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Entrevista: Coca-Cola deveria inspirar relação entre cervejarias e colecionadores

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Na avaliação de especialista, indústria desperdiça boa oportunidade de valorizar sua marca ao não apoiar colecionadores

A relação entre produtores e colecionadores de itens de bebidas não é boa, com a indústria lidando com esse nicho com descaso e desperdiçando um “marketing gratuito” que poderia reforçar o valor de sua marca. Essa é a avaliação de Carlos Alberto Tavares Coutinho, colecionador de itens de bebidas desde 1994 e responsável pelo site Cervisiafilia.

Em entrevista ao Guia, Carlos Alberto aponta que o colecionismo pode ajudar na consolidação do mercado nacional de cervejas, pois faz com que as marcas se tornem mais conhecidas. Ele cita bons exemplos de outros países e nichos, como a Coca-Cola, para lidar com essa prática.

“A Coca-Cola adotou a estratégia do colecionismo de brindes como uma maneira de possuir e reter uma base de consumidores devotados, criando um ambiente de contato mais amplo entre produto e cliente, além daquele estabelecido pela gôndola do supermercado”, diz o colecionador.

Confira, a seguir, a entrevista completa com Carlos Alberto Tavares Coutinho, colecionador de itens de bebidas desde 1994 e responsável pelo site Cervisiafilia.

O que seria exatamente o colecionismo?
O ato de colecionar é um hobby que consiste em guardar e organizar objetos relacionados a um determinado assunto. O colecionador investe muito tempo e dinheiro na atividade de colecionar e de manter a coleção. As pessoas colecionam coisas por diversos motivos. Geralmente, no entanto, dois motivos se destacam de todos os outros: hobby (passatempo, diversão) e comercial, onde um dificilmente admite o outro. Se for hobby, haverá grandes despesas; se for comercial, gerará grandes lucros (embora fazer trocas e comercializar itens repetidos ou fora da coleção é um meio de controlar um pouco essas despesas). Poucos colecionam por motivos educacionais ou, ainda, para estudos históricos e/ou geográficos.

Como funciona este nicho de colecionismo cervejeiro no país?
No Brasil não há propriamente um “colecionismo cervejeiro”. Há, sim, um colecionismo de itens de bebidas, que engloba todo o material relacionado com a indústria de bebidas, isto é, todo material autêntico que tenha a marca ou o logotipo estampado, seja do produto ou da indústria, no próprio produto, na embalagem, em propagandas, etc. Mais especificamente, isso inclui bandejas, placas luminosas ou não, latas, anúncios, garrafas, rótulos, copos, porta-copos (bolachas), torneiras, abridores de garrafas, canecas, brindes, etc. Um conjunto quase infinito de objetos.

Quanta gente envolve o colecionismo de bebidas no país? Quem são, como atuam e onde estão concentrados os principais colecionadores?
Os colecionadores brasileiros existem em número bastante representativo, mas necessita-se de uma pesquisa para quantificá-los. Eles estão espalhados por todo o país, são na sua maioria do sexo masculino, mas a minoria feminina com suas coleções de copos, bolachas e tampinhas já está quase alcançando numericamente os homens. A grande concentração de colecionadores é nas regiões Sul e Sudeste, mais especificamente nos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro, onde também estão concentradas as principais associações de colecionadores: Brasil Chapter, RioLatas e Tchêrveja.  Nos estados do Paraná, Santa Catarina e principalmente Minas Gerais, o colecionismo de itens de bebidas vem crescendo geometricamente.

Em geral, quais os principais itens cervejeiros procurados pelos colecionadores?
No Brasil, neste ramo de colecionismo, é difícil encontrar um colecionador que se dedique a um só tipo de item. E mais raro ainda é encontrar mais de dois que colecionem os mesmos itens. A maioria se dedica ao colecionismo de embalagens cheias ou vazias (latas, garrafas, barris, etc.) e, como é grande o espaço que a coleção ocupa, acaba fugindo de uma norma do colecionismo que é expor, passando a guardar em caixas ou migrando, aos poucos, para coleções mais brandas, tais como tampas ou rótulos, as preferidas do público feminino, que podem ser guardadas em pastas e classificadores que ocupam pouco espaço e permitem que se admire as peças. Quando o colecionador resolve parar com um tipo de coleção, isso às vezes acaba virando um problema pois, se vender a coleção inteira, jamais chegará ao que gastou; e, se vender por unidade, acabará ficando com uma coleção menor e com itens que ninguém quer.

