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Rodrigo Sena Beersenses

Balcão Beersenses: Temos que discutir o indiscutível e desenhar com maçãs

Eu preferia estar escrevendo sobre cerveja, sobre estilos e harmonizações, sobre os bares e o mercado cervejeiro. Mas não há como deixar passar os recentes acontecimentos que expuseram toda a desigualdade da cultura cervejeira brasileira.

E sim, infelizmente, estamos perdendo o que temos de mais precioso para discutir um assunto que deveria ser indiscutível. Estamos dedicando nosso tempo e nossa energia sobre um problema que já foi equacionado na evolução humana.

Há pelo menos 200 anos a humanidade já descobriu que todas as pessoas são iguais, independentemente do gênero, da origem e da cor da pele. E, quando caiu a ficha dos poderosos que isso seria bom para a economia, as mudanças começaram a acontecer. Escravos foram libertos, mulheres ganharam poder e imigrantes foram aceitos.

Percebam que, quando essas questões foram colocadas em discussão novamente no mundo, no início do século 20, houve uma grande guerra, que fez com que praticamente 50 anos de evolução fossem perdidos. Portanto não sou eu que digo que é perda de tempo e de energia discutir o indiscutível, são os fatos.

E agora, em pleno século 21, somos submetidos à leitura de mensagens horrendas vindas de empresários, blogueiros, professores e profissionais gabaritados do mercado cervejeiro brasileiro, que se autointitulavam Cervejeiros Illuminati. Só para registrar, na Alemanha, em 1776, foi criada uma sociedade secreta que ficou conhecida como Illuminati, que pretendia difundir as ideias do iluminismo e ganhar importância política. E, nos dias de hoje, essas pessoas entenderam que seria muito bom inspirar suas ações em uma obscura sociedade secreta de 300 anos atrás. Compreensível, uma vez que os comentários divulgados revelam que essas pessoas possuem a mesma capacidade intelectual e cognitiva de um cidadão médio do século 18.

E, como esse grupo influenciou outras pessoas com esse pensamento, agora temos que dedicar esse tempo e essa energia para discutir esse assunto. Temos que desenhar com maçãs para essa gente entender que esse tipo de atitude não cabe mais no mundo atual. Mais um exemplo de perda de tempo e energia com isso é eu estar usando esse espaço nobre da mídia cervejeira para abordar esse tema. Mas, temos que fazer.

Então vamos desenhar com maçãs. Somos todos iguais. Somos pessoas com medos, anseios, alegrias e tristezas. Todos somos capazes de exercer todas as funções e todos precisam de reconhecimento e valorização financeira adequados. As pessoas podem fazer cerveja, as pessoas podem consumir cerveja, as pessoas podem estudar e falar sobre cerveja, independente da cor da sua pele, da sua orientação sexual ou do lugar que nasceram.

E se isso não faz parte dos valores individuais de algumas pessoas, que elas sejam sensibilizadas pelo bolso, que entendam que esse pensamento é importante para os negócios, que uma empresa que não pense assim está fadada ao fracasso. Ninguém (ou a grande maioria) quer consumir produtos e serviços de empresas racistas, machistas e homofóbicas. Esse é o mundo moderno, essa é a nova economia, esse é o século 21.

E se você ainda é daqueles que se acha muito superior por causa da sua raça, ou por causa do lugar onde você nasceu, recomendo que assista a um vídeo muito educativo.

Em 2016, a Momondo, um market place dinamarquês de hospedagens e passagens aéreas, produziu um vídeo bem didático mostrando que literalmente nós todos somos irmãos de raça. No vídeo é feito um rastreamento do DNA de diferentes pessoas com diferentes origens. Os resultados são impressionantes, vale a pena assistir. Espero que colabore com a formação da sua opinião sobre o assunto.

Rodrigo Sena é jornalista, sommelier certificado em tecnologia cervejeira com especialização em harmonizações e responsável pelo canal Beersenses

1 Comment

  • joca Reply

    15 de setembro de 2020 at 14:04

    parabéns pela forma que abordou o assunto.

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