Exclusivo: Os planos da Ambev e sua visão sobre os mercados de puro malte e artesanal
A Ambev viveu momentos antagônicos nos últimos meses. Embora sua capacidade em se adequar ao novo mercado cervejeiro – composto por um público interessado em rótulos diversificados e artesanais – tenha sido questionada por bancos e consultorias, seus resultados financeiros surpreenderam positivamente no primeiro semestre de 2019.
A reportagem do Guia, então, interessada em compreender o momento e a visão da empresa sobre esse novo mercado, procurou a multinacional cervejeira para fazer uma entrevista. A Ambev, porém, optou por apresentar uma visão institucional dos questionamentos, sem a especificação de um porta-voz.
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De acordo com o balanço recente, a Ambev teve lucro líquido ajustado de R$ 2,712 bilhões no segundo trimestre de 2019, resultado 16,1% superior ao do mesmo período de 2018, tendo sido impulsionado principalmente por uma diminuição das despesas financeiras. O lucro líquido ajustado, por sua vez, foi de R$ 2,616 bilhões, uma alta de 16,8% na comparação anual.
Além disso, o balanço da Ambev indicou o aumento no volume de cervejas vendidas no Brasil no segundo trimestre de 2019, para 18,25 milhões de hectolitros, 2,9% a mais do que o mesmo período do ano passado.
A partir desses números e do posicionamento da Ambev, o Guia destrinchou os resultados, detalhou os planos e trouxe seu ponto de vista sobre os mercados de puro malte e artesanal. Confira.
O desempenho das marcas premium
A Ambev avalia que os bons resultados financeiros do segundo semestre têm relação direta com o investimento em inovação e no seu robusto portfólio, apontando a participação decisiva das suas cervejas premium para os dados positivos do balanço.
“O segmento de cervejas premium impulsionou o crescimento da companhia, com bom desempenho especialmente no portfólio global, em marcas como Budweiser, Stella Artois e Corona”, aponta a companhia, detalhando o desempenho de suas principais marcas.
“No primeiro trimestre, a Budweiser, por exemplo, foi a marca premium mais citada nas redes sociais do Brasil, com um aumento de 100% nas menções graças às campanhas para o Dia Internacional da Mulher, SuperBowl e Lollapalooza. Outras marcas, tanto nacionais quanto internacionais, que apresentaram bom desempenho foram Stella Artois, Corona, Original e Serramalte”, acrescenta a Ambev.
Com as suas marcas premium, a Ambev parece ter adotado uma estratégia clara: associar rótulos como Stella Artois, Corona e Budweiser a grandes eventos e ações relevantes, além da busca por experiências “únicas” para os seus consumidores.
“A Stella Artois manteve crescimento no primeiro trimestre, com a expansão de novas embalagens, como a garrafa de 550 ml e a versão em lata, e a realização de eventos como o Villa Stella Artois, no Rio de Janeiro”, afirma a Ambev, destacando em seguida a forte ligação da Corona com a natureza, seja pelo apoio a um esporte associado a ela, o surfe, seja por ações ambientais.
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“A Corona mais que dobrou seus volumes, nos dois trimestres consecutivos. A marca anunciou parceria com a “Parley for the Ocean”, que inclui ações de conscientização e limpeza em 20 praias do Brasil em 2019, com o campeão mundial de surfe Gabriel Medina. No segundo trimestre, a Corona também protagonizou uma das mais bem-sucedidas campanhas da Ambev em 2019: a Listen to the Ocean, cujo objetivo era chamar a atenção para os problemas ambientais causados pelo despejo de plástico nos oceanos”, diz.
A Budweiser, por sua vez, se associou de maneira bem-sucedida a alguns dos principais eventos esportivos do primeiro semestre. “A Budweiser manteve sua estratégia de oferecer experiências aos consumidores, com a NBA House, que transmitiu as finais do campeonato da liga norte-americana de basquete, e o Bud Basement, que voltou para a Copa América 2019, após sucesso obtido na Copa do Mundo de 2018”, explica a multinacional.
O desempenho das marcas tradicionais
Ações de marketing envolvendo suas marcas tradicionais, segundo a Ambev, também tiveram bom desempenho e foram importantes para consolidar os números favoráveis. A Brahma, por exemplo, fez parte das apostas da cervejaria em eventos de entretenimento, musicais e esportivos.
“O destaque da Brahma no segundo trimestre, por sua vez, foi o lançamento do reality show ‘O Próximo Número Um’, produzido para redes sociais em parceria com o Villa Mix Festival. O programa já é o maior reality show para redes sociais produzido no Brasil, com mais de 157 milhões de visualizações. A marca também estrelou uma nova campanha para a Copa do Mundo Feminina, com a jogadora Marta, e patrocinou a Copa América 2019”, detalha.
Além disso, a Ambev destacou o crescimento da “família” Skol como um êxito do primeiro semestre. “Outra frente em que a cervejaria tem apostado é a ampliação das famílias de produtos. A Skol, por exemplo, cresceu nos últimos três anos e agora conta com as versões Skol, Skol Hops e Skol Puro Malte. Assim, há opções para diferentes ocasiões de consumo.”
Os investimentos da Ambev
A empresa também ressalta que seus investimentos em tecnologia foram importantes para consolidar os bons números. “A Ambev é reconhecidamente inovadora, sempre com foco em utilizar novas tecnologias para manter o padrão de excelência e qualidade no processo produtivo”, aponta a cervejaria, para em seguida acrescentar.
