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Rodrigo Sena Beersenses

Balcão Beersenses: A relação entre os vinhos espumantes e a cerveja

Você pode vestir roupa branca, amarela, azul, pular ondas, comer lentilha ou até mesmo usar cuecas novas. Há muitas tradições na festa do réveillon que trazem esperança para quem acredita. E àqueles que não acreditam também não ignoram: “vai que” justamente nesse ano em que eu uso uma bermuda azul eu fico bilionário? Não custa nada, né?

Mas nenhuma tradição de réveillon é tão simbólica quanto brindar a chegada do novo ano abrindo uma garrafa de espumante. É um ritual praticado há séculos por bilhões de pessoas em todo o mundo. Mas será que podemos manter esse ritual com outra bebida?

A resposta é sim. E te digo com qual bebida: a cerveja. Aliás, cerveja e espumantes têm muito mais a ver do que normalmente imaginamos. Tanto que os vinhos espumantes só existem hoje em dia graças à cerveja. Que me perdoem os sommelieres de vinho e os amantes da bebida, mas sempre é a cerveja que está à frente das inovações do mundo. E com o espumante não foi diferente.

A história diz que os vinhos feitos na região de Champagne no século XVII eram de má qualidade. Por lá, um tal de Dom Pierre Pérignon, monge beneditino da abadia de Hautvillers, estava bem insatisfeito com sua produção, porque o mosto ficava tempo demais fermentando nos barris e por isso o vinho não era muito bom.

Foi então que Pérignon mudou o processo, engarrafando os vinhos mais cedo. Isso, porém, causou um problema: como a fermentação continuava nas garrafas, o gás carbônico ficava retido, aumentando a pressão e causando explosões. Quase 90% da produção simplesmente explodia.

Buscando solução para o caso, os franceses foram até a Inglaterra, onde uma tecnologia de garrafas mais resistentes já havia sido desenvolvida. E adivinha por qual motivo? Por causa da cerveja. Como grandes cervejeiros, os ingleses já conheciam muito antes dos franceses os problemas que as fermentações nas garrafas causavam, e por isso tinham criado frascos bem resistentes à pressão.

Então o problema de Dom Pérignon foi solucionado com as garrafas inglesas de cerveja, as explosões pararam e o gás carbônico passou a ser incorporado pelo vinho, criando as bolhinhas no espumante. Durante mais de um século o processo foi aperfeiçoado até chegar ao resultado do champagne que conhecemos hoje.

A Brut
Claro que o champagne é uma bebida muito boa, isso ninguém discute. Cervejeiros da Bélgica se interessaram pelo processo de produção dos espumantes de Champagne (chamado método Champenoise), criando as cervejas Brut. Em 1791 foi fundada a cervejaria Bosteels, na região de Flanders, na Bélgica, que começou a produzir aquela que até hoje é a Bière Brut mais famosa do mundo: a Deus.

Na primeira parte da produção, a Deus é feita normalmente como qualquer outra cerveja, onde é produzido um mosto que se assemelha a uma Märzen. Depois, a cerveja é enviada para Reims, uma cidade da região de Champagne, onde recebe as leveduras e fica por um ano nas garrafas em cavernas passando pelo remuage (processo de rotação das garrafas). No final, a cerveja está tão seca e carbonatada quanto um espumante, mas com uma explosão incrível de sabores que os vinhos não conseguem alcançar.  

Por isso finalizo com uma dica: dá para manter a tradição do brinde de réveillon e inová-la ao mesmo tempo. Ao invés de usar um espumante, use uma Bière Brut.

A Deus é uma cerveja muito cara – a garrafa de 750ml custa em média R$ 350. Mas é mais barata do que um legítimo champagne, como um Veuve Clicquot, que custa em média R$ 500. E garanto que, com a cerveja, a experiência será mais extraordinária.

Independentemente da escolha, com espumante ou cerveja, desejo um Feliz Ano Novo a todos, com muita saúde e realizações em 2020! Cheers!


Rodrigo Sena é jornalista, sommelier certificado em tecnologia cervejeira com especialização em harmonizações e responsável pelo canal Beersenses

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