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Cerveja e sustentabilidade: Com que roupa eu vou?

Afinal, “com que roupa eu vou, para o samba que você me convidou?”

A letra de Noel Rosa, interpretada por grandes nomes da MPB, é a música de fundo para você ouvir enquanto lê este artigo sobre uma das principais perguntas que são respondidas diariamente pelas empresas quando decidem colocar um produto no mercado: em que embalagem entregar o produto ao consumidor?

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A embalagem tem diversos papéis muito importantes para que o produto chegue até as mãos do consumidor, seja para transporte, preservação de sabor, qualidade, assim como manter a integridade, suportar temperaturas diversas, entre outros. E no momento de colocar o produto no mercado, os objetivos sempre foram sobre como garantir a qualidade e comodidade a um custo competitivo. Com o passar do tempo, premissas de sustentabilidade começaram a compor a tomada de decisão sobre a embalagem para a cerveja. Ou seja, tipo e quantidade de matéria-prima utilizada, gasto energético, uso de água e a pegada de carbono de cada tipo de embalagem usualmente feita através da análise do ciclo de vida.

No quesito embalagem, o mercado de cerveja é um verdadeiro benchmark e vem inovando cada vez mais. Sua história é marcada por alto investimento em retorno e lavagem de garrafas, vendidas em engradados e trocadas pelo consumidor, que tem o benefício de pagar apenas o líquido. Este formato, essencialmente usado em garrafas de vidro retornáveis para cerveja, é referência em sustentabilidade e representa mais de 40% do mercado.

Se não vai de retornável, a lata e o vidro são as principais opções para que a cerveja chegue até o consumidor em embalagens de uso único. Mas apesar destes materiais protagonizarem as embalagens primárias (que estão em contato direto com o produto), ainda temos papel/papelão e plásticos para ajudarem no transporte dos produtos de forma segura em caixas, fardos ou mesmo logo quando saem das fábricas paletizados. Neste caso, entra a necessidade de recuperar estas embalagens através da logística reversa. Um termo bastante falado, mas pouco conhecido em sua essência.

Leia também – Cerveja e Sustentabilidade: Setor é protagonista no combate às mudanças climáticas

A logística reversa está muito bem definida pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída, em 2010 (lei 12.315), em seu artigo 33. Resumidamente, ele traz três aspectos fundamentais:

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  1. Deverá ser estruturado e implementado por fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes;
  2. Só pode ser contabilizado materiais após o uso do consumidor;
  3. Deverá ser realizado independente do serviço público de limpeza urbana.

Hoje, a obrigação que as empresas possuem é de recuperar 22% das embalagens de uso único colocadas no mercado, mas já é previsto no Plano Nacional de Resíduos Sólidos de 2022 que esta obrigação será de 50% até 2040. Para as latas de alumínio, que possuem um valor atrativo no mercado da reciclagem, as metas serão mais fáceis de serem estruturadas, com uma boa rastreabilidade. Já para o vidro, que protagoniza a solução retornável, estruturar a cadeia de recuperação será mais desafiador.

Para executar esta difícil e complexa estruturação, mais uma vez o setor cervejeiro se coloca no protagonismo ao buscar maneiras de desenvolver uma cadeia de logística reversa de verdade. Tanto Ambev como Grupo Heineken vêm construindo e avançando no relacionamento com diversas empresas especializadas em logística reversa estruturante. O destaque aqui se dá para diversas startups que conseguiram construir formas de se relacionarem diretamente com o público consumidor, garantindo rastreabilidade fiel do material recolhido e, principalmente, buscando a adicionalidade para conseguir compor as metas acima mencionadas.

Programas que geram incentivo direto ao consumidor que entrega seus recicláveis como Molécoola, So+ma e Triciclo; programas voltados para condomínios como Instituto Muda, ou programas que recuperam as embalagens em bares e restaurantes como a startup de tecnologia inteligente Green Mining são apenas alguns exemplos de iniciativas apoiadas pelas cervejeiras.

Vale destacar que logística reversa é um processo que deve cumprir os três requisitos apontados acima, portanto é indispensável haver uma rastreabilidade verdadeira desde o consumo até a usina de reciclagem, mas, principalmente, gerar adicionalidade e recuperar mais materiais recicláveis que antes.

Para uma logística reversa efetiva, o volume deve incrementar o que já se recicla hoje no país. Por isso, grandes marcas de cerveja vêm multiplicando programas que incentivam e conscientizam consumidores e estabelecimentos a fazer a correta separação e entrega das embalagens para reciclagem.

Hoje, a Ambev, em parcerias, possui coletores específicos para vidro em mais de 50 lojas da rede Minuto Pão de Açúcar e mais de 15 locais da rede Carrefour Express recebem embalagens de vidro e de plástico. Mesmo em locais distantes, como Chapada dos Veadeiros e Fernando de Noronha, o consumidor tem a sua disposição formas de encaminhar corretamente as embalagens de cerveja para a reciclagem.

E esta mudança de comportamento do consumidor é o principal desafio no Brasil visto que, segundo pesquisa Ibope, cerca de 75% das pessoas não separam seus materiais recicláveis. E mesmo dentre as pessoas que separam, 66% confessam não saber fazê-lo corretamente.

O desafio é muito grande, mas a vontade de fazer acontecer de verdade é um grande diferencial que vale acompanhar, aplaudir e incentivar a cada nova iniciativa desenvolvida pela indústria cervejeira.


*Rodrigo Oliveira é fundador da startup de logística reversa inteligente Green Mining, administrador de empresas pela FGV-EAESP, com mestrado em Sustentabilidade pela FGV.

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