“Tendências como inteligência artificial, automação e digitalização industrial são o caminho para qualquer empresa se manter competitiva em um mercado globalizado e dinâmico. Essas tecnologias permitem que a tomada de decisão seja mais assertiva e rápida e, portanto, fazem parte das apostas da Ambev para continuar inovando e aperfeiçoando seus processos”, comenta.
Para continuar em crescimento, a Ambev prometeu realizar investimento de R$ 2 bilhões no mercado brasileiro na produção de cervejas premium e puro malte, além de inovações. E tratou o anúncio da construção de uma fábrica de latas no interior de Minas Gerais como a primeira ação concreta nesse sentido.
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“A unidade estará localizada em Sete Lagoas (MG), ao lado de uma cervejaria já existente no município. A fábrica vai receber aporte de R$ 700 milhões, ao longo dos próximos três anos, e a previsão é que seja concluída até 2020. Esta é uma parcela do investimento de R$ 2 bilhões anunciado pela cervejaria, que já está sendo posto em prática”, informa a multinacional.
Puro malte e diversificação
A Ambev também tem apostado recentemente em rótulos puro malte, especialmente com novidades envolvendo as marcas Skol e Brahma Extra. A multinacional, porém, destaca que isso não significa uma priorização desse tipo de cerveja e acredita que há espaço no mercado para rótulos com diferentes sabores.
“A Ambev entende que, atualmente, os consumidores buscam variedade, para ter experiências com diferentes líquidos, em ocasiões distintas. Dessa forma, eles possuem suas marcas favoritas para o dia a dia, para a noite, para shows, praia, churrasco e assim por diante. Isso é um reflexo de como o mercado evoluiu ao longo dos anos, tornando-se mais complexo e amplo”, avalia a cervejaria.
Para atender a essas demandas, a Ambev detalha que aposta em um portfólio robusto, cujo objetivo é oferecer opções para os mais diversos gostos, perfis de consumidores e ocasiões de consumo. “A Brahma, por exemplo, possui sete variedades de líquido, o que permitiu crescimento acima da média da indústria no primeiro trimestre do ano”, aponta a empresa, reforçando sua aposta na diversidade.
“A estratégia de diversificar, dessa forma, se mostra acertada, porque confere ao consumidor mais opções de compra. Estamos muito bem posicionados neste aspecto, o que permite continuar colhendo bons resultados com todas as nossas marcas. Temos convicção de que há mercado para as cervejas puro malte e para todas as outras que hoje compõem nosso portfólio. Acreditamos na diversidade e na diversificação”, acrescenta.
A aposta na diversificação também se deu em iniciativas regionais no Nordeste, com o lançamento de um rótulo no Ceará, a Legítima. “No segundo trimestre de 2019, a Cervejaria Ambev lançou a Legítima, que será vendida no Ceará. Assim como a Nossa (Pernambuco) e a Magnífica (Maranhão), a Legítima é produzida com mandioca plantada por famílias de pequenos agricultores locais, fomentando a economia regional ao mesmo tempo em que oferece uma opção barata e de qualidade para os consumidores”.
A visão sobre o mercado de artesanais
Tendo realizado suas primeiras ações de impacto no setor de artesanais em 2016, quando adquiriu a Colorado e a Wäls, duas das mais renomadas marcas do segmento, a Ambev ainda enxerga esse mercado como incipiente, embora destaque o seu peso para a consolidação cultural da cerveja.
“A Ambev acredita que as cervejas artesanais ajudam no fortalecimento do mercado como um todo, fomentando a cultura cervejeira no país. Tanto é assim que a empresa entrou nesse segmento em 2016, com a aquisição das cervejarias Colorado e Wäls. Mas é importante dizer que a participação das artesanais ainda é pequena: cerca de 1% do mercado total brasileiro. Esperamos que ela cresça nos próximos anos – e estaremos preparados para ocupar um espaço de protagonismo”, diz.
A empresa também garante que tem trabalhado para fomentar o setor. “Em abril deste ano, a Ambev anunciou que abriria suas portas para cervejeiros ciganos – aqueles que não possuem estrutura própria. Trata-se da primeira ação do tipo, por parte de uma cervejaria brasileira de grande porte. A iniciativa acontece na primeira cervejaria do Brasil, a Bohemia, localizada em Petrópolis (RJ) – que também abriga o 1º Museu de Cerveja da América Latina”, afirma a empresa, antes de acrescentar.
“Além do simbolismo, a cervejaria possui equipamentos de ponta e toda estrutura necessária para produzir os mais variados tipos de receitas e rótulos. Além da produção, a Ambev oferece suporte para embalagens, distribuição e, até mesmo, direcionamentos para a participação em eventos relevantes do mercado cervejeiro. Os cervejeiros ciganos também contarão com a Nano Cervejaria da Bohemia, uma estrutura completa para a produção de 250 litros de cerveja, para testar e desenvolver receitas experimentais em chope”, complementa a Ambev.
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Ao ser questionada pelo Guia sobre como encara a matriz tributária do setor, tema de frequentes críticas por onerar em excesso às microcervejarias e impedir sua consolidação no mercado, a marca não respondeu a pergunta e reforçou que preferia não se posicionar sobre o assunto.
2 Comentários
Alisson
23 de agosto de 2019 at 14:22Só a Ambev acha a Budweiser premium. Essa cerveja é horrível
Marcos
23 de agosto de 2019 at 20:59Sou cervejeiro e apreciador da cerveja serramalte por ser uma puro malte incorpada e com creme persistente e cor cobreada!!!