Pesquisas da USP mostram viabilidade do cultivo de lúpulo de qualidade no país
O cultivo de lúpulo tem se expandido no Brasil, uma realidade impensável em um passado recente, e pode atingir, com o passar do tempo, níveis de qualidade comparáveis aos de países tradicionais, como Alemanha e Estados Unidos. Essa constatação surge a partir de pesquisas conduzidas por um grupo de cientistas da unidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), que testou a viabilidade da produção de lúpulo nacional.
Um experimento que teve seu resultado publicado no European Journal of Agronomy testou quatro cultivares de lúpulo, destacando-se as variedades Cascade e Chinook, que apresentaram desenvolvimento satisfatório de acordo com parâmetros fisiológicos e de crescimento. As outras cultivares avaliadas foram Saaz e Triple Pearl.
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O estudo envolveu as faculdades de Ciências Farmacêuticas (FCFRP-USP) e de Filosofia, Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto, juntamente com o Institute for Plant and Food Research da Nova Zelândia, e foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Os resultados positivos obtidos com Cascade e Chinook motivaram uma investigação mais aprofundada sobre essas variedades, incluindo análises dos compostos presentes em seus óleos voláteis. Um artigo detalhando esse trabalho foi publicado na revista Química Nova.
“Comparamos os óleos de lúpulos produzidos em Ribeirão Preto com os de outros locais e concluímos que possuem os principais constituintes químicos encontrados no material comercial, em especial a partir do segundo ano de cultivo”, destaca o professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP de Ribeirão Preto, Fernando Batista da Costa, à Agência Fapesp.
Segundo o pesquisador, o estudo demonstra que alfa-ácidos e beta-ácidos, fundamentais para o amargor, e óleos voláteis, essenciais para aroma e sabor, estavam presentes, com melhorias significativas a partir do segundo ano.
A análise da composição química e do teor de óleo volátil das duas cultivares plantadas em Ribeirão Preto indicou que quase 40% das amostras apresentaram teores dentro da faixa esperada, “demonstrando um potencial na produção de óleo de acordo com o desenvolvimento da planta ao longo dos meses.”
De acordo com os estudos, o tipo de lúpulo utilizado pode ter um impacto maior nas características sensoriais da cerveja do que a origem geográfica da planta. Houve mais diferenças nos perfis químicos entre lúpulos de cultivares distintos do que na comparação entre os brasileiros e os comerciais do mesmo cultivar (Cascade e Chinook).
Costa enfatiza que as pesquisas demonstram a viabilidade de se produzir lúpulo de qualidade em solo nacional. “Em conjunto, os estudos revelam aspectos importantes para os produtores: do ponto de vista fisiológico, após dois anos de experimento, concluímos que é viável cultivar lúpulo nas condições climáticas tropicais de São Paulo, pois a planta apresentou boa resposta, como fotossíntese e presença de enzimas antioxidantes, incluindo a produtividade de cones”, afirma.
Experimento com o consumidor
Em um outro experimento, o grupo de estudo buscou entender se o perfil aromático dos lúpulos cultivados em Ribeirão Preto tinha a mesma aceitação dos importados, por meio de um teste de degustação envolvendo 100 consumidores. O estudo, publicado no International Journal of Wine Business Research, foi conduzido por pesquisadores da FCFRP-USP e da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da USP.
Dois pesquisadores produziram cerveja com lúpulo Cascade e Chinook de Ribeirão Preto e o equivalente importado dos Estados Unidos, em quatro lotes. As amostras produzidas com lúpulo cultivado localmente receberam pontuações mais altas na avaliação dos consumidores.
“A origem do lúpulo provou ser significativa ao afetar as avaliações sensoriais e hedônicas dos participantes. Também foi confirmado o efeito da localidade no cultivo de lúpulo, uma vez que as pontuações de gosto de homens e mulheres foram maiores para a amostra produzida com lúpulo cultivado localmente”, conclui o artigo.
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