiro, pisar no chão da fábrica e ouvir um sommelier apaixonado dando dicas. São sabores locais, especiais e únicos. E muito profissionalismo.
Carlo Enrico Bressiani é diretor geral da Escola Superior de Cerveja e Malte, sommelier de Cervejas ESCM/Doemens, PhD em Finanças pela Universitat Ramon Llull em Barcelona, consultor e autor de livros nas áreas inovação, projetos e finanças
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