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Quanto chegam a custar esses itens e como os colecionadores fazem para obtê-los?
Os itens chegam a custar algumas centenas e até alguns milhares de reais, principalmente itens estrangeiros quando comprados através do E-Bay. Dentro do país as peças são adquiridas por trocas e compras de particulares ou negociando em lojas especializadas em colecionismo ou antiguidade, por lojas virtuais, por grupos em redes sociais, por sites de livre comércio, etc. E mesmo itens de baixo valor acabam tendo seu preço muito acrescido em função das tarifas dos Correios.

Como você avalia a relação entre cervejarias e colecionadores? A interação é boa? Por quê?
A relação entre os produtores e os colecionadores de itens de bebidas não é boa, com as indústrias espelhando um certo descaso, talvez até desprezo, pelo ato de colecionar ou pelo próprio colecionador. Apesar de haver raras exceções no tratamento, a maioria considera o colecionador um “pedinte” que não deverá ser atendido. Há exceções, sim, como as empresas que enviam sob pedido o set de tampinhas com desenhos internos ou enviam aos colecionadores cadastrados as novas latas comemorativas de algum evento. Ou, ainda, algumas micros que já descobriram ser este um veículo de propaganda de seus produtos.

É até compreensível essa forma de comportamento, considerando o tamanho das empresas de bebida no Brasil, onde as grandes empresas ignoram os colecionadores (são uma pequena parte de seus consumidores) e as pequenas, que não têm tempo a perder com quem pede itens, não possuem pessoal para esse atendimento, além de ser um material de que não podem dispor e de um gasto desperdiçado com os Correios.

Há ainda uma situação onde os colecionadores fazem pedidos de doação de itens e, em função das pequenas não atingirem suas localidades de moradia, a compra dos produtos torna-se impossível.

E o que fazer para essa relação se tornar mais sólida?
Para o caso das micros, que normalmente têm um ponto de degustação, poderiam fazer um atendimento da seguinte forma: a venda de itens colecionáveis “virgens”, isto é, antes de serem usados, e a doação de itens já usados, cobrando a tarifa dos Correios. Talvez seja uma solução para um melhor relacionamento entre os colecionadores e a indústrias.

De que maneira o colecionismo pode ajudar na consolidação do mercado nacional de cervejas?
Como o carro-chefe do colecionador de itens de bebidas é a embalagem e/ou suas partes, que é o principal recurso comunicativo entre o consumidor e a marca, ele se torna um dos pontos fortes de contato direto com o público-alvo. Tomando como base o Colnect, um site que permite gerenciar uma coleção pessoal, há o registro em tampinhas de garrafa de 1.292 colecionadores em 195 países. E, em rótulos, de 395 colecionadores em 65 países.

Os colecionadores fazem com que as marcas, de bebidas ou de fábricas, sejam mais visíveis no mercado. Eles aparecem frequentemente em programas de televisão e na mídia, de modo geral, mediante convenções e encontros de colecionadores, além de escreverem sobre o assunto. Tornam as marcas conhecidas no país e até as tornam conhecidas em outros países. Como as indústrias terão de pagar altas somas de propaganda para se tornarem visíveis no mercado, com a política de ignorar os colecionadores elas perdem uma parcela de propaganda grátis e, assim, uma parcela de dinheiro que poderia ser gasto em outras coisas.

Que países poderíamos tomar como exemplo para entender como o colecionismo pode potencializar o mercado? Por quê? O que existe de especial neles e o que poderiam nos ensinar?
Nos Estados Unidos, o colecionismo é tema discutido em várias escolas e universidades. Lá, cada Estado tem o seu clube de colecionadores. A maioria de países europeus, como Alemanha, Polônia, Áustria, Espanha e Itália, e países sul-americanos, como Argentina, Chile e Peru, têm o colecionismo como coisa séria. Seus clubes de colecionismo fazem eventos, promovem e até vendem produtos e propagam as marcas aos quatro cantos do mundo.

O colecionismo é um hábito saudável e apropriado que não prejudica o funcionamento global da pessoa e tem função de entretenimento e socialização com outros indivíduos com os mesmos interesses. As pessoas começam a colecionar, em geral, de forma acidental. Escolhem um objeto por acaso, sem a intenção de fazer uma coleção. Por exemplo, ganham um presente ou acham um objeto em suas coisas, o que funciona como uma semente: a partir de determinado momento a coleção começa a “germinar”, e a pessoa parte em busca de novos itens.

A Coca-Cola adotou a estratégia do colecionismo de brindes como uma maneira de possuir e reter uma base de consumidores devotados, criando um ambiente de contato mais amplo entre produto e cliente, além daquele estabelecido pela gôndola do supermercado. A marca cria um relacionamento que se situa além da lealdade, residindo na intimidade e na posse.

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