Abracerva oficializa código de ética e abre debates para implementação em 60 dias
A Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva) deu um passo efetivo para contar com um código de ética. Após preparar um documento, a organização o divulgou em seu site oficial e realizou uma live nesta quarta-feira, apresentando os seus principais pontos e abrindo o debate para possíveis alterações e inclusões no material antes da sua implementação.
A criação do código de ética vem após uma série de atos preconceituosos envolvendo o setor cervejeiro nas últimas semanas, em ataques racistas que atingiram a sommelière Sara de Jesus Araujo e a cervejaria Implicantes, além de comentários sexistas sobre um rótulo da Cervejaria Nacional.
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Também nesta quarta a Abracerva definiu um cronograma para que o código de ética possa ser colocado em prática em cerca de 60 dias. Após apresentar o projeto, ela disponiblizou um formulário em seu site para que membros da comunidade cervejeira realizem suas sugestões ao documento, que aponta os princípios que vão nortear as decisões da associação e dos envolvidos com ela em questões de condutas.
Com as propostas em mãos, a associação irá discuti-las em um debate que já está agendado para 23 de setembro. Depois, em 27 de outubro, ocorrerá uma assembleia geral extraordinária para debate final, aprovação do Código de Ética da Abracerva e eleição da comissão de ética.
Rápida reação
Estimulada pelos casos de preconceito racial e sexista ocorridos no setor, a iniciativa foi uma ação do Núcleo de Diversidade da Abracerva, recém-criado pela entidade e coordenado por Nadhine França, colunista do Guia. O código contou, ainda, com a colaboração de André Lopes, sócio do escritório Lopes, Verdi & Távora Advogados, criador do site Advogado Cervejeiro, colaborador da associação e também colunista do Guia.
“É preciso ter um instrumento mais aprofundado para julgar comportamentos e poder fazer alguma sanção, corrigir rumos através dele”, apontou Carlo Lapolli, presidente da Abraceva, explicando o intuito do código de ética.
“É como se fosse um descritivo de algumas condutas. E não só sobre a diversidade. Mas também envolve questões concorrenciais, de comportamento dentro do mercado. Existindo alguma infração, pode haver alguma punição”, acrescentou o presidente da Abracerva na live desta quarta.
Dividida em seis páginas, a proposta de código de ética da Abracerva lida sobre a relação entre os membros da associação e com o público, além de destacar a necessidade de comprometimento com a diversidade, a inclusão, a equidade, o trabalho e a anticorrupção.
O código de ética da Abracerva também define quais são as infrações, como deve se dar a apuração delas e as penalidades que podem ser aplicadas. E a avaliação desses casos se dará por uma comissão formada por sete associados, previamente definidos.
“É um documento complementar ao estatuto, algo necessário, todas as associações têm. E uma evolução no sentido da profissionalização. A ideia é implementar questões que ainda não tínhamos na Abracerva”, explicou André Lopes. “Serve para disciplinar e orientar a relação entre associados, com a Abracerva e os clientes. Serve para orientar condutas, não é uma inquisição ou um tribunal.”
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A definição de um código de ética da Abracerva teve como inspiração o surgimento de um documento similar da Brewers Association, entidade que representa os interesses das cervejarias independentes dos Estados Unidos. Nesse caso, a medida foi adotada após a associação norte-americana ser criticada, por profissionais do setor e pelo público em geral, por não se posicionar enfaticamente em casos de racismo no segmento.
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