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Debate: 5 tendências que vão mexer com a cerveja nacional nos próximos anos

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Em debate na Brasil Brau, especialistas levantam os principais pontos de atenção e tendências para os próximos anos no mercado brasileiro

A Brasil Brau, maior feira de negócios do setor cervejeiro do país, se configurou em sua 15ª edição não apenas como um foro interessante para os negócios, mas como um ambiente fértil para debates de tendências e rumos do mercado nacional.

Na mesa “Tendências cervejeiras – destaques para as próximas temporadas”, os analistas Rafa Brunetto, Luís Celso Jr., Bob Fonseca, Raphael Rodrigues e Heloisa Lupinacci discutiram quais das inúmeras tendências têm potencial para se consolidarem no mercado.

Da importância de oferecer boas experiências, passando pela questão da sinergia com a gastronomia, a diversidade nos portfólios e a influência externa, os especialistas concordam com a necessidade de um amadurecimento do mercado brasileiro – algo que eles veem acontecendo lenta e consistentemente. Confira, a seguir, os cinco principais pontos discutidos na mesa.

1- Experiência: Tap Room x Brewpub
Os dois formatos têm se popularizado e se aperfeiçoado nos últimos anos. Se, por um lado, a proposta das tap rooms se adéqua melhor àqueles que têm mais envolvimento com a cerveja em si e pouco exigem do entorno, os brewpubs tendem a valorizar mais a experiência da ocasião de consumo, abordando a cerveja como mais um (talvez o principal) dos elementos que compõem uma experiência mais complexa.

“O modelo proporciona o consumo local, você não precisa se deslocar muito para consumir a cerveja artesanal. Mas, especificamente em São Paulo, os cervejeiros vêm fazendo isso de forma meio atabalhoada, copiando o modelo norte-americano, de um espaço pequeno, sem muito espaço para sentar e com poucas opções de comida. O público do Brasil busca uma experiência mais completa. Acho que o modelo de brewpub atende mais a esse perfil, passa a ser uma opção para as famílias, enquanto o tap room limita um pouco o perfil. Na África do Sul muitas cervejarias têm espaço para crianças, para que a família vá passar um tempo legal juntos”, avalia Bob Fonseca.

Para Heloisa, os tap rooms partem do pressuposto de que existe um comportamento padronizado entre os cervejeiros – de conhecer a marca e o produto, sem outras preocupações. “São lugares pequenos, concebidos para quem não se importa de consumir em pé, e não tem que prestar atenção se sua criança está atravessando a rua. Tem um mercado imenso completamente à parte disso, e já temos vários exemplos de lugares que já estão preparados para acolher esse público novo.”

2- Minorias e Diversidade de Público
Não é de hoje que a cultura da cerveja artesanal arrasta consigo determinados padrões étnicos, sociais e culturais, formando uma massa bastante homogênea nesse sentido e, consequentemente, excluindo minorias. Em diversos momentos a questão da diversificação e da inclusão de outros públicos no ambiente cervejeiro foi debatida na Brasil Brau.

“Quando estamos falando de cerveja, estamos falando obviamente de mercado, mas estamos falando é de cultura. Eu tenho medo disso (a questão da inclusão) se tornar uma pauta de mercado antes de ser tratada como algo relacionado à cultura. O caminho natural é entender como isso está acontecendo na cultura cervejeira, para depois ver como isso pode se reverter em produto”, afirma Heloisa.

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3- Brasilidade e Escola Brasileira
O reconhecimento da Catharina Sour como estilo oficial do Beer Judge Certification Program (BJCP) não poderia ser diferente: suscitou ao longo do último ano discussões sobre as características tipicamente nacionais na cerveja e a possibilidade da formação de uma escola brasileira. Para Luiz Celso Jr, a discussão é apressada. “Temos um potencial grande no Brasil de uso da cor local para criar futuramente, quem sabe, uma escola brasileira de cerveja. Mas a gente ainda está nas fraldas. É um mercado muito novo, que tem muito a amadurecer, tanto do ponto de vista de market share como na maneira de utilizar os produtos”, diz, citando a opção “fácil” de cervejarias pelos estratos de frutas e de outros elementos em vez do aprimoramento técnico do uso dos produtos.

Para Bob Fonseca, mais do que uma discussão técnica de ser ou não um estilo, a Catharina Sour põe o Brasil em uma posição que nunca ocupou. “Dá para considerar uma vitória. Ela inverte o fluxo de apenas reproduzirmos o que é feito nos Estados Unidos, e faz com que cervejeiros de fora do Brasil se interessem em produzir algo que foi concebido aqui”, afirma. “Mas é muito cedo para falar sobre escola brasileira. Não temos o protagonismo do mercado norte-americano, nem a tradição do mercado europeu. Vai levar algumas décadas para poder falar nisso.”

4- Diversidade de Estilos
Ao contrário do que a indústria pode sugerir, modismos e foco em determinados estilos por um certo período de tempo não devem ser a tônica do mercado em um futuro com consumidores mais maduros. Segundo Celso, relatórios da Brewers Association já apontam o resgate de antigos estilos leves e refrescantes (como Kölsch e Helles) como tendência, quebrando a hegemonia das lupuladas, fortes e extremas. Raphael Rodrigues questiona a pertinência de lógicas óbvias propostas pelo mercado.

“Há uma tendência de dizer que estamos em um país tropical, portanto precisamos de cervejas mais leves e o consumidor abraça essa ideia. Mas aqui vemos gente tomando RIS na praia. O povo é muito diverso, por isso, o portfólio deve ser amplo. Vamos explorar”, afirma Raphael. “Com um portfólio que vai desde o básico até o mais complexo, você vai alcançar todo o tipo de público”.

Já Heloisa enxerga uma tendência de acomodação do consumidor ao passo que o frescor das novidades se esvai. “Há uma cultura cervejeira brasileira que é ligada a conversar por muitas horas consumindo, que de certa forma exige uma cerveja leve. Assim, tem um ciclo natural de deslumbramento do consumidor e do mercado com novidades, mas também de uma redescoberta de um modo nosso de consumir cerveja.”

5- Gastronomia
Ainda há muito o que ser explorado na interação entre gastronomia e cerveja, ao mesmo tempo em que barreiras muito fortes se impõem. “Tem alguns pares que funcionam muito bem. Ninguém questiona tomar cerveja com pizza, ou hambúrguer com IPA. Mas quando vai para uma gastronomia mais chique, só vejo as pessoas abrindo uma garrafa de vinho. Não vejo um dono de restaurante comprando uma briga que não é dele para inserir a cerveja nesse ambiente”, avalia Heloisa. “O consumidor está pedindo ajuda para escolher”.

Na opinião de Raphael, a cultura popular, como as novelas e séries, ainda hoje muito influentes na opinião pública, alarga esse abismo. “Como um público mais amplo vai falar de cerveja artesanal se na novela, em um jantar mais elegante, só se toma vinho?”.

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