Em apoio a karajás, Cruls, Nacional e Cerrops criam cerveja com insumos locais
Um projeto para apoiar os karajás uniu marcas de cerveja e produtores de insumos na criação e lançamento de um rótulo fabricado com ingredientes nacionais. A cerveja é a Lenda Tainá-Kan, produzida a partir de uma colaboração entre a Cervejaria Nacional, a Cruls Cervejaria e a Cerrops Lúpulos do Cerrado, com apoio da Agrária, da Bio4 e do Instituto LeftBank.
A iniciativa tem a intenção de homenagear, valorizar e ajudar a manter viva a cultura dos povos indígenas, que tem o 19 de abril como sua data. E chamando a atenção para essa causa, as marcas envolvidas buscam incentivar as doações para uma campanha que irá ajudá-los através de doações para a Associação da Aldeia Karajá de Aruanã (AAKA), por meio de um site, que também traz informações sobre a cerveja.
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Esse canal de doações foi viabilizado pelo Instituto LeftBank, com a comunidade indígena apoiada por estando baseada às margens do Rio Araguaia, em Aruanã (GO). O rótulo das latas possui um QR Code que direciona ao site do projeto.
“Temos o compromisso de resgatar, com urgência, a dignidade dos nossos povos indígenas. Nossa história, como nação, começa com eles. Cuidar e zelar dos direitos dos povos originários, além de primordial, é dever de todos os brasileiros. Estamos muito felizes em poder contribuir e disseminar essa ideia, estimulando mais e mais pessoas”, afirma a presidente do LeftBank, Rosângela Caino.
A equipe do projeto esteve na Aldeia Karajá de Aruanã em março para se reunir com as lideranças indígenas e obter a anuência para a execução do projeto de apoio à associação. Além disso, também foi validada a identidade visual desenvolvida pela ilustradora Raquel Gomide e os materiais produzidos para divulgação.
“Ajudar a contar uma lenda que se passa no Cerrado, onde estão as nossas raízes, é uma forma de reforçar ao mundo cervejeiro a necessidade de apoio à luta indígena por respeito, valorização e melhores condições de vida”, afirma João Marcelo Marins, sócio da Cerrops.
A Terra Indígena Karajá de Aruanã tem uma população estimada de 213 habitantes, de acordo com dados de 2010, estando localizada em uma área de 14 hectares. Faz parte, assim, da comunidade dos karajás, habitantes seculares das margens do rio Araguaia nos estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso, que possuem longeva convivência com a sociedade.
O grupo, porém, mantém costumes, como a língua nativa, as bonecas de cerâmica, as pescarias familiares, os rituais como a Festa de Aruanã e da Casa Grande, os enfeites plumários, a cestaria e artesanato em madeira e as pinturas corporais, como os característicos dois círculos na face, de acordo com informações do Instituto Socioambiental.
A cerveja e seus ingredientes
A Lenda Tainá-Kan é uma Session IPA. Possui uma presença aromática forte, se destacando as características do lúpulo Comet do cerrado brasileiro. E todos os seus insumos são nacionais, incluindo mandioca, em referência à alimentação tradicional dos karajás. Os maltes e as leveduras foram doados por outros dois parceiros do projeto: Agrária Malte e Bio4.
De acordo com a descrição divulgada, essa cerveja apresenta aromas de frutas amarelas como pêssego e herbal. Na boca, possui baixo corpo e amargor médio. É leve, refrescante e aromática, com sugestão de harmonização com tapioca, queijo coalho ou filé de peixe branco e caprese. Ela possui 5% de graduação alcoólica e 25 IBUs de amargor.
“O mais valioso desse projeto está em mostrar a riqueza da história do Brasil e em como precisamos valorizar o que é local. Em um único projeto, conseguimos unir duas cervejarias que ainda não haviam trabalhado juntas, uma produção local de lúpulo, a maior produtora nacional de maltes e uma empresa brasileira de biotecnologia. Tudo isso para elaborar uma excelente cerveja e contar uma história riquíssima, muito pouco conhecida”, destaca Pedro Capozzi, sócio da Cruls.
Para esse lançamento, foram produzidos 500 litros de cerveja, que serão comercializados em chope e em latas de 473ml. Em Brasília, a Lenda Tainá-Kan será comercializada em chope e lata no Boteco Cruls, que realiza evento de lançamento nesta quarta-feira, além de bares parceiros e via delivery, assim como através do seu e-commerce, com entrega em todo o país. Em São Paulo, essa Session IPA poderá ser adquirida em chope e growler PET na Cervejaria Nacional, onde o lançamento está previsto para a próxima terça (25).
“Tradição e inovação se encontram no copo de Tainá-Kan. Ficamos muito contentes com esse projeto proposto pela Cerrops. Faz parte da história da Nacional valorizar a pluralidade da cultura brasileira e trazer isso para o meio cervejeiro. Nesse projeto, conseguimos ao mesmo tempo contar uma lenda da cultura Karajá e trazer aos consumidores a experiência inovadora de experimentar um lúpulo fresco e nacional”, diz Marcos Braga, mestre-cervejeiro da Nacional.
A lenda que dá nome à cerveja
O nome da cerveja é inspirado em uma lenda da cultura karajá, de um guerreiro que transmite ao povo o dom da agricultura. Imaeró, uma bela indígena, desejava a estrela Tainá-Kan, conhecida como estrela d’alva. Sua vontade se realizou, mas a estrela se materializou na forma de um velho homem, já enrugado. Imaeró, decepcionada por encontrar um ancião em vez de um jovem, o rejeitou.
No entanto, sua irmã, Denakê, se compadeceu de Tainá-Kan e decidiu que se casaria com ele. O velho homem prometeu cuidar de Denakê e alimentá-la, partindo para a mata. Denakê ouviu que deveria esperá-lo em casa, mas, com o passar das horas, decidiu ir ao seu encontro.
Denakê, então, se deparou com uma surpresa ao encontrá-lo preparando um roçado na mata: Tainá-Kan havia assumido a forma de um guerreiro karajá, jovem e forte. Ele explica que não apareceu desta forma para Imaeró porque ela não foi capaz de enxergar além do que seus olhos podiam ver. Tainá-Kan foi muito feliz ao lado de Denakê e deu um grande presente ao povo karajá: ensinou a eles o dom da agricultura.
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