Cerveja e sustentabilidade: Temos que falar!

Pautas historicamente consideradas “tabus” no mundo corporativo se tornam obrigatórias e não conseguem mais (nem devem) ser ocultadas. Não se incomodar com falas e atitudes contrárias aos princípios de igualdade, equidade e diversidade não é mais tolerável. Mas apenas se incomodar e não fazer nada também não pode ser.

No meio cervejeiro, o desafio vem, cada vez mais, sendo tratado com objetivos claros para que as principais cervejarias do Brasil possam ter dentro do ecossistema de colaboradores, fornecedores e consumidores uma construção positiva para a sociedade. Neste tema, Ambev e Heineken trocam a palavra “concorrer” por “compartilhar” – afinal, boas práticas devem ser disseminadas para que sirvam de exemplo dentro e fora do mundo cervejeiro.

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Mas por onde começar?
As duas empresas citadas optaram por um início fundamental: o letramento. Saber que ainda precisamos aprender a falar sobre o assunto para nos posicionarmos de forma correta é a primeira demonstração aberta de fragilidade que está se buscando fortalecer. A Heineken criou o Grupo Origens para o engajamento e conscientização inclusive das lideranças com ações de estudo e treinamento sobre a pauta racial; e a Ambev, desde 2016, iniciou treinamentos de diversidade, inclusão e viés inconsciente, abordando marcadores sociais, preconceitos e o letramento de termos adequados a serem usados.

Para que o posicionamento de suas marcas tenha uma forma genuína de se expressar, as grandes cervejarias vêm criando programas específicos voltados para aumentar a igualdade e representatividade nos cargos de tomada de decisão. Notoriamente, não é uma transição rápida e simples, mas é necessário começar a jornada para que isso seja possível com novas formas de crescer programas de igualdade.

O BOCK é um grupo de afinidade étnico-racial criado para servir como plataforma de acolhimento, engajamento e representatividade para pessoas negras na Ambev. Hoje, mais de 700 pessoas ajudam as marcas e a empresa na construção de projetos, opinando sobre formas de falar e abordagem de temas. A empresa desenvolveu também um programa de estágio exclusivo para gerar oportunidades reais de desenvolvimento para pessoas negras e criou um comitê de especialistas externos relacionados à pauta racial.

Com um olhar além dos muros, a Heineken faz parte do Mover Movimento pela Equidade Racial, um grupo de grandes empresas que atuam em diversos setores da economia e têm o objetivo comum de eliminar a desigualdade e o racismo no mercado de trabalho. E anunciou a meta de terem 40% dos cargos de liderança ocupados por profissionais negras e negros até 2030.

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Quando o assunto é igualdade de gênero, a Ambev assinou os Princípios de Empoderamento das Mulheres na ONU em 2016 e trabalha com medidas internas que envolvem a valorização das mulheres e outros grupos de autenticidade, como a iniciativa WEISS (Women Empowered Interested Successful Synergies), grupo interno focado na pauta das mulheres no mercado de trabalho, que atua para que haja cada vez mais presença feminina em cargos de liderança. Já a Heineken possui um programa exclusivo para promover a diversidade e inclusão de gênero em todas as áreas da empresa, em departamentos que ainda são predominantemente formados por profissionais do gênero masculino. O objetivo é desenvolver mulheres para atuarem em todas as posições, de diretoria a motorista de caminhões, e ter metade dos cargos de liderança ocupados por mulheres até 2026.

Engajamento com a comunidade LGBTQIAP+
Ter funcionários e funcionárias sendo respeitados e se sentindo confortáveis no trabalho está em um dos primeiros patamares da Pirâmide de Maslow, que elenca as necessidades humanas de acordo com suas prioridades. Para isso, um emprego estável, onde a pessoa se sente acolhida, é fundamental.

Quando o assunto é a comunidade LGBTQIAP+, o orgulho de intensificar ações relevantes relacionadas ao tema é contagiante. As iniciativas das cervejeiras também aparecem de diversas formas – uma das que vem fazendo grande diferença é o apoio à retificação de nome social de seus funcionários trans e travestis. Ambas as cervejarias dão este apoio em todas as etapas do processo – vale o destaque para ação da Heineken durante a Parada do Orgulho LGBTQIAP+ em São Paulo, que promoveu a retificação para o público em geral e teve uma procura 3 vezes maior que o esperado, comprovando a importância que esta ação promove na vida das pessoas.

A Ambev, que firmou um compromisso público com o respeito à diversidade e apoio à comunidade LGBTQIAP+, criou o Palco Beats, que promove artistas trans e travestis em casas de shows espalhadas pelo Brasil. Atualmente, a Ambev conta com uma consultoria de diversidade e inclusão para identificar suas principais dores e experiência na empresa, assim como discutir práticas de representatividade e inclusão com os demais profissionais e parceiros da companhia, que hoje conta com cerca de 130 colaboradores trans.

Vale ainda citar programas do Grupo Heineken voltados para promover a diversidade de faixas etárias com a inclusão de pessoas com mais de 50 anos e promover a inclusão de pessoas com deficiência por meio de ações de conscientização e direcionamentos sobre como ter ambientes cada vez mais inclusivos em todos os aspectos.

Em um mundo que exige uma sociedade cada vez mais respeitosa, que largue amarras pré-históricas de desigualdade, urge a necessidade de posicionamento claro, mas principalmente de ação de combate. Neste sentido, ações específicas que permitam impulsionar a equalização de diversos temas como gênero e raça são protagonizadas por empresas como Ambev e Heineken, que percebem que precisam arrumar a casa para se posicionar de forma mais clara, inclusiva e generosa com seus consumidores. Um brinde por mais e novas iniciativas!

*Rodrigo Oliveira é fundador da startup de logística reversa inteligente Green Mining, administrador de empresas pela FGV-EAESP, com mestrado em Sustentabilidade pela FGV.

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