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Tragédia das chuvas na Bahia dificulta operação e adia recuperação das cervejarias

Chuvas provocaram 26 mortes na Bahia e provocaram diversos problemas na região sul do estado

O mês de dezembro de 2021 e o começo de 2022 foram de caos, tragédia e perdas na Bahia. Em um período que costuma ser marcado pelas festividades, o estado, especialmente na região sul, sofreu com os efeitos das fortes chuvas, que provocaram inundações, em função da elevação do nível dos rios, e deslizamento de terras, em uma triste catástrofe natural. Enlutada, a sociedade ainda contabiliza os efeitos, assim como as cervejarias locais, que enfrentaram desafios para operar logo quando se esperava um crescimento expressivo nas vendas.

Afinal, entre as diversas cidades da Bahia que sofreram com as enchentes entre o fim de dezembro e o começo de janeiro, algumas delas possuem marcas artesanais, como Porto Seguro, Amargosa, Lençóis, Itabuna e Ilhéus, localidade onde estão instaladas a Cervejaria Delicious e a Três Barcaças.

Os efeitos trágicos das chuvas, evidentemente, causaram problemas para as cervejarias artesanais na Bahia. Eles passam pelos desafios de produção da bebida, em função da eventual falta de energia e água. Além disso, a destruição de estradas impossibilitou, em alguns casos, a distribuição do que se fabricou.

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No auge do caos, as marcas enfrentaram, especialmente, problemas de logística, ficando impedidas de realizarem entregas por causa da destruição de estradas, como aconteceu com a Delicious, que não conseguiu atender um parceiro em Itacaré, que possui uma taphouse e adquire cerca de 150 litros por semana de cervejas da marca.  Já o CEO da Três Barcaças, Oliver Calleb, ficou dois dias sem ter condições de ir à cervejaria que a sua marca compartilha com a Delicious em Ilhéus.

Os desafios logísticos também acabaram por espalhar os danos originários das chuvas para cervejarias de outras localidades da Bahia. Assim, embora os maiores danos provocados pelas chuvas tenham se concentrado na região sul, marcas de cidades menos afetadas também foram atingidas por esses efeitos. Quem pôde perceber isso foi Gustavo Martins, sócio da MinduBier, da capital Salvador.

“Diversos parceiros comerciais e cervejarias de amigos foram afetados diretamente, perdendo seus estoques e equipamentos. Temos parceiros comerciais principalmente nas regiões de Itabuna e Itacaré que sofreram bastante”, afirma.

Sócio-administrador da Delicious, Mauro Seixas lembra que os problemas enfrentados foram além das inundações, tendo começado antes mesmo delas. Como a chuva permaneceu ininterrupta em Ilhéus durante o mês de dezembro, a expectativa de grande faturamento não se concretizou.  

“Quando a gente achou que teria um verão bom, veio o mês de dezembro, que foi caótico para o comércio, com chuva todos os dias e finais de semana. Muitos bares ficaram fechados. E é um período em que Ilhéus conta muito com o turismo, até por ser um hub de voos. O mês era para ter um pico de vendas, mas não ocorreu. O faturamento foi similar a outubro”, relata.

Com uma produção mensal de cerca de 2,5 mil litros de cerveja por mês, a Delicious freou alguns projetos, como o início do envase de seus rótulos em latas ao avaliar que o cenário é de reconstrução. “Estamos com um verão triste. Talvez tenha juntado com o efeito da pandemia, com gente que perdeu emprego e recursos”, avalia.

Essa frustração com uma triste realidade que se impôs também atingiu a Três Barcaças, que vivia a expectativa de ter ganhos relevantes no primeiro dezembro em que a sua growler station estava em funcionamento, pois o espaço foi aberto em julho. Porém, o CEO Oliver Calleb, contabiliza um prejuízo de cerca de 30% do faturamento em função das chuvas para a marca, que estima produzir cerca de 3 mil litros de cerveja por mês.

E o cenário se tornou ainda mais complicado por se dar no verão, quando o consumo de cerveja costuma aumentar, e logo após o abrandamento das medidas restritivas adotadas em função da pandemia do coronavírus. “Tudo isso ocorreu em um período no qual estávamos retomando as atividades, iniciando uma recuperação lenta e gradativa, ainda em decorrência da pandemia de Covid-19”, lembra Isabela Casales, responsável pela realização do evento Beba Local Bahia, que agrega diversas cervejarias do estado.

Ações de apoio
Ainda que encarando os próprios desafios, as marcas também buscaram apoiar os mais necessitados. A Delicious, por exemplo, arrecadou alimentos, doou um dia do couvert artístico da sua casa, assim como algumas bandas. E parou as suas atividades por um dia para produzir 200 litros de suco de umbu, com a intenção de ajudar pessoas que não tinham acesso a alimentos e bebidas. “A gente parou a planta por um dia para fazer suco. Comprei polpa de umbu, açúcar e fiz o suco concentrado, sendo colocado em growlers de 1 litro para doação”, explica Mauro.

Já a Três Barcaças manteve a sua growler station aberta para receber mantimentos e dar chope em troca. “Doamos 252 litros de chope na growler station em troca de alimentos, que foram em torno de 500kg. Mas muitas dessas doações também foram em forma de Pix solidário, com a pessoa doando R$ 15 em troca de 1 litro de chope. Um detalhe interessante é que algumas pessoas doaram através de Pix mesmo não morando na região, ou seja: sem querer o chope em troca”, afirma Calleb.

Agora, no momento de reconstrução, a Três Barcaças também vai realizar uma ação de apoio aos atingidos pelas chuvas. A marca prepara o lançamento de uma cerveja, a Amanara, uma Cacau IPA, que terá 100% dos seus lucros destinados a pessoas atingidas pelas enchentes.

A ideia é estimular outras cervejarias da Bahia a fazerem o mesmo, produzindo rótulos que levem cacau, um produto típico da região sul do estado, com lançamento previsto para 4 de março. “O projeto é fazer uma cerveja com doação de 100% dos lucros para os atingidos. Vamos fazer um primeiro lote, com a ideia de ajudar a inspirar outras pessoas e cervejarias”, afirma Calleb.

Cervejarias de outras localidades da Bahia também buscam dar algum amparo a quem sofreu com as chuvas. A MinduBier, por exemplo, tem atuado ajudando seus parceiros nesse momento de reconstrução, revendo a data de recebimento de pagamentos de estabelecimentos que compram as suas cervejas.

“Estamos bastante solidários à causa de ajudar os nossos parceiros a se reerguer. Sabemos que a situação é bastante delicada, buscamos entender como serão os planos de cada um daqui para frente para saber como lidar com cada situação. Dívidas de alguns parceiros conosco estão sendo postergadas, para que os esforços sejam voltados à reconstrução dos pontos comerciais”, afirma.

Estado de emergência e cancelamentos
Os últimos dados divulgados pela Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia apontavam, na quinta-feira (13), 175 cidades em estado de emergência após as chuvas, com 856.917 pessoas atingidas. Ao todo, são 26.210 desabrigados, 59.637 desalojados, dois desaparecidos e 523 feridos, além de 26 mortos.

Diante do cenário de caos em dezenas de municípios, o governador Rui Costa decretou, ainda em dezembro, estado de emergência, com validade de 90 dias, permitindo que autoridades públicas liderem as iniciativas mais urgentes. E ele estima que será necessário o investimento de R$ 1,5 bilhão para a reconstrução da infraestrutura afetada pelas chuvas.

Nesse momento, então, as ações na Bahia estão voltadas para limpeza das cidades, reconstrução de estradas, pontes e infraestrutura de água e energia. Além disso, há ações para fornecimento de moradia para aqueles que perderam suas casas, além de ter sido criado um programa para reposição dos principais eletrodomésticos perdidos durante as enchentes, assim como uma linha de financiamento especial para reconstrução de pequenos negócios.

As chuvas na Bahia também já têm afetado a programação de alguns eventos cervejeiros. O Beba Local Bahia, que agrega diversas cervejarias artesanais da região, previsto inicialmente para a segunda quinzena de janeiro, acabou sendo adiado para o começo de março.

“Do ponto de vista da realização do Beba Local, previsto inicialmente para segunda quinzena de janeiro, em solidariedade às cidades que sofreram com as enchentes e pelo aumento dos casos de Covid e da gripe H3N2, suspendemos nosso planejamento e estamos adiando para primeira quinzena de março”, informa Casales.

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