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Entrevista: Restaurantes e bares deixarão de faturar até R$ 50 bilhões com coronavírus

Paulo Solmucci, presidente da Abrasel, prevê até quatro meses para bares e restaurantes recuperarem faturamento prévio à crise

A pandemia do coronavírus tem causado mortes no Brasil, deixado milhares de pessoas doentes e também provocado consequências e efeitos colaterais para a economia. Vista como medida mais efetiva para conter a propagação do vírus, a necessária quarentena adotada por vários estados, como o de São Paulo, permite apenas o funcionamento de serviços essenciais. Com isso, bares e restaurantes têm como única alternativa a realização de entregas para não ficarem completamente paralisados.

A medida impõe um duro desafio à sobrevivência desse setor, que já vinha registrando queda no movimento nas últimas semanas em função do resguardo voluntário adotado por uma parcela da população antes da determinação de isolamento forçado. Em entrevista exclusiva ao Guia, o presidente-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci, aponta que o segmento precisará do apoio governamental para seguir ativo ao fim da crise.

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Em sua estimativa, o coronavírus deve provocar uma redução nas receitas dos bares e restaurantes brasileiros em mais de R$ 40 bilhões. Além disso, ele prevê ao menos três meses de atividades em um cenário de normalidade para que o faturamento atinja o nível que antecedeu a chegada da virose ao Brasil.

Solmucci aponta, ainda, ser o setor de bares e restaurantes o mais fragilizado da economia nacional pelos efeitos da pandemia. E a atividade não conseguiria sobreviver por mais do que duas semanas de paralisação sem apoio estatal. Mas também exibe otimismo ao comentar a articulação com o governo federal, que estaria disposto a custear parte dos salários dos funcionários do setor durante o período de crise, além de ofertar outros incentivos para ajudar na retomada do segmento.

O presidente da Abrasel também revela a expectativa de relaxamento nas proibições impostas pela quarentena ao fim da próxima semana para minimizar os efeitos econômicos, uma medida que tem forte oposição de especialistas da área sanitária e de autoridades públicas pelo risco de ampliar a propagação do vírus entre a população brasileira.

Confira, a seguir, a entrevista completa com Paulo Solmucci, presidente da Abrasel.

Diante da pandemia do coronavírus, qual é a situação de bares e restaurantes no Brasil? E quais são as principais demandas do setor nesse cenário?
O setor compreende 1 milhão de estabelecimentos e gera 6 milhões de empregos, sendo 65% deles informais. O grande desafio nosso é manter a capacidade do setor assim que a quarentena estiver suspensa. Então, a nossa estratégia foi a de primeiro ir ao governo federal pedir apoio para o pagamento de salários. E a promessa é de que isso será atendido. Estamos buscando ajuda para o vale-transporte, garantias que a água e a energia não serão cortadas mesmo sem o pagamento das contas, a possibilidade de linhas de crédito sem restrição, com o acesso aos recursos do BNDES e outros. Quando você fecha uma loja de telefone celular, por exemplo, você tem um estoque. Mas, para o restaurante e o bar, esse estoque é perecível. É um desafio adicional ao nosso setor. O governo está atento a isso.

Como a Abrasel tem se posicionado para buscar apoios que minimizem os efeitos da crise para bares e restaurantes?
Na segunda-feira passada conversei com o presidente (Jair) Bolsonaro e o ministro (da Economia) Paulo Guedes. Conversei também com o secretário (especial de Previdência e Trabalho) Bruno Bianco. Hoje (quarta-feira, data da entrevista ao Guia) foi com o Carlos da Costa (secretário-especial de Produtividade, Emprego e Competitividade). Todos eles estão muito bem informados e conscientes que este é o setor mais afetado e com mais impacto social, pelo volume de emprego. As medidas que comentei são o apoio ao pagamento dos salários, parte como fundo perdido, parte como financiamento, linha de capital de giro, com o aval do governo federal.  A questão do vale-transporte é mais no âmbito do município, mas é possível que o governo federal intervenha. Tem a suspensão do corte de água e energia. Vamos buscar o apoio das grandes empresas para que os suprimentos sejam mantidos, até para que novos pedidos sejam atendidos, mesmo em um cenário de falta de pagamento. Há um diálogo forte dentro da cadeia produtiva para buscar soluções.

