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Rodrigo Sena Beersenses

Balcão Beersenses: A diferença entre chope e cerveja é cultural e não técnica

Há uns 7 anos, fui almoçar em uma churrascaria, num sábado ensolarado, perto do Parque do Ibirapuera, em São Paulo. O dia estava perfeito para comer churrasco acompanhado de uma cerveja gelada. Então, eu perguntei ao garçom o que ele tinha de cerveja na casa. Eis que ele me respondeu que não tinha nenhuma cerveja, só tinha chope.

Me lembro bem desse dia porque esse fato gerou uma discussão na mesa: mas, afinal, qual a diferença entre chope e cerveja? Isso aconteceu muito antes de eu me aprofundar no estudo cervejeiro, antes de eu me tornar sommelier de cervejas profissional com certificação em tecnologia cervejeira. Então, na época, a dúvida ficou no ar.

Mas, depois de anos de estudo, eu finalmente consigo responder a essa dúvida de maneira direta: não existe diferença técnica entre chope e cerveja. O que existe é uma questão cultural brasileira ao usar o nome chope.

Tecnicamente, chope e cerveja são a mesma bebida
Os ingredientes usados são os mesmos, o processo de produção é o mesmo, a tecnologia é a mesma. Sim, tecnicamente, chope e cerveja são a mesma bebida, mas, nós aqui, no Brasil, nos acostumamos a chamar de chope aquela cerveja que está nos barris e é servida sob pressão via torneiras. E ainda dizemos que chope não é pasteurizado. Bem, pretendo esclarecer esses pontos a seguir.

Chope só existe no Brasil
Para mim, particularmente, essa questão cultural deve ser respeitada, mesmo sendo tecnicamente equivocada. Para nós, culturalmente aqui no Brasil, a diferença entre chope e cerveja é a forma de serviço. Em outros países há também termos diferentes para identificar a cerveja que é servida sob pressão em torneiras, como a expressão beer on tap (cerveja na torneira) muito usada nos EUA, ou draugh beer na Inglaterra (algo como cerveja fresca) ou ainda o nome fino que é muito usado em Portugal para pedir o que nós aqui chamamos de chope. 

Mas, de fato, o termo chope só é usado aqui no Brasil. É bem possível que algum brasileiro desavisado já tenha ido a algum bar mundo afora e pedido um chope e tenha recebido uma cara de dúvida infinita do garçom. Aliás, isso deve acontecer muito.

Acredita-se que o termo tenha origem em um antigo dialeto alemão onde a palavra schoppe significava caneca. Essa palavra, por sua vez, é derivada de outro termo, schoppen, que é uma unidade de medida de aproximadamente meio litro – mais ou menos como o pint, em inglês, que também é uma unidade de medida.

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Uma das teorias é a de que os imigrantes alemães, aqui no Brasil, quando queriam cerveja pediam um schoppe, e então os brasileiros, ouvindo aquilo, passaram a entender que aquele era o nome da cerveja que estava nos barris. Outra teoria diz que o nome chope teria sido criado na França e depois migrado para o Brasil. Eu, particularmente, acho que as duas teorias podem ter acontecido, concomitantes, inclusive.

A propósito, vale ressaltar que a forma correta de se escrever na língua portuguesa é chope, e não chopp. Aliás, o termo chopp em alemão significa picar. Acho que não deve ter muito a ver com cerveja…

A definição legal do chope
Há uma grande confusão técnica, na minha modesta opinião, na definição legal do que é chope no Brasil. O entendimento oficial por aqui é de que cerveja é pasteurizada e chope, não, como diz a instrução normativa 65, do Ministério da Agricultura, que regulamenta a produção e a venda de cerveja no país:

A expressão ‘chopp’ ou ‘chope’ é permitida apenas para a cerveja que não seja submetida a processo de pasteurização, tampouco a outros tratamentos térmicos similares ou equivalentes”, diz o parágrafo 5 do artigo 2 da regra.

Além de usar uma palavra que não existe na língua portuguesa, essa norma é confusa e tecnicamente equivocada, na minha opinião. Se formos seguir a regra, qualquer cerveja que seja pasteurizada e colocada em barris não pode ser chamada de chope, da mesma forma que qualquer cerveja envasada em garrafas e latas que não seja pasteurizada pode ser chamada de chope.

Mas isso é um erro técnico, já que existem cervejas que são colocadas nos barris e são pasteurizadas, assim como existem cervejas que vão para a garrafa que não são pasteurizadas. Portanto, dizer que chope não é pasteurizado e cerveja, sim, é confundir tudo.

E essa confusão chega até o dia a dia das pessoas, pois a grande maioria acha que a diferença entre chope e cerveja é a pasteurização. E, como vimos, é um equívoco pensar assim. Prefiro pensar na diferença única e exclusivamente pela forma de serviço, o que deixa as coisas tecnicamente mais corretas.

Bem, e depois de saber de tudo isso, você também pode ter suas próprias conclusões. Chame de chope ou chame de cerveja, o importante é que a bebida seja boa. Saúde, meus amigos!


Rodrigo Sena é jornalista, sommelier de cervejas especializado em harmonizações, técnico cervejeiro, criador de conteúdo para o YouTube e o Instagram @beersenses

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