Futuro das artesanais passa por adaptação e foco no consumidor, avalia consultor
Os últimos dias ficaram marcados entre as cervejarias pela divulgação de dados sobre o presente e o futuro do segmento. Enquanto o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) apontou que o país passou a ter 1.383 cervejarias ao fim de 2020, com um aumento de 14,4% no número de fábricas em relação a 2019, um levantamento da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva) revelou uma informação preocupante: 24% daqueles que responderam à pesquisa disseram ter grande risco de fechamento em 2021 por causa da pandemia.
Dentro desse contexto, a situação do mercado, as perspectivas para o cenário pós-pandemia e o futuro das cervejarias foram os temas da palestra de Filipe Bortolini, sócio da Beer Business, nesta quinta-feira, no último dia do Força Cervejeira, congresso promovido por Bräu Akademie e Abracerva e com apoio do Guia. E ele apontou que tudo passa pela adaptação a um novo contexto e a ampliação do foco no consumidor final.
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Para Bortolini, o setor pode manter a expansão que marcou os últimos anos. Mas será preciso lidar com os desafios impostos pela pandemia da Covid-19. Em sua avaliação, o segmento não está saturado e ainda tem muito a explorar no Brasil, sobretudo em regiões como o Nordeste, que ainda não abriga muitas cervejarias artesanais, mas tem alto potencial turístico e altas temperaturas, que favorecem o consumo da bebida.
Bortolini reconheceu que o forte impacto da pandemia não deverá terminar em 2021, em função do avanço lento da imunização no país, o que significa que alguns locais vão demorar mais para se recuperar. Outra questão é o aparecimento de novas cepas do vírus, o que provavelmente fará com que os governos mantenham as medidas de isolamento social. E tudo isso reflete em desafios para a sobrevivência dos estabelecimentos. “A gente sabe que têm muitas cervejarias fechando e muitas abertas porque não conseguem fechar.”
Entre as perspectivas negativas para as microcervejarias, Bortolini destacou a escassez de insumos e o valor elevado do dólar. Entretanto, entre as perspectivas positivas em relação aos insumos, ele lembrou que há um movimento das maltarias, de empresas que atuam com leveduras e da produção de lúpulo brasileiro. “O malte mais que dobrou de valor e o lúpulo também, o que tem um forte impacto nas microcervejarias. Então, isso é uma coisa que vai continuar em 2021, 2022. Quem sabe em 2023 a gente tem uma melhora.”
Outro desafio, apontou Bortolini, é a escassez de embalagens, tanto das garrafas quanto das latas. Até por isso, o sócio da Beer Business lembrou que cervejarias buscaram alternativas durante a pandemia, com o uso do PET, que, em suas palavras, “salvou muitas microcervejarias de quebrar”.
Além disso, Bortolini comentou que cervejarias perceberam a necessidade de firmar parcerias menos “ortodoxas” e de buscar novas oportunidades. “A gente vê a presença de growlers e PET em açougues, mercadinhos, lanchonetes. Onde tiver uma geladeira está valendo”, refletiu ele na sua palestra.
O sócio da Beer Business também citou que a pandemia trouxe outras perspectivas para as cervejarias, como o reforço das marcas, o aumento de consumo em casa, o marketing digital, o uso de aplicativos, a criação de sites próprios e os novos canais de delivery.
Mas também há desafios. Mesmo ao fim da pandemia, as pessoas devem buscar espaços mais abertos para consumo e lazer, o que gerará a necessidade de adaptação de muitos espaços. Outra questão importante é a consolidação do home office, que pode colocar fim ao happy hour e obrigar a reformulação de muitos locais. “Muitos bares abriram perto de grandes empresas e agora estão com dificuldades, zeraram o faturamento ou fecharam”, disse Bortolini.
Entre as alternativas colocadas nesse contexto para o futuro das cervejarias, ele destacou as parcerias e as vendas para os condomínios, as alternativas relacionadas com o foco na venda direta ao consumidor final, mesmo que hoje mais por delivery e e-commerce, e a aposta no “beba local” e nos brewpubs e taprooms como “condutores que vão levar o mercado adiante”.
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