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Com a alta probabilidade de prolongamento do surto do coronavírus por algum tempo, como imagina que serão as próximas semanas para os bares e restaurantes?
Nós acreditamos que devemos encerrar o lockdown (o isolamento) horizontal, passando para o vertical, ou seja, com o isolamento de idosos e pessoas doentes, etc. Estamos apoiando e defendendo que a data determinada pelo (governador de São Paulo) João Doria de 7 de abril como limite dessa primeira decisão (da quarentena) se torne uma data nacional de encerramento do lockdown. Claro que tem alguma polêmica, o presidente não foi feliz (no pronunciamento de terça-feira), criou um certo desentendimento, um embate com os governadores da região Sudeste e isso dificulta muito. Mas já vimos o decreto do governador do Rio reabrindo um conjunto importante de atividades, como padarias e lanchonetes.

É possível estimar em números o tamanho da crise do setor provocada pelo surto do coronavírus?
Considerando que o lockdown não vai se prolongar muito além do dia 7, até porque seria impossível manter a atividade no mínimo operacional por mais tempo do que isso, nós imaginamos que ainda vai demorar de três a quatro meses para conseguir retomar o volume de vendas de antes da crise. E isso implicará na perda de um faturamento de R$ 40 bilhões a 50 bilhões nesse período.

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Como o setor pode chegar a um equilíbrio para que os empresários possam manter seus negócios e, ao mesmo tempo, o elevado número de empregados do setor não seja prejudicado?
O governo vai pagar por três meses o salário da pequena empresa (a medida ainda não foi anunciada). Isso é o mais importante. Sobre parcelar imposto, negociar aluguel, o pequeno empresário é muito hábil, desde que não tenhamos um queda não tão brutal quanto a que está acontecendo. A gente vai encontrar soluções, mesmo que com muito sofrimento. Muitos, lamentavelmente, não conseguirão ser exitosos, mas, infelizmente essa é a realidade do país e do mundo. Isso está acontecendo com vários restaurantes nos Estados Unidos, na Europa. Tem um estudo sobre a economia norte-americana sobre quanto cada setor aguentaria completamente fechado. E mostra que o nosso só suportaria 16 dias lá. No Brasil, não é diferente. Sem ajuda para pagar salário, o colapso e o caos social se dariam muito provavelmente já na próxima folha de salário.

De maneira geral, qual é a orientação da Abrasel para um bar ou restaurante? O que eles devem fazer – ou não fazer – em um momento tão difícil como esse?
Desde o início e até se antecipando, a Abrasel, há três semanas, tem um comitê para tratar dessa crise. O próprio governo nos reconhece como o setor mais organizado para propor medidas. Temos orientado o empresariado a não se precipitar, não demitir, não dar férias coletivas. Primeiro é tomar conhecimento das medidas de apoio e avaliar dentro desse contexto o que se pode fazer. Cada um tem a sua realidade, mas a orientação é para que ao menos até esta sexta-feira não se precipitem para tomar decisões. Ela certamente será tomada sem o conjunto de informações importantes sobre ações negociadas de apoio que vão ser promovidas tanto pelo governo federal como também por municípios e estados.

Como você imagina a retomada do setor de bares e restaurantes após o fim do surto do coronavírus?
Todo mundo deve estar muito atento, se alinhando e se preparando para uma possível suspensão do lockdown. O setor de bares e restaurantes não vai ter uma abertura total, a gente vai ter de garantir o cumprimento das recomendações, com um distanciamento entre as mesas de dois metros e de um metro entre as cadeiras. A grande medida a ser tomada pelo bar, pelo restaurante, é garantir que o estabelecimento esteja em condições seguras de receber o consumidor. Vamos ter a nossa capacidade de oferta limitada por mais um tempo, ainda que se encerrem os decretos que proíbem o exercício da atividade. E a auto-regulação e o cuidado com a população serão fundamentais para conquistarmos a confiança do consumidor de que ele está seguro para voltar a frequentar os bares e restaurantes.

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