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Balcão da Cilene: Da trilogia Desenhando Sonhos –
Saga primeira: Humanizar a humanidade

Nos idos de 1950, a educadora, pensadora, humanista, poeta e diplomata chilena Gabriela Mistral já dizia “La humanidad es todavía algo que hay que humanizar” (“A humanidade é ainda algo a humanizar”).

Nada mais oportuno que lembrá-la em tenebrosos tempos de cegueiras metafóricas. Pessoas que enxergam com olhos apenas. Pessoas que enxergam a si próprias apenas. E pior: que veem em si a perfeição divina. (Nada contra o divino, ao contrário. O divino existe para moderar o profano. E sabemos que qualquer ser humano tem um pouco de um e um pouco de outro…).

Nos últimos 10 mil anos, desde a revolução agrícola, vivemos mais e mais a dicotomia do “mágico e trágico”.

Em relativamente poucos milhares de anos, uma profusão de conhecimentos foi gerada e acumulada entre diferentes povos, etnias e gerações. Um imenso acervo cultural se fez de maneira a que saíssemos das cavernas e chegássemos até aqui. O lado mágico.

Paradoxalmente, entretanto, a avalanche de informações que nos alcança gera inúmeros estímulos. Alguns desses – o egocentrismo e a ostentação, por exemplo – podem nos fazer alienados e inconsequentes de nossos atos. Comportamentos patéticos e retrógrados que apontam para uma indisfarçável falta de visão. O lado trágico.

De nada adiantam os avanços tecnológicos se não tivermos plena consciência de nossa elementar natureza humana: somos seres sociais e somos uma grande fauna. O contato, a conexão, a coexistência e a estrutura social trazem saúde e equilíbrio à sociedade.

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Mas o que isso tem a ver com cerveja (certamente algumas pessoas já se perguntam…)? Ora, ora, tudo a ver. A cerveja e seus negócios se dão de pessoas para pessoas. As máquinas (sozinhas) não produzem, não vendem, não compram, não comunicam, não servem e não consomem. É preciso gente por todos os lados. É preciso gente lúcida (lê-se: “sem cabrestos, por favor”) – ou seja, seres humanos em todo seu pluralismo. Cerveja de todos para todos.

Como um lembrete importante para contribuir na longevidade dos negócios: “o dinheiro segue a visão. E a visão é humanista.” Não há outro caminho; esse é o único caminho para a existência humana. Do (ainda inevitável) capitalismo, que seja então um capitalismo inteligente.

Somos pura diversidade. Por coexistência, inclusão e representação, sempre. Temos diferentes vivências no tempo e no espaço. Exercitemos o senso de comunidade e encontremos o caminho do meio. (Vamos lá, comunidade cervejeira!). Educação para transformação e evolução ética. Com a equidade social (transversal), todos ganham muito – inclusive dinheiro.

Para terminar, dizer que todo este atrevimento vem de uma pessoa de pensamento quixotesco. O argumento pode ser visto até como liberdade poética, algo irrealista. Não me importo, porque essas palavras escritas me servem particularmente como exercício catártico. Entretanto, ainda assim, seria lindo se eu tiver seu apreço. Em meio à distopia, só mesmo a utopia.


Cilene Saorin tem se dedicado às cervejas, nos últimos 28 anos, por alguns cantos deste planeta. É sommelière, mestre-cervejeira e diretora da Doemens Akademie no Brasil

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