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Balcão da Copa: Rússia vive revolução das cervejas artesanais

Grandes cidades russas, como Moscou e Kaliningrado (acima), têm uma forte cena artesanal (Foto: Aleksey Malinovski - Unsplash)

Como na maioria dos países, o mercado de cerveja na Rússia é dominado por gigantes internacionais. Mesmo nomes tradicionais como Baltika, dona de diversos dos rótulos mais consumidos no país, pertencem a multinacionais – a dinamarquesa Carlsberg, também responsável por marcas internacionais como Asahi (Japão), Tuborg (Dinamarca) e Kronenbourg (França). No entanto, uma verdadeira revolução das artesanais está em curso.

Cerveja Nacional, da Moskovskaya, em PET

Em maio, dois outros gigantes do mercado russo, que antes disputavam a segunda e a terceira posições em share no país, a AB InBev e o grupo turco Anadolu Efes, concluíram um processo fusão, concentrando ainda mais o mercado. A Heineken vem logo atrás.

Além das grandes internacionais, sobrevivem algumas grandes cervejarias de porte nacional (Moskovskaya Pivovarennaya Kompaniya, Ochakovo) e algumas regionais relevantes (como a Trekhsosenskiy, de Ulianovsk).

“A maior parte dos rótulos é de lagers leves e claras, ou escuras e filtradas”, afirma Dimitrii Drobyshevskii, editor do site russo de cobertura do setor Profibeer.com, ressaltando que não acredita serem muito diferentes dos rótulos produzidos pelas gigantes aqui no Brasil.

Confira aqui dicas de onde encontrar boa cerveja na Rússia

No início do século XXI, um segmento começou a ganhar volume: o das zhivoe, ou cervejas “vivas”. São do tipo helles, keller, dunkel e weiss que não passam por filtragem ou pasteurização. “Nem sempre são boas, mas apareceram no momento certo, quando o consumidor passou a demandar alternativas que parecessem mais naturais aos rótulos das gigantes” , conta Drobyshevskii.

Além do timming, o segmento se beneficiou da popularização de tecnologias de envase em garrafas PET, o que acelerou sua popularização em lojas de draft beer.

Queda na produção e artesanais fortalecidas
Apesar da revolução das artesanais, o cenário cervejeiro na Rússia não é tão favorável quanto parece. Na melhor das hipóteses é possível dizer que há uma estagnação nas vendas de cerveja nos últimos anos. Desde 2008 o departamento de estatística russo, Rosstat, afere quedas na produção anual do produto.

Em 2017, por exemplo, o volume de produção foi 2,4% menor do que em 2016, resultando em um encolhimento do mercado de 0,9%. Motivos não faltam: de 2016 para cá, Moscou adotou medidas de combate ao alcoolismo. Ficaram mais rígidas as restrições à publicidade, os impostos sobre alcoólicos subiram e foi proibida a produção e venda de cerveja em  PET com mais de 1,5 litro – o formato, até 2016, respondia por 42% do volume vendido no país.

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Já o movimento das artesanais, por outro lado, ganhou força por volta de 2008, quando apreciadores locais, até então mais familiarizados com rótulos tchecos e alemães, viajavam e passaram a conhecer rótulos europeus e norte-americanos.

“As pessoas passaram a se interessar por novidades, harmonização com pratos, os pequenos cervejeiros dominaram os estilos mais ligados ao artesanal. Assim,  bares especializados começaram a surgir nas grandes cidades”, conta Drobyshevskii.

Nessa época, uma microcervejaria “experimental” foi instalada nas dependências da Baltika, em São Petesburgo. Em oposição aos produtores domésticos, nela os cervejeiros tinham matéria prima abundante e nenhuma preocupação comercial, já que os rótulos eram distribuídos em eventos promocionais. A “oficina” da Baltika hospedou também interessados em pesquisar novas fórmulas – e, até hoje, é reconhecida com grande incentivadora da popularização das cervejas diferenciadas no país.

Apesar do crescimento, as artesanais correspondem uma parcela minima do mercado russo (por volta de 1%; deve chegar a 3% em 2020). E, como as marcas tradicionais, sentem os efeitos da regulamentação, da crise econômica e do enfraquecimento da moeda local. “Cerveja artesanal custa de 3 a 5 vezes mais caro do que as transnacionais e ‘vivas’”, pontua Drobyshevskii.

Assim como em outros países, não há definição exata para “craft beer” no cenário russo. Há quem defenda que a categoria inclua produtores de até 250 mil litros por ano, enquanto para a União do Malte, Cevada e Cerveja da Rússia, é possível falar em empresas que produzam até 3 milhões de litros anualmente. Dados do Catalogue of Russian Beer Producers 2018, editado pelo site journal.beer, ilustram o crescimento: em 2012, o número de cervejarias artesanais era de 582. Para a edição de 2018, foram contadas 1070 delas.

Matéria prima: um ponto crítico
Os desafios das cervejarias artesanais russas são semelhantes aos encontrados pelos pequenos por aqui: regulamentação difícil de se cumprir e dificuldades com a qualidade e preços de matéria prima. No que diz respeito ao incentivo oficial ao setor, a situação parece não ser tão promissora.

Está em estudo uma proposta para aumentar a fiscalização do volume produzido por cada cervejaria na Rússia, visando conter tanto a falsificação quanto a sonegação de impostos. A União do Malte, Cevada e Cerveja da Rússia já dá a batalha como perdida: seria uma questão de tempo, e a medida afetaria principalmente os menores, por conta dos altos custos de adaptação às novas normas.

Há uma crescente produção de lúpulos regionais ganhando espaço, mas a produção nacional supre menos de 5% do mercado. O malte utilizado no país também é predominantemente importado, apesar de maltarias afirmarem que já vendem 10% de sua produção para pequenas cervejarias. Quando se trata de cevada, no entanto, a participação da produção doméstica é maior: 1,5 milhão de toneladas são colhidas de 800 mil hectares plantados todo ano.

2 Comentários

  • Sady Homrich Reply

    11 de julho de 2018 at 01:12

    Oi! Parabéns pelo portal. Estão pautando temas bacanas com profundidade adequada.
    Chamo a atenção para um deslize no início da matéria sobre cervejas russas, onde citam multinacionais do ramo presentes na Rússia.
    A ‘Bresseries Kronenbourg’ é de Obernai, Alsácia, França, e não alemã. Pertence ao grupo Carlsberg.
    Abraços

    • guiadacerveja Reply

      11 de julho de 2018 at 13:33

      Obrigado pelo feedback e pela observação, Sady. Estamos trabalhando para levar informação de verdade sobre o universo cervejeiro e contamos muito com o retorno de nossos leitores para evoluir. Aproveitamos para te convidar para nos prestigiar também no facebook (facebook.com/guiadacervejabr/)e no Instagram (@guiadacervejabrasil).
      Grande abraço!

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