fbpx
breaking news New

7 razões para explicar falta de medalhas para o Brasil na World Beer Cup

Cervejarias nacionais não conquistam medalhas no evento da Brewers Association desde 2018

Pela segunda edição consecutiva, o Brasil deixou a World Beer Cup, uma das maiores e mais importantes competições cervejeiras do mundo, sem medalhas. Foram 307 premiações distribuídas para diversos rótulos do mundo, especialmente dos Estados Unidos, com a falta de medalhas para os brasileiros servindo para levantar reflexões no setor.

Para entender e explicar o cenário de consecutivas edições sem medalhas para o Brasil, o Guia ouviu especialistas que elencaram alguns entraves no caminho até as premiações na competição norte-americana, também apontando saídas para essa situação.

Leia também – Brasil fica sem medalhas pela 2ª edição seguida da World Beer Cup

O campeonato promovido pela Brewers Association, a associação das cervejarias artesanais e independentes dos Estados Unidos, teve, em 2023, 10.213 rótulos inscritos por 2.376 marcas de 51 nações diferentes. Coadjuvante dessa vez, o Brasil já conquistou 11 medalhas na história da competição, que acumula 14 edições.

Veja a seguir algumas das razões que podem explicar o fato de as cervejarias do Brasil não terem sido premiadas na World Beer Cup em 2023 e como mudar esse cenário no próximo ano:

1) Distância territorial e logística
Ao considerar a participação em eventos internacionais, muitas cervejarias precisam lidar com a distância territorial entre o local de produção e o palco da competição. Assim, o desafio, para as cervejarias participantes, com o envio das amostras do Brasil até os Estados Unidos é um fator que precisa ser considerado.

“É uma disputa cada vez mais acirrada, na qual cervejas que viajam menos para estar no concurso têm mais chances de premiação, tanto é que nas duas últimas edições do concurso a maioria esmagadora das cervejas premiadas era de norte-americanos”, comenta Fabiana Arreguy, jornalista e beer sommelière.

2) Baixa adesão das brasileiras
Diante da distância e dos custos elevados, a baixa adesão das cervejarias brasileiras é um outro fator a ser analisado. Apesar de números detalhados não terem sido divulgados, o cenário indica que a competição vem atraindo poucas marcas brasileiras, na comparação com edições anteriores.

“Houve uma redução de 60% nas amostras enviadas pelo Brasil nos últimos dois anos. De cerca de oito pallets de 2018 e 2020, ano que chegamos a enviar as amostras antes do concurso ser cancelado pela pandemia, esse volume caiu para cerca de três este ano e no ano passado”, comenta Gilberto Tarantino, presidente da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva).

Essa baixa adesão das cervejarias brasileiras à competição norte-americana é reflexo do câmbio desvalorizada e da crise financeira. “São poucas as cervejarias brasileiras que inscrevem suas cervejas, seja porque não acreditam que possam ganhar, seja porque é muito caro enviar as amostras para os EUA”, explica Fabiana, também citando que marcas estão sendo mais seletivas na definição da participação em concursos internacionais. “Isso faz com que as cervejarias brasileiras optem por um ou dois apenas por razões financeiras”, completa.

Para aumentar as chances das representantes do país, a Abracerva definiu que as cervejas medalhistas de ouro na etapa nacional da Copa Cerveja Brasil ganharão a inscrição no evento, em um acordo com a Brewers Association e que será viabilizado também por meio de apoiadores e parceiros.

“As inscrições já estão abertas com preços muito subsidiados. Os medalhistas com ouro, prata e bronze nas regiões têm vaga na final nacional. E os medalhistas de ouro na etapa nacional vão ganhar a inscrição para a World Beer Cup de 2024”, diz Giba.

Publicidade

A colaboração da Abracerva para reverter este cenário também foi lembrada por Fabiana, citando a possibilidade de ocorrer uma etapa nacional. “Talvez se houvesse uma etapa da WBC aqui no país, as cervejarias se sentiriam mais confiantes em concorrer nos EUA”, comenta a jornalista e beer sommelière.

3) Nível elevado da competição
Outro fator importante é que a competição segue elevando seu nível a cada edição, sendo uma referência global, o que torna mais difícil a luta pelas medalhas. “O altíssimo nível da World Beer Cup é outro ponto a ser considerado. É o maior, mais isento e o concurso de maior repercussão no mundo. Com menos amostras, a chance de trazer medalhas é de fato menor”, afirma Giba.

4) Crescimento do número de participantes
Participante do júri da última edição da World Beer Cup, Fernanda Meybom, engenheira química e sommelière de cervejas, reforça que o número de cervejas participantes – cerca de 12 mil – torna a tarefa de ganhar uma medalha ainda mais complicado. “As cervejas premiadas passam pelo menos por duas ou três etapas até a decisão das medalhas. Mesmo uma cerveja que foi para a rodada de decisão de medalha pode não ter ganho por detalhe”, diz.

“É uma disputa grande, então por exemplo, vimos categorias que tinham mais de 400 cervejas concorrendo. Só esse já é número expressivo de amostras e também é um fator que temos de levar em consideração”, destaca Amanda Reitenbach, CEO do Science of Beer e que também esteve presente à World Beer Cup, lembrando que 400 cervejas chegaram a competir em uma categoria.

5) Repertório dos jurados
O repertório dos jurados é uma questão importante para ser lembrada, na avaliação de Amanda, destacando que cerca de 60% dos profissionais que avaliaram as cervejas eram norte-americanos. “Se o repertório deles tem mais exposição a lúpulos americanos e a ingredientes americanos, talvez isso seja algo que eles levem em consideração. Numa final, em que tem 12 amostras que são muito boas, cada um vai defender uma amostra específica de acordo com o seu referencial sensorial e com aquilo que ele entende que esteja adequado para aquele perfil de cerveja e de acordo com o guia de estilos”, explica.

6) Ser mais estratégico para participar da competição
Elaborar uma estratégia também é fundamental para quem deseja sair vencedor de qualquer competição. Para Fê Meybom, quem quer faturar medalha na World Beer Cup de 2024 precisa considerar alguns itens importantes.

“Conhecer bem seu produto, escolher bem o estilo da cerveja que será inscrito, avaliar a cerveja por profissionais previamente”, diz, lembrando que pode não ser na primeira participação que a cervejaria tenha sucesso. Por isso, ela recomenda a definição de um projeto a longo prazo. “Vi cervejarias levarem anos até conquistar a sonhada medalha”, completa.

Definir criteriosamente os rótulos enviados também é uma dica de Amanda. Ela pontua que o World Beer Cup avalia qualidade sensorial das bebidas e por isso sabendo o quão sensível é a cerveja, é ideal que as cervejarias enviem rótulos mais potentes. “Cervejas que sejam resistentes a essa viagem. Então, as sensíveis, que vão sofrer muito com essa viagem, não seriam cervejas para serem enviadas”, diz.

7) Necessidade de aumentar o intercâmbio
Em uma disputa tão acirrada, é interessante observar o que outros países têm feito para melhorar suas produções. A Argentina, por exemplo, depois de dez anos sem conquistar medalhas, faturou três nas duas últimas edições da World Beer Cup.

A Argentina está fazendo Sours muito bem. A gente tem que olhar interessado para isso e talvez buscar um intercâmbio para aprender o que eles estão fazendo nessas cervejas que estão indo bem. O que será que a gente pode aprender? Se a gente mudar o olhar, é mais proveitoso para todo mundo

Amanda Reitenbach, CEO do Science of Beer

0 Comentário

    Deixe um comentário

    Login

    Welcome! Login in to your account

    Remember me Lost your password?

    Lost Password