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Grupo Petrópolis aposta em “preço que o consumidor aceita” para ser competitivo

Diego Gomes, diretor e mestre-cervejeiro do grupo, revela os planos de crescimento da Petrópolis (Crédito da foto: André Santos)

Em meio a uma crise que levou o Produto Interno Bruto brasileiro a desacelerar 9,7% no segundo trimestre de 2020, o Grupo Petrópolis chamou a atenção ao inaugurar a maior das suas fábricas de cerveja. Foi em Uberaba, no interior mineiro, no fim de agosto, em uma ação que pode ser considerada ousada, seja pelo contexto de dificuldades para a economia nacional ou mesmo para a própria empresa. Uma postura que foi abordada pelo Guia na entrevista exclusiva com Diego Gomes, diretor industrial e mestre-cervejeiro da companhia.

O Grupo Petrópolis, afinal, se vê pressionado pela disputa que tem se tornado mais acirrada entre as multinacionais Ambev e Heineken pelo mercado brasileiro. Além disso, as dificuldades econômicas do país e o cenário desafiante para ampliação da presença no setor se somam aos problemas enfrentados pela empresa, que em 2019 teve o seu fundador, Walter Faria, preso.

Apesar disso, o Grupo Petrópolis optou por colocar em atividade a planta industrial em Uberaba, até por enxergar o mercado mineiro como fundamental para ampliar a sua presença no país. No estado, afinal, tem participação de apenas 9% no mercado, o que espera ampliar para ao menos a sua média nacional – 14,5% -, algo que pode ser alcançado pela produção regionalizada.

Para isso também – e não só em Minas Gerais – a companhia vai apostar em preços competitivos e na escolha mais acertada dos pontos de venda. O Grupo Petrópolis, que optou por não comentar sobre o dano à imagem provocado pelas acusações de corrupção envolvendo o seu fundador, após ser questionado pelo Guia nesta entrevista, também garante estar atento às mudanças no mercado provocadas pela crise do coronavírus, sendo a maior delas o aumento do consumo de cervejas em lata.

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As movimentações do Grupo Petrópolis, seus planos, visão do mercado e tendências foram alguns dos temas abordados na entrevista com Diego Gomes, diretor industrial e mestre-cervejeiro da empresa. Confira.

Qual é o peso da fábrica de Uberaba na produção cervejeira do Grupo Petrópolis? Qual a capacidade produtiva dela e a quanto chega a capacidade da empresa com a operação dessa nova fábrica?
A nossa nova cervejaria tem capacidade produtiva superior a 8,6 milhões de hectolitros de cerveja por ano – ou seja, são 860 milhões de litros de cerveja anualmente. São mais de 108 mil m² de área construída e números que a colocam entre as maiores do país, com certeza. É uma fábrica moderna, mas com um toque artesanal, capaz de produzir todos os estilos de cerveja possíveis, e isso será fundamental para o nosso crescimento, não só em Minas Gerais, mas em diversas outras regiões.  Nossa capacidade produtiva ganha um fôlego para seguir conquistando o mercado.

A fábrica em Uberaba é a primeira do Grupo Petrópolis em Minas Gerais e, imagino, facilitará o escoamento da produção dentro do estado. Qual é a importância de Minas Gerais para empresa e o impacto que essa inauguração terá? Há expectativa e metas de crescimento dentro do mercado mineiro?
Atualmente, Minas Gerais consome 14% de toda cerveja produzida no país. É, sem dúvida, uma região muito importante para o setor. Aliado a isso, Uberaba possui uma excelente posição geográfica com uma malha viária que facilita o escoamento para todo o Brasil. Outros pontos fundamentais foram o terreno com topografia adequada, o apoio irrestrito da prefeitura e a qualidade e abundância da água. Já temos, atualmente, mais de 9% de participação de mercado no estado e o grupo está presente em quase 650 municípios. Nosso objetivo é chegar, na região, aos 14,5% – que hoje é nosso share nacional. Temos um bom desafio pela frente, mas estamos mais do que preparados.

Haverá um foco específico na produção da indústria de Uberaba ou ela produzirá todos os rótulos do grupo? Isso inclui marcas artesanais, como Brassaria Ampolis e Black Princess?
A fábrica de Uberaba tem condições de produzir qualquer estilo de cerveja. O que determina o tipo e o rótulo que será produzido é, claro, o volume de vendas. As brassagens em Uberaba são de cerca de 110 mil litros, por exemplo. Inicialmente vamos produzir parte das nossas premium como Petra, Cacildis e Itaipava Premium, que são um sucesso de vendas e têm um volume condizente com nossa produção. Mas também teremos as mainstreams do mesmo estilo: Crystal, Lokal e Itaipava.

As obras da fábrica se iniciaram em meados de 2019, mas a sua inauguração ocorre em um momento de crise econômica, com recuo do PIB de quase 10% no último trimestre. Como isso impacta no grupo? Houve alguma mudança de planos por conta disso?
A crise econômica gerada pela pandemia, claro, também trouxe impacto ao setor cervejeiro. De início, em março e abril, os volumes caíram significativamente, mas depois voltaram a patamares de volume em uma margem próxima ao pré-covid. Uma questão interessante ainda está no reflexo do perfil de consumo, com vendas aquecidas nas embalagens descartáveis de alumínio. Mas, para nós, a razão para construir e continuar com as obras de Uberaba foi acreditar que essa crise irá passar e a nossa necessidade de ampliar a capacidade produtiva se mantém. Mesmo com a crise e uma retração do mercado, precisamos entregar mais nossos produtos nos PDVs para seguir o ritmo de crescimento.

Falando um pouco mais diretamente sobre comportamentos do consumidor, vemos que o consumo tem se concentrado mais nas residências em função da pandemia. Isso muda estratégias da cervejaria para atender essas alterações de comportamento? Se sim, quais?
O que se percebe é um crescimento acentuado de vendas em lata, com o maior consumo de bebidas em casa. Claro, ainda é incerto apostar que isso vai se manter com o processo de reabertura dos bares e restaurantes em algumas regiões. Mas, mesmo nesse cenário, conseguimos um bom desempenho. A Itaipava se manteve como líder de consumo nos lares do Nordeste, por exemplo, com 28,7%.

Importante também dizer que a crise – no entanto – não revolucionou o padrão de compra. O consumidor tem em mente um leque de marcas de sua preferência e, dentro desse grupo, ele leva em consideração a relação do melhor custo x benefício.  Mas, voltando a questão do perfil de consumo, a Petrópolis conseguiu atender bem a esse crescimento da venda de latas, adaptando o seu portfólio e alinhamento na linha de envase.

Além da crise sanitária e econômica no país, há também, nesse momento, a alta do dólar, que afeta o setor cervejeiro. Quais impactos já foram sentidos pelo Grupo Petrópolis? E como lidar com eles?
A desvalorização de nossa moeda trouxe, claro, mais um desafio ao setor cervejeiro nacional, que é ainda muito dependente de insumos importados e matéria-prima lastreada em dólar. A subida da moeda norte-americana agregou ainda mais ao já desafiador ano de 2020, mas estamos nos adaptando a essa pressão maior dos custos com uma operação mais efetiva e enxuta, e alinhando as readequações de margens, por exemplo. Ainda é cedo para termos os detalhes ou termos consolidadas respostas para essas questões, mas estamos acompanhando tudo de perto e os possíveis impactos no curto e médio prazo.

Atualmente se vê uma intensa disputa entre as duas principais concorrentes do Grupo Petrópolis no setor cervejeiro. Como se posicionar e mostrar a relevância de uma empresa que, inclusive, é a principal com composição 100% nacional nesse mercado?
Vamos seguir com a receita que fez do grupo a empresa que mais cresceu organicamente na última década: produto de excelência, no ponto de venda certo e com preço que o consumidor aceita pagar. Concorrência é bom pois faz com que nosso nível de competitividade e competência sejam cada vez maiores. E estamos prontos. O investimento em mais uma fábrica só reafirma isso: acreditamos no Brasil, em nosso potencial enquanto empresa de excelência e seguiremos crescendo.

Recentemente, o Grupo Petrópolis perdeu uma de suas figuras mais emblemáticas, o Roland Reis. Quais foram os principais aprendizados para você que ele deixa? Quais são os desafios e como é seguir sem ele?
Falar do senhor Reis para mim tem dois extremos. O primeiro é o vazio no peito de sua ausência, preenchido em seguida por uma alegria transbordante pela satisfação de ter estado ao lado de alguém que me adotou como filho e me ensinou não apenas como se faz cerveja, mas também com quais lentes um homem proposto a deixar um legado deve encarar o mundo. O Mestre dos Mestres, como nós o chamávamos, foi responsável pela formação de mais de 80% dos cervejeiros do grupo, e nos deixou o maior legado de sua vida: a luta e o amor pela cerveja. O desafio de seguir sem ele é ter que conviver com a saudade de sua ausência. Em todo resto, meu mestre pensou. Sendo assim, sua crença e sua jornada serão eternizadas